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O que você pensava ontem já não pensa hoje, diz Lu Alckmin sobre aliança com Lula

Segunda-dama do Brasil se dedica a projeto social em Brasília e defende atuação de Janja no governo

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Brasília

Casada com o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) há mais de 40 anos, a segunda-dama, Lu Alckmin, 72, diz que em nenhum momento colocou dúvidas sobre a aliança que seu marido construiu durante a campanha com o presidente Lula (PT).

Isso mesmo o vice tendo sido uma das principais lideranças da oposição nos dois primeiros mandatos do petista, seja no Governo de São Paulo ou como candidato ao Planalto em 2006.

"A vida é isso, né? O que você pensava ontem você já não pensa hoje", diz.

A segunda-dama conversou com a Folha na paróquia Sagrado Mercês, em Brasília, onde foi inaugurado na semana passada o polo da Padaria Artesanal. Idealizado por ela quando primeira-dama de São Paulo, o projeto social pretende promover a inclusão por meio da capacitação de pessoas na área da panificação.

Dona Lu, como é conhecida, se esquiva quando questionada sobre temas polêmicos, como as trocas na Esplanada que resultaram na redução no número de mulheres no primeiro escalão do Executivo ou sobre o debate do aborto.

"É importante [a representatividade feminina no ministério], mas isso depende deles. Não participo de articulação política, então não posso responder sobre uma coisa que eu não sei", diz.

A segunda-dama do Brasil, Lu Alckmin
A segunda-dama do Brasil, Lu Alckmin - Pedro Ladeira/Folhapress

Quando foi a primeira vez que Alckmin falou para a sra. da possibilidade da chapa com Lula?
Foi bem no começo da campanha. Ele me explicou: "A gente era de campos opostos, de partidos opostos, mas a gente tem que se unir por um bem maior, pela democracia, pelo país". Achei maravilhoso. A vida é isso, né? O que você pensava ontem você já não pensa hoje. Se alguém te perguntar se você é diferente do que você era ontem e você responder "não, sou a mesma pessoa", então você não evoluiu.

Qual foi a sua reação?
Onde o Geraldo está eu vou. Tenho uma admiração tão grande por ele, confio tanto nele, que na hora que ele me falou, eu disse: "Geraldo, o que você decidir eu vou apoiar, vou estar junto".

Alckmin ficou em quarto lugar nas eleições presidenciais de 2018. Depois disso, voltou a atender pacientes, passou a dar aulas e participou de programa de televisão. Como foi esse momento?
Foi muito interessante. Ele é médico anestesista e foi fazer um curso de acupuntura. Ele trabalhava no Hospital das Clínicas [em SP] atendendo pessoas carentes, sem receber nada. Começou a dar aulas na Uninove para poder sobreviver. Foi uma época de conhecimento, para ele foi superbom. O Geraldo não desanima e é isso mesmo que acho que tem que ser, tocar para frente. De repente, surgiu o convite para ser o vice do presidente Lula. Ele aceitou e fomos juntos para a campanha, foi maravilhoso.

Viajamos o Brasil inteiro, me encantei com o Lula. Porque em cada lugar que eu ia, era muita gente. E quando ele falava, o povo olhava para ele, chorava. Por quê? Porque ele passa sentimento. Ele foi pobre, ele sentiu fome, sentiu frio, então é uma coisa que não dá para você fingir, se você não estiver sentindo essa empatia. Passei a admirar muito ele.

Com a notícia da possibilidade de formação da chapa presidencial, apoiadores de Alckmin fizeram muitas críticas.
Crítica é normal na nossa vida, porque ninguém é perfeito. É só você acreditar no que você está fazendo. Se você acredita, segue em frente.

Em nenhum momento a sra. colocou dúvidas sobre essa aliança?
Nunca. Lógico, pode não dar certo. Eu acho que deu certo.

A sra. atua no dia a dia do governo?
Meu foco é a Padaria Artesanal. Eu só passo tudo [demandas que recebo] para o Geraldo, porque é importante ele saber o que a população anseia. Ele tem muito mais experiência do que eu e encaminha tudo.

A sra. se define hoje como uma mulher de centro, de direita ou de esquerda?
Eu sou de amar o próximo, do diálogo.

Em 2022, o seu nome surgiu como possível candidata a deputada federal. Pretende se candidatar a cargos eletivos?
Nunca. Sempre falei que meu trabalho é voluntário, faço trabalho social e amo o que eu faço. É isso que eu quero e é o que me realiza. Acho a política importantíssima e que é muito importante ter mais mulheres na política. Mas eu jamais seria candidata.

Como a sra. enxergou as mudanças no governo que resultaram na diminuição de mulheres no primeiro escalão?
Nunca conversei, nunca entrei nessas articulações de campanha, de trabalho. Meu foco é a Padaria Artesanal.

Mas a sra. acha que é importante ter essa representatividade?
Acho que é importante, mas isso depende deles. Eu não participo de articulações políticas, então não posso responder sobre uma coisa que eu não sei, que eu não participo.

Como é a convivência da sra. com a primeira-dama Janja?
É ótima. Acho que ela representa as mulheres. Sou bem mais velha que ela, sou de outra geração, mas eu acho maravilhoso o trabalho dela. Ela representa nós, mulheres, pela luta dela pelas mulheres, contra o feminicídio, contra a exploração sexual de crianças e adolescentes. Ela tem lutado por mais mulheres na política e acho que ela nos representa muito bem.

Janja disse que quer reinventar o papel de primeira-dama. Como a sra. enxerga isso?
Acho muito importante ela [querer] requalificar isso. Ela luta para as mulheres terem a palavra junto, para elas participarem, entrarem na política, estarem atuantes.

A primeira-dama recebe críticas pelo que apontam como interferência dela no governo. A sra. acha que ela interfere?
Não acho. Ela está ao lado do presidente e ela é importante ao lado dele. Ela é a primeira-dama, é a companheira do presidente Lula, é quem está ao lado dele.

A sra. enxerga machismo nas críticas que ela recebe?
Não sei responder sobre isso. Minha mãe me ensinou que os cães ladram e a caravana passa. Todo mundo tem direito de fazer crítica e a gente tem que ouvir, às vezes podemos estar errados, porque somos humanos.

O vice tem um tom mais despojado nas redes sociais. A sra. acompanha os perfis?
É divertido, eu gosto. O Geraldo é todo formal, mas o que ele conta de história… Escuto milhões de vezes a mesma história e quase morro de rir, porque ele tem o dom de contar histórias. Não é para qualquer pessoa. Eu, por exemplo, não sei contar piada, ninguém acha graça. Ele tem esse dom, acho bárbaro.

A sra. tem acompanhado as viagens nacionais do vice?
Tenho aproveitado algumas justamente para me encontrar com as primeiras-damas [nos estados] para apresentar o projeto da padaria. Não estou em todas porque eu trabalho aqui, tenho que visitar as entidades.

As Padarias Artesanais podem se transformar em uma política pública eventualmente?
Não sei te responder. Sei que eu sou voluntária, nada do que eu faço tem recursos do governo [o projeto é realizado em parceria com a Arquidiocese de Brasília, entidades do Sistema S e empresários]. O meu dia inteiro é isso: visitar as entidades, conversar com as pessoas. São 30 centros religiosos, entidades sociais, associações e creches que eu visitei em Brasília. O projeto está sendo divulgado, e as pessoas estão me procurando. Onde eu puder ajudar, nós estaremos.

Qual é a rotina da sra. e de Alckmin aos finais de semana?
As pessoas que ele não consegue atender durante a semana ele atende no sábado e no domingo. E à tarde a gente fica juntos. Agora já convenci ele a caminhar, ele está caminhando. Ele gosta muito de jogar paciência, eu gosto de ler. Quando não estão os netos, a família, é um momento que ficamos nós dois, somos bem caseiros.

Qual o próximo passo do vice? Ele pode ser presidente?
Ele deixou de ser governador, voltou a ser médico, foi fazer o curso… A gente não sabe o futuro, eu vivo o presente. Agora pensar se ele vai ser, se ele não vai ser… É trabalhar o agora também, não sei quanto tempo a gente vai viver, né? É viver o presente.

A ex-ministra do STF Rosa Weber pautou a descriminalização do aborto até a 12ª semana. Qual sua opinião sobre o tema?
Eu sou a favor da vida e do que está em lei.

A sra. disse que o vice citou a defesa da democracia quando falou da chapa com o presidente. Acha que houve um momento em que a democracia esteve em risco?
Sim, no dia 8 de janeiro. Mas, graças a Deus, venceu a democracia. É triste [ver a destruição das sedes dos três Poderes]. É patrimônio da população, não é nosso.

O que acha do ex-presidente Bolsonaro e da ex-primeira-dama, Michelle?
Eu prefiro não falar nada. Quando a gente não pode falar bem, a gente não fala nada.


Raio-X | Lu Alckmin, 72

Nascida em São Paulo, se mudou ainda criança para Pindamonhangaba (SP) onde foi criada e cursou magistério no Instituto de Educação João Gomes de Araújo. Foi primeira-dama de São Paulo de 2001 a 2006 e de 2011 a 2018. No período, presidiu de forma voluntária o Fundo Social de São Paulo, onde desenvolveu projetos sociais. Em 2023, se tornou segunda-dama do país.

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