GDias diz à CPI que teria sido mais duro na repressão e culpa PM por 8/1

Ex-ministro do GSI volta a afirmar que não recebeu dados de inteligência, apesar de diálogo com ex-Abin

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Brasília

O ex-ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) general Gonçalves Dias disse nesta quinta-feira (31) à CPI do 8 de janeiro que teria atuado com mais rigidez para evitar os ataques golpistas se soubesse da ineficiência dos agentes de segurança que atuavam na proteção da Esplanada dos Ministérios.

"Tendo conhecimento agora das sequências dos fatos, também da ineficiência dos agentes que atuavam na execução do Plano Escudo, seria mais duro do que fui na repressão. Faria diferente, embora tenha plena certeza de que envidei todos os esforços e ações", disse o militar, conhecido como GDias.

O general Gonçalves Dias, conhecido como GDias, ex-ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) do governo Lula (PT), depõe na CPI do 8 de janeiro no Senado Federal
O general Gonçalves Dias, conhecido como GDias, ex-ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) do governo Lula (PT), depõe na CPI do 8 de janeiro no Senado Federal - Pedro Ladeira/Folhapress

GDias foi chamado após pressão da ala bolsonarista da CPI. Ele disse à comissão que houve falhas na execução no "Plano Escudo" de defesa do Palácio do Planalto.

"O consórcio de ações e inações das forças policiais que não foram eficazes no cumprimento de atividades previstas no PAI [Protocolo de Ações Integradas, elaborado pela área de segurança do governo do Distrito Federal] levou àqueles eventos", disse.

O general se demitiu em abril do comando do GSI após a divulgação de imagens que o mostraram circulando no Planalto, na presença de golpistas. Ele afirma que estava encaminhando os invasores ao segundo andar do palácio, onde seriam presos.

"Saí por causa da divulgação imprecisa e desconexa de vídeos gravados no interior do Palácio do Planalto", afirmou.

O militar ainda tem dito que não recebeu informes de inteligência sobre possíveis ataques no 8 de janeiro.
O ex-diretor-adjunto da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) Saulo Moura da Cunha, porém, mostrou à CPI imagens que provam o envio a GDias, em mensagens de celular, de informações sobre a mobilização golpista.

A Abin chegou a citar, em relatório, que o general da reserva havia recebido os alertas. O militar mandou alterar o documento, como revelou a Folha.

"Eu trocava mensagens esporádicas com o senhor Saulo. Usava o WhatsApp do telefone pessoal. Em minha avaliação, essa troca de mensagens em aplicativo aberto de celular pessoal, não corresponde à forma de comunicação correta e institucional para transmissão de informações sensíveis sobre segurança nacional", disse ele.

Sobre a retirada de seu nome do relatório da Abin, disse que não mandou "ninguém adulterar nada, nenhum documento".

O general concordou em compartilhar dados de conversas do seu celular com a CPI.

GDias disse que recebeu informações divergentes na manhã do dia 8 de janeiro. Ele afirma que Cunha, da Abin, falou sobre a possibilidade de intensificação dos protestos, enquanto interlocutores da PM do DF e do próprio GSI disseram que a situação estava controlada.

Ele afirma que o general Carlos Penteado, então secretário-executivo do GSI, disse que ele não precisava ir ao palácio no dia 8, mas que decidiu se dirigir à sede da Presidência.

GDias contou que encontrou Penteado e que cobrou "com palavrão" sobre a falta de bloqueio da PM em frente ao Planalto. "[Penteado] Não deu resposta e saiu para montar o bloqueio."

O general disse que, mais tarde, viu os manifestantes chegando ao Planalto e rompendo o bloqueio policial. "Assisti o último bloqueio da PM-DF ser facilmente rompido antes que vândalos chegassem ao Planalto. Aquilo não poderia ter acontecido, só aconteceu porque o bloqueio da PM-DF foi extremamente permeável", afirmou GDias.

O general disse que teve "ímpetos de reagir, de confrontar", mas manteve "o autocontrole". "Tinha que cumprir a minha missão, não deixar que defasassem o núcleo central do poder palaciano, o gabinete do presidente da República, que fica no terceiro andar", afirmou.

"Foi um ataque único, inimaginável e inédito", disse ainda.

Presidente da CPI, o deputado Arthur Maia (União Brasil-BA) disse que o depoimento de GDias reforça que houve "incompetência geral" de forças de segurança.

"Não adianta ficar nessa conversa política, se foi culpa de a ou b", disse ele. "Todas erraram", afirmou ainda Maia.

O general teve embates na CPI com o senador Sergio Moro (União Brasil-PR) e o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG). Ele se recusou a responder a partes dos questionamentos feitos por Nikolas.

Parlamentares da oposição disseram, na CPI, que GDias sabia da possibilidade de ataques e foi omisso. "O ministro recebeu comunicações expressas de que haveria risco de invasão e depredação e não tomou as providências ali para se assegurar que tivesse, por exemplo, a presença de todo o batalhão da Guarda Presidencial no dia 8, antes das invasões", afirmou Moro.

Para parlamentares governistas, o erro do general foi manter a equipe do GSI que já atuava na gestão Bolsonaro. "Se houve falha sua, foi não ter exonerado herdeiros, viúvas do bolsonarismo que articulavam atos golpistas, disse a deputada Jandira Feghali (PC do B-RJ).

GDias disse à CPI que o governo do DF aprovou um plano de ação de segurança para os protestos em reunião no dia 6 de janeiro. Ele afirma que o GSI não foi chamado para essa conversa.

O ministro disse ainda que a Abin não enviou, por canais oficiais, relatórios de inteligência entre os dias 2 e 8 de janeiro.

"Somente após os atos antidemocráticos do dia 8, tomei conhecimento de que Abin havia adotado um grupo de troca de mensagens no aplicativo de WhatsApp", disse ele. GDias afirmou que representantes do centros de inteligência do Exército, Marinha e Aeronáutica, além do Ministério da Defesa e da Justiça participavam do grupo de mensagens.

O ex-ministro negou que tenha sido leniente com os manifestantes dentro do Planalto. Afirmou que não se gerencia uma crise "tocando fogo e jogando gasolina".

"Era preciso evacuar os manifestantes do prédio, prender o máximo de manifestantes possível e não permitir a escalada de violência, garantindo a integridade física dos presos com o mínimo de feridos e sem nenhum óbito. Eu estava desarmado e à paisana, havia saído de casa sem saber que tipo de situação encontraria e jamais esperei na minha vida aquela situação", disse ele.

O militar afirmou que deu ordens para evacuar o Planalto e prender os manifestantes. Disse ainda que foi ao terceiro andar, onde se localiza o gabinete presidencial, e encontrou três pessoas. Ele afirma que conduziu os golpistas ao segundo andar. "Eu havia determinado que as prisões fossem feitas no segundo andar", disse.

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