Descrição de chapéu Governo Lula

Filho de Lula leva ao pai e ministros temas que vão de rodovia a casas de aposta

Dirigente de clube de futebol, Luís Cláudio passou a se dividir entre a Amazônia e São Paulo

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Rio Preto da Eva (AM)

O filho caçula do presidente Lula (PT), Luis Claudio Lula da Silva, 39, costuma levar ao pai assuntos que dizem respeito a seu cotidiano desde que passou a viver na Amazônia para atuar como dirigente de futebol.

Como mostrou a Folha, Luís Cláudio se aliou a um empresário sul-coreano que atua na Zona Franca de Manaus e a um prefeito da União Brasil para erguer o clube de futebol Parintins, que disputa o Campeonato Amazonense e tenta vaga na Série D do Brasileiro.

Luís Cláudio, por exemplo, levou ao pai uma defesa pela pavimentação da BR-319, que liga Manaus a Porto Velho. Nos próximos meses, o filho de Lula pretende percorrer a rodovia, filmar as condições da estrada e mostrar os vídeos ao chefe do Executivo.

"A BR-319 é imprescindível para a região. Na seca do ano passado, houve um isolamento grande", disse à Folha o filho de Lula, reverberando o discurso de políticos e empresários que fazem lobby pela rodovia.

Esse lobby ganhou força a partir da seca extrema em 2023, ano em que houve recordes de baixa dos rios, com impacto direto na navegação, a principal forma de transporte no Amazonas. Desde que assumiu a direção de futebol do RPE Parintins, Luis Claudio se divide entre Amazonas e São Paulo.

Luis Claudio Lula da Silva, filho do presidente Lula, no estádio Francisco Garcia, após a derrota do Parintins nos pênaltis, na partida entre o Parintins e São Raimundo, válida pelo Campeonato Amazonense - Edmar Barros/Folhapress

"Eu conheço 80% dos ministros de antes [da eleição]. Tenho intimidade com [Fernando] Haddad [ministro da Fazenda], com [Alexandre] Padilha [ministro das Relações Institucionais], de tomar café", diz o caçula de Lula.

Um dos assuntos já tratados, segundo ele, é sobre casas de apostas no futebol, com a existência de um mercado ilegal e paralelo que vem prejudicando o esporte, segundo Luis Claudio. "Converso abertamente com Haddad sobre isso. Regulamentação e cobrança por investigação devem existir, pois há brechas para corrupção com as apostas."

A discussão sobre a BR-319 passa principalmente pelo chamado trecho do meio, entre os quilômetros 250 e 655,7 –uma extensão de 405,7 quilômetros.

Em julho de 2022, três meses antes da derrota de Jair Bolsonaro (PL) para Lula, o então presidente do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), Eduardo Bim, emitiu licença prévia para pavimentação do trecho. Bim estava no cargo por indicação do hoje deputado federal Ricardo Salles (PL-SP), ministro do Meio Ambiente sob Bolsonaro.

Documentos do processo de licenciamento ambiental mostram que a obra pode provocar mais grilagem de terras públicas no curso da rodovia, ampliar o desmatamento ilegal e impulsionar a exploração criminosa de madeira.

Uma vistoria feita pelo Ibama em setembro passado constatou o avanço de devastação, queimadas e ocupação de terras públicas ao longo da BR-319, com o arco de desmatamento rumo às porções central e norte do Amazonas, duas das mais preservadas da amazônia. Além disso, há 225 áreas degradadas na rodovia, antes mesmo de intervenções para pavimentação.

Manaus e região viveram ondas sucessivas de fumaça na seca extrema de 2023, em razão do desmatamento e das queimadas. Mesmo assim, políticos e empresários usaram a seca como pretexto para ampliar o lobby pela pavimentação da rodovia. O governo Lula criou um grupo para tentar acelerar o processo de licenciamento.

"Meu pai fica cercado por ministros, nem sempre ele sabe a realidade", diz Luis Claudio. "Eu converso com ele sobre as dificuldades logísticas aqui, sobre o isolamento."

Segundo o filho de Lula, a seca levou a escassez de alimentos e de itens como cimento em Rio Preto da Eva (AM), cidade onde está sediado o RPE Parintins, a 85 km de Manaus.

"A BR-319 é a única conexão com o restante do país. É uma obra difícil, mas tem de sair", afirma Luis Claudio. "Meu pai quer saber mais, quer ouvir."

Sobre o mercado de apostas no futebol, cujo funcionamento foi autorizado por uma lei de 2018, o diretor do RPE Parintins diz que existem três ou quatro "casas grandes de confiança" e que há uma infinidade de apostas clandestinas, com grupos virtuais, bicheiros e outros operadores, levando a manipulação de resultados.

"Como não tem como inibir, tem de regulamentar", afirma Luis Claudio, que diz que toparia patrocínio de casa de apostas ao time que dirige. O governo Lula espera incrementar receita com a regulamentação do setor.

O dirigente faz críticas mais genéricas ao futebol brasileiro: está sucateado, parte devido à maneira de atuação da CBF (Confederação Brasileira de Futebol). "Meu pai precisa olhar para o futebol com mais carinho."

As conversas que mantém com integrantes do governo do pai não podem ser compreendidas como tráfico de influência, afirma Luis Claudio. "Seria se eu levasse alguma vantagem. Nunca vão ver o Luis Claudio pedir um favor."

Ele diz ser mais recebido no mundo do futebol por ser filho de Lula, e que isso já foi o inverso, com portas fechadas no auge das ofensivas da Operação Lava Jato. O ressentimento persiste, em razão da morte da mãe, Marisa Letícia, em 2017, atribuída por ele ao que teria sido uma perseguição contra a família.

"Ser filho [de Lula] abre as portas, é claro. Mas já fechou também. O que eu preciso ter é um produto decente para entregar", afirma o diretor do RPE Parintins, que já trabalhou como auxiliar em times como Palmeiras, São Paulo e Corinthians, além de ter estruturado uma liga de futebol americano no Brasil.

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