Governadores do Nordeste tentam driblar dificuldades para eleger aliados em 2024

7 das 9 capitais nordestinas têm prefeitos que são adversários dos governadores; 6 deles devem disputar a reeleição

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Recife e Salvador

Depois de vencerem as eleições de 2022, mantendo um cinturão de aliados do presidente Lula (PT) em 8 dos 9 estados da região, os governadores do Nordeste se preparam para um novo desafio. Com a força acumulada nas urnas, querem emplacar aliados nas prefeituras das capitais em 2024.

Mas o cenário eleitoral não é simples, e a expectativa é que as cidades protagonizem embates duros nas eleições municipais. Sete das nove capitais nordestinas têm prefeitos que são adversários dos governadores, sendo seis deles prováveis candidatos à reeleição no próximo ano.

Diante do cenário adverso, governadores montam suas estratégias para driblar as dificuldades e unir aliados em torno de candidaturas competitivas. Em alguns casos, além da hegemonia política, uma vitória na capital pode representar a derrocada de um potencial adversário em 2026.

Montagem com o governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), a governadora de Pernambuco, Raquel Lyra (PSDB) e a governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra (PT) - Jerônimo Rodrigues no Instagram, Pedro Ladeira/Folhapress, Ronny Santos/Folhapress

Em Pernambuco, o entorno da governadora Raquel Lyra (PSDB) defende múltiplas candidaturas de oposição para enfrentar o prefeito do Recife, João Campos (PSB), tido pelos próprios adversários como favorito à reeleição. O objetivo é tentar forçar um segundo turno.

Na avaliação de oposicionistas, uma ida ao segundo turno já seria uma derrota para João Campos, ainda que o atual prefeito saia vitorioso. O governo estadual acredita que uma vitória no primeiro turno criará um ambiente favorável a uma candidatura a governador do prefeito em 2026 contra Raquel Lyra.

Os partidos da base aliada de Raquel devem lançar mais de um candidato. O secretário estadual e ex-deputado Daniel Coelho (Cidadania) é o nome mais próximo da governadora, mas também são pré-candidatos o ex-ministro bolsonarista Gilson Machado (PL) e o deputado federal Túlio Gadêlha (Rede).

A tendência também é de pulverização em São Luís (MA). Com uma base ampla que vai do PT de Lula até o PL de Jair Bolsonaro, o governador Carlos Brandão (PSB) terá ao menos quatro aliados no encalço do prefeito Eduardo Braide (PSD).

No campo da esquerda, o principal oponente do prefeito é o deputado federal Duarte Júnior (PSB), nome próximo a Flávio Dino (PSB), ministro da Justiça de Lula que em 2024 assume uma das cadeiras no STF (Supremo Tribunal Federal).

Também são pré-candidatos o deputado estadual Neto Evangelista (União Brasil), o ex-prefeito Edivaldo Holanda (sem partido) e o deputado estadual Yglésio Moyses, que deve se desfiliar do PSB.

Entre aliados do governador, a avaliação é que o prefeito já esteve mais forte politicamente e que há chances de derrotá-lo. Os principais trunfos serão o apoio de Brandão em um possível segundo turno, a força do presidente Lula e a memória das gestões de Flávio Dino no estado.

Em Natal, aliados da governadora Fátima Bezerra (PT) devem se dividir na sucessão do prefeito Álvaro Dias (Republicanos). Uma das preocupações da base petista é o avanço do bolsonarismo na cidade, onde Lula venceu por margem estreita em 2022.

O PT disputará com a deputada federal Natália Bonavides, que negocia o apoio de MDB e PSDB. Mas vê partidos aliados ensaiarem voo solo: o PSB pode lançar o ex-deputado Rafael Motta e o PSD, o ex-prefeito Carlos Eduardo.

Na Bahia, a estratégia é oposta. O governador Jerônimo Rodrigues (PT) articulou uma candidatura única para enfrentar o prefeito Bruno Reis (União Brasil), que disputa a reeleição na condição de favorito com o apoio de ACM Neto.

A tarefa de unir uma base heterogênea não foi fácil, mas após meses de negociação o vice-governador Geraldo Júnior (MDB) foi sacramentado como pré-candidato nesta quinta-feira (21). O PT, que tinha apresentado o nome do deputado estadual Robinson Almeida, desistiu de concorrer.

No comando do Governo da Bahia há 17 anos, o PT enfrenta o paradoxo de nunca ter vencido em Salvador, mesmo tendo disputado 9 das 10 eleições municipais desde a redemocratização.

Fora da disputa municipal em 2024, aposta na aliança com um político de perfil mais conservador, mas que enfrenta resistências em parcela do eleitorado de esquerda.

Maceió (AL) é outra capital em que a eleição será uma espécie de segundo round da disputa estadual, opondo aliados do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP), e do senador Renan Calheiros (MDB).

O prefeito João Henrique Caldas, o JHC (PL), disputa a reeleição com o apoio de Lira e deve polarizar com um nome do MDB, partido do governador Paulo Dantas. São cotados o deputado federal Rafael Brito e os deputados estaduais Cibele Moura, Dr. Wanderley e Alexandre Ayres.

O desastre ambiental causado por atividades de mineração da Braskem, que causou afundamentos de solo em 20% do território da cidade e realocou cerca de 60 mil pessoas, estará no centro da disputa municipal.

"O atual prefeito é bem avaliado, mas ele tem cometido contradições seguidas. Uma delas foi o acordo com a Braskem que entregou os terrenos e deu uma quitação, uma anistia plena, à empresa", afirma Renan.

O prefeito, por sua vez, tem acusado os adversários de politizarem o problema. E diz que não há anistia para a mineradora: "O senador está desinformado. O termo não dá anistia plena à empresa, tanto é verdade que já solicitamos a reabertura de negociação para cobrarmos novas indenizações referentes aos desdobramentos do rompimento da mina 18."

Dentre as nove capitais nordestinas, o PT vê suas melhores chances em duas capitais de estados governados pelo partido: Ceará e Piauí.

Em Fortaleza, o governador Elmano de Freitas (PT) quer unir a base em torno de uma candidatura única, mas o PT enfrenta uma disputa interna acirrada entre quatro possíveis candidatos.

O personagem central da disputa é um pré-candidato que até recentemente não era filiado ao partido: o presidente da Assembleia Legislativa do Ceará, Evandro Leitão. Eleito deputado pelo PDT, Evandro faz parte do grupo ligado ao senador Cid Gomes que se opõe ao prefeito Sarto Nogueira (PDT).

Recém-filiado ao PT, Evandro enfrenta resistência do grupo liderado pela ex-prefeita Luizianne Lins. Também são pré-candidatos no partido os deputados estaduais Larissa Gaspar e Guilherme Sampaio.

Em 2022, Elmano não foi o mais votado em Fortaleza, mas aliados apontam o governador como um forte cabo eleitoral para enfrentar o prefeito Sarto e os candidatos Capitão Wagner (União Brasil) e André Fernandes (PL).

Em Teresina (PI), o deputado estadual Fábio Novo (PT) está construindo uma ampla aliança com o aval do governador Rafael Fonteles (PT), que deve mergulhar na campanha na capital.

Os potenciais adversários são o ex-prefeito Sílvio Mendes (União Brasil) e o prefeito Dr. Pessoa (Republicanos), que deve tentar um novo mandato mesmo em cenário adverso.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.