General na mira da PF por lobby junto a Braga Netto foi 25 vezes ao Planalto sob Bolsonaro

Datas das visitas coincidem com período em que Paulo Assis teria pedido uma 'força' a parecerista da Presidência

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Rio de Janeiro

O general da reserva Paulo Assis, investigado sob suspeita em fraudes em compras durante a intervenção federal da segurança pública no Rio de Janeiro, esteve 25 vezes no Palácio do Planalto no governo Jair Bolsonaro (PL), de 2019 a 2022.

Registros do acesso ao palácio mantidos pelo GSI (Gabinete de Segurança Institucional) mostram que parte das datas das visitas coincidem com dias em que ele teria interferido no governo em favor da empresa norte-americana CTU Security, segundo relatório da Polícia Federal.

O general Paulo Assis, investigado pela Polícia Federal, em entrevista canal Voz de Brasília, em 2020 - Reprodução / Voz de Brasília TV no youtube

A Operação Perfídia apura supostas ilegalidades na aquisição de coletes balísticos no gabinete de intervenção, comandada pelo general da reserva Walter Braga Netto, ex-ministro de Bolsonaro. A PF afirma que Assis usou o nome do ex-interventor para tentar destravar o negócio.

O general Paulo Assis não respondeu aos telefonemas e mensagens enviados ao seu celular. Braga Netto afirmou, em nota, que "os contratos do Gabinete de Intervenção Federal seguiram absolutamente todos os trâmites legais previstos na lei brasileira".

O Gabinete da Intervenção emitiu uma carta de crédito de R$ 35,9 milhões para a CTU Security em 23 de janeiro de 2019, que nunca entregou o material. O contrato foi posteriormente suspenso em 12 de setembro do mesmo ano após suspeitas na documentação da empresa.

Mensagens que constam no inquérito mostram que, logo após a suspensão, em 15 de setembro de 2019, representantes da CTU mantiveram contato com o general Paulo Assis. O militar afirmou que poderia atuar em favor da empresa norte-americana, a fim de destravar o processo.

O pagamento inicial pelo serviço, de R$ 50 mil, foi efetuado em 18 e 19 de setembro do mesmo ano. O acordo previa o pagamento dos R$ 250 mil restantes em caso de sucesso.

No dia 24 de setembro, a carta de crédito foi anulada. Seis dias depois, Assis foi ao Palácio do Planalto com destino à Secretaria de Controle Interno da Secretaria-Geral da Presidência. O órgão era o responsável pela análise do caso.

Assis retornou ao órgão em 26 de novembro. No dia seguinte, os irmãos Glauco e Gláucio Guerra, representantes da empresa norte-americana, voltaram a conversar sobre a atuação do general da reserva.

Glauco afirmou ao irmão que o general lhe disse ter falado com o parecerista do caso, Jorge Antônio Menezes, o questionando sobre a necessidade de conversar com o então vice-presidente Hamilton Mourão, o então presidente Bolsonaro ou o então ministro da Casa Civil Onyx Lorenzoni.

"Ele [Menezes]: 'Não, não, general. Espera até sexta. E graças a Deus o senhor veio aqui, que eu estava inclinado em dar um parecer negativo'. Palavras do general para mim. E obviamente ele não vai mentir. Ele esteve lá", disse Glauco ao irmão.

O general Paulo Assis, investigado pela Polícia Federal, apresentou o ex-vice-presidente Hamilton Mourão ao então presidente do PRTB, Levi Fidelix, em 2018 - Divulgação/PRTB

Assis retornou à Secretaria de Controle Interno na manhã do dia 13 de dezembro, onde ficou, segundo os registros do GSI, por 18 minutos. No mesmo dia, ele enviou mensagem a Glauco informando sobre a visita, segundo o relatório da PF.

"Estive hoje de manhã com o dr. Jorge Antônio, que é quem dará o parecer final, e me prometeu que ainda hoje iria se dedicar ao assunto e, na segunda-feira próxima, preparar o parecer jurídico e despachar com o ministro da Casa Civil [à época, Lorenzoni]", escreveu Assis a Glauco.

"Almocei também com o Gen Braga Netto, que me prometeu interferir a nosso favor. Portanto tudo bem encaminhado", finalizava a mensagem do general da reserva.

Paulo fez nova referência ao encontro com Braga Netto, à época chefe do Estado-Maior do Exército, em email enviado a Jorge Menezes, em 15 de dezembro de 2019.

"Estive num almoço na sexta-feira passada com o Gen Braga Neto e comentei sobre a liberação dos coletes de proteção balística para a Polícia do RJ, em estudo nessa Casa Civil da PR. Ele me disse que iria dar uma ‘força’ junto ao St para atender ao que pleiteamos. Bom fim de semana."

No dia 9 de janeiro de 2020, Glauco informa ao irmão que o general Assis iria se reunir com Lorenzoni para tratar do tema. Nos dias 14 e 15 daquele mês, o militar da reserva foi ao Planalto rumo à Casa Civil. Ele retornaria à pasta em 12 de fevereiro.

Lorenzoni afirmou que não se recorda de ter recebido o general. Afirmou também que não conhece a CTU Security e que "jamais aceitaria conversar sobre assunto de favorecimento de quem quer que seja".

As conversas sobre as tentativas de reativar o contrato se encerram em março de 2020, com a chegada da pandemia do novo coronavírus no Brasil.

Entre janeiro e julho de 2019, antes de frequentar a Secretaria de Controle Interno e a Casa Civil, Assis foi nove vezes ao gabinete de Vice-Presidência. Ele e Mourão são amigos há muitos anos.

Assis atribui a ele a responsabilidade pela união entre Bolsonaro e Mourão na chapa que venceu a corrida à Presidência, em 2018. Após a eleição, ele atuou como coordenador da transição da vice-presidência do governo de Michel Temer para Jair Bolsonaro.

"Nas inúmeras vezes em que esteve comigo os assuntos tratados foram em torno da política partidária e as ações do nosso governo. Conhecedor do meu modo de agir, ele em nenhum momento mencionou sua atuação em prol de qualquer empresa", disse Mourão.

O general também foi ao Planalto na gestão Lula por duas vezes. Em janeiro, esteve na Secretaria de Relações Institucionais, comandada pelo ministro Alexandre Padilha, e em março, no gabinete do então ministro do GSI, Gonçalves Dias.

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