Descrição de chapéu Lava Jato

Lula volta a acusar EUA de manipulação da Lava Jato em visita a refinaria símbolo da operação

A fala foi feita durante visita à refinaria de Abreu e Lima, em Pernambuco

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Ipojuca (PE) e São Paulo

O presidente Lula (PT) disse, nesta quinta-feira (18), em referência à Operação Lava Jato, ainda que sem mencioná-la explicitamente, que aconteceu no Brasil "uma mancomunação" de juízes e procuradores brasileiros com o Departamento de Justiça dos Estados Unidos contra a Petrobras.

A fala foi feita durante visita para anúncios de investimentos na refinaria Abreu e Lima, em Ipojuca, a 43 km do Recife.

"Tudo o que aconteceu nesse país foi uma mancomunação entre alguns juízes desse país, alguns procuradores desse país, subordinado ao Departamento de Justiça dos Estados Unidos que queriam e nunca aceitaram o Brasil ter uma empresa como a Petrobras."

"Eles não queriam que a gente tivesse a Petrobras em 1953", afirmou logo após a fala sobre os americanos.

Lula também afirmou, no discurso, que o Brasil tem "uma elite com complexo de vira-lata, subordinada aos interesses dos outros e com pouco interesse nesse país".

Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva durante cerimônia de retomada das obras da Refinaria Abreu e Lima - - Ricardo Stuckert/Divulgação Presidência

"Somente cinco anos depois [de deixar a Presidência] começou o processo de denúncia contra a Petrobras, que, na verdade, não era contra a Petrobras. Se quiser apurar corrupção, apura-se. O que não pode punir é a soberania do país e da sua empresa mais importante, que é a Petrobras", afirmou Lula.

Em seu discurso, Lula também se comparou com Getúlio Vargas, presidente que se suicidou em 1954.

Reclamou ainda de que, quando esteve preso, foi impedido de comparecer ao enterro de seu irmão Vavá, em 2019, diferentemente do que ocorreu quando sua mãe morreu, em 1980. Há cinco anos, o ministro Dias Toffoli, do STF (Supremo Tribunal Federal), autorizou apenas que ele comparecesse a uma unidade militar próxima do local do sepultamento, o que o hoje presidente não aceitou.

"Quando ela [mãe] morreu eu estava preso, por causa da greve de 80. E, na época, que era uma ditadura, tinha um delegado melhor do que alguns juízes agora que não me deixaram eu ir na morte do meu irmão."

O presidente também afirmou que as pessoas que o acusaram "estão apodrecendo", sem mencionar nomes. "Os pastores que mentiram a meu respeito em nome de Deus sabem que estão mentindo em tudo, que Deus está vendo que isso faz parte de um jogo sórdido", disse.

Também sem mencionar Jair Bolsonaro (PL), seu oponente nas eleições de 2022, Lula disse que o país chegou "ao ponto de eleger um psicopata para ser presidente desse país".

"Alguém que vive da mentira, da maldade, de ofender os outros. Para ele, todo mundo aqui é ladrão, comunista, defende aborto, como se ele e seus filhos fossem exemplos de família nesse país."

Visitada pelo presidente nesta quinta-feira, a refinaria de Abreu e Lima foi um dos símbolos do esquema de corrupção investigado na Operação Lava Jato e teve peso importante no maior prejuízo já registrado pela estatal, em 2014, fruto de baixas contábeis em investimentos que não tinham viabilidade econômica.

Ela também constou na sentença condenatória de Lula em primeira instância no caso do tríplex, em Guarujá (SP), assinada pelo então juiz Sergio Moro no âmbito da Operação Lava Jato e que foi depois anulada pelo STF.

Moro afirmou na sentença condenatória que o petista havia recebido vantagem indevida da empreiteira OAS, participante de consórcio para construção da refinaria.

Após deixar a magistratura e se tornar ministro de Bolsonaro, o hoje senador pela União Brasil foi declarado parcial pelo STF em sua atuação nos processos de Lula e teve decisões anuladas.

A refinaria, que não foi completamente terminada, foi lançada em 2005 por Lula ao lado do então presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que morreu em 2013.

Nesta quinta, Lula admitiu que a Venezuela não participou das obras, previstas para acontecerem em conjunto. O petista afirmou que o antigo aliado "nunca colocou um centavo" na refinaria.

A intenção inicial, à época, era fazer uma parceria bilateral com o refino dos petróleos do Brasil e da Venezuela. Entretanto, houve um entrave entre a Petrobras e a PDVSA, estatal de petróleo venezuelana.

"A Petrobras e PDVSA eram duas noivas bonitas, muito grandes, e nunca concordaram com nossa ideia", afirmou. "Não cumprimos porque cada um tem de defender os interesses das suas empresas, do seu país. O dado concreto é que nunca o Chávez colocou um centavo aqui", acrescentou.

Lula foi à região anunciar investimentos ao projeto, previstos pelo novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e pelo Plano Estratégico da Petrobras, de 2023 a 2027.

A primeira unidade da refinaria, com capacidade para refinar 115 mil barris de petróleo por dia, está em operação desde 2014.

O projeto de expansão do chamado trem 2 da refinaria acrescenta capacidade de refino de 150 mil barris de petróleo, com a produção de 300 milhões de litros de diesel ao ano. Ele foi aprovado ainda no governo Bolsonaro, após dificuldade na venda do ativo por não estar concluído.

A avaliação da empresa é que a obra inacabada acrescentava riscos para eventuais compradores e, em novembro de 2020, sua conclusão foi aprovada pelo conselho de administração. Com a mudança de governo, a venda está descartada.

Pela manhã, Lula cumpriu agenda em Salvador. Depois, deixou a Bahia rumo a Pernambuco, onde vai dormir nesta quinta. Na sexta, terá compromisso no Recife, onde participa da passagem de chefia no Comando Militar do Nordeste —e em seguida segue rumo ao Ceará para o lançamento da pedra fundamental do campus do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) em Fortaleza.

Em Salvador, Lula disse que a elite brasileira, "e me desculpe quem vestir a carapuça, nunca teve intenção de educar o nosso povo".

A viagem pelos três principais estados do Nordeste abre a série de roteiros que Lula promete fazer neste ano pelo Brasil. O presidente disse publicamente que quer viajar mais pelo Brasil em 2024, após priorizar a agenda internacional em 2023, o primeiro ano do mandato atual.

Em Ipojuca, Lula estava acompanhado da governadora de Pernambuco, Raquel Lyra (PSDB), que tem feito acenos ao presidente em indícios de uma possível aproximação futura. Também estavam presentes a senadora Teresa Leitão (PT-PE), a prefeita de Ipojuca, Célia Sales (PP), e o prefeito do Recife, João Campos (PSB).

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