Salvador tem pré-campanha com prefeito em busca de marca e PT dividido

Capital baiana deve repetir embate entre União Brasil e PT, mas pode ter candidaturas de MDB, PL e PSOL

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Salvador

A eleição para a Prefeitura de Salvador, terceiro maior colégio eleitoral em disputa em 2024, caminha para reeditar o embate entre PT e União Brasil, partidos que se aproximaram na esfera nacional, mas seguem adversários ferrenhos na Bahia.

O xadrez político até a eleição, porém, pode trazer surpresas com as possíveis candidaturas do vice-governador Geraldo Júnior (MDB) e do ex-ministro João Roma (PL), além dos impactos de um PT dividido em uma disputa de bastidores entre aliados do senador Jaques Wagner e do ministro Rui Costa, chefe da Casa Civil do governo Lula (PT).

Bruno Reis com ACM Neto, em foto de 2020 - @acm neto oficial no Facebook

O prefeito Bruno Reis (União Brasil) deve disputar a reeleição e tentar solidificar nas urnas a hegemonia de dez anos do grupo liderado pelo ex-prefeito ACM Neto na capital. Com uma gestão sem grandes sobressaltos, ele trabalha para imprimir marcas próprias e consolidar sua liderança.

Seus principais trunfos são um grupo político azeitado e com capilaridade na cidade, um cronograma de obras para inaugurar até a eleição e aliados em três ministérios do governo Lula para buscar recursos. O histórico joga a seu favor: desde 2000, todos os prefeitos de Salvador foram reeleitos.

Adversários, por outro lado, preveem uma disputa mais dura pela prefeitura, com chances reais para a oposição. Avaliam que a gestão tem problemas em áreas como o transporte público urbano e veem o prefeito sob a sombra de ACM Neto.

Reis adota um discurso de dedicação à gestão e evita falar em reeleição. Já ACM Neto nega uma possível nova candidatura sua ao cargo, mas aliados dizem que ele pode encarar as urnas em caso de desgaste do atual prefeito. As chances de isso acontecer, contudo, são vistas como remotas.

No campo da oposição, a escolha terá a palavra final do governador Jerônimo Rodrigues (PT), que quer uma única candidatura na base aliada e com a definição de um nome já nos próximos meses.

A estratégia do grupo, mais uma vez, será a de vincular o nome do candidato ao presidente, repisando o mote "time de Lula" que deu certo em eleições estaduais, mas falhou nas últimas três disputas municipais na capital.

Ao menos oito nomes foram apresentados como possíveis candidatos ao cargo, mas dois despontam com maior visibilidade e estão com pré-campanha nas ruas: o vice-governador Geraldo Júnior e o ex-vereador José Trindade (PSB).

Presidente da Conder, estatal do governo responsável por obras de infraestrutura, Trindade tem a seu favor o histórico de oposição nos oito anos como vereador. Mas sua força política vem da proximidade com o ministro Rui Costa.

Aliados do governador veem esta pré-candidatura como uma tentativa de demonstração de força de Rui Costa, que enfrenta um cenário de adversidades em Brasília com críticas no Congresso e dentro do governo. Questionado sobre o apoio, Trindade desconversa.

"É uma honra ser lembrado [como próximo a Rui Costa]. Quem não gostaria de ter o apoio de um ministro do porte de Rui? Mas essa discussão sobre nomes não é para agora", afirma.

Há uma operação para filiar Trindade ao PT para concorrer ao cargo. Mas a estratégia sofre resistências no partido por ser um político sem trajetória na esquerda.

No entorno do senador Jaques Wagner, há uma preferência por apoiar um candidato de outro partido ou nome orgânico do PT, que mesmo em caso de derrota crie uma alternativa para o futuro.

Em abril, a direção executiva do PT de Salvador apresentou a socióloga Vilma Reis, o deputado estadual Robinson Almeida e a presidente da Funarte Maria Marighella como pré-candidatos do partido. Outra opção dentro da federação é a deputada estadual Olívia Santana (PC do B).

Presidente estadual do PT, Éden Valadares diz que o partido pode ter candidato próprio ou apoiar um aliado, e que decisão da estratégia caberá ao governador Jerônimo.

Ele diz que, se a decisão seja pela candidatura do PT, a preferência é por um nome orgânico da legenda e que apresente um programa de esquerda para a cidade.

"A filiação de quadros externos, por ora, está fora de cogitação", afirma Valadares, fechando as portas para uma possível "barriga de aluguel" no partido.

Desde a eleição de 2012, quando concorreu com Nelson Pelegrino, o PT não tem um nome natural para disputar a prefeitura de Salvador. Em 2016, apoiaram a deputada federal Alice Portugal (PC do B) e em 2020 foram buscar um quadro fora do partido, a então major da Polícia Militar Denice Santiago.

Com exceção de 2016, o PT disputou todas as nove eleições municipais em Salvador desde a redemocratização, mas nunca elegeu um prefeito na cidade. Para 2024, contudo, o partido se mostra otimista e diz ser possível construir um nome competitivo.

Salvador deve ser uma das prioridades do PT, que caminha para não ter candidatos próprios em cidades como São Paulo, onde há um acordo para apoiar Guilherme Boulos (PSOL), e Rio e Janeiro, onde os petistas devem subir no palanque do prefeito Eduardo Paes (PSD).

Em Salvador, dentre os nomes fora do PT, o vice-governador Geraldo Júnior corre por fora como uma possível solução de consenso. Com histórico de quatro mandatos como vereador, seu nome tem a simpatia do senador Jaques Wagner e o apoio de parcela do empresariado.

Geraldo diz que só disputa se houver unidade e afirma ser possível uma vitória na capital: "Não há favoritos, vamos ter um candidato competitivo."

Também são citados como possíveis candidatos a deputada federal Lídice da Mata e o vereador Silvio Humberto, ambos do PSB. O PSOL deve ter candidato próprio: o mais cotado é o servidor público e sindicalista Kleber Rosa.

No campo bolsonarista, o pré-candidato é João Roma, ministro da Cidadania no governo Jair Bolsonaro (PL) e candidato a governador derrotado em 2022. Mas há chance de composição com o prefeito Bruno Reis, mesmo com o histórico recente de rusgas entre Roma e ACM Neto.

"Tenho desejo de ser prefeito de Salvador, mas isso não é um imperativo. Mais do que colocar uma candidatura a qualquer custo, vamos buscar aglutinar forças", disse Roma em entrevista à Folha em abril.

A definição deve passar pelo cenário nacional, o que inclui as relações entre a União Brasil e o governo Lula, além de possíveis apoios a candidaturas do PL em cidades do interior da Bahia.

Outro nome do campo conservador é Padre Kelmon (PTB), candidato à Presidência que teve 0,07% dos votos em 2022 e ficou conhecido pelas dobradinhas com Bolsonaro nos debates. Ele afirma que a candidatura em Salvador é uma possibilidade: "A política é para servir. Se o partido assim quiser, estarei pronto."

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