Lula cita Bolsonaro e Milei e aponta risco para a democracia

Presidente participa de anúncios de investimentos do PAC no Rio Grande do Sul

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Porto Alegre, Lajeado (RS) e Recife

O presidente Lula (PT) disse nesta sexta-feira (15) em Porto Alegre que a democracia corre risco no Brasil e em outros países. O petista citou nominalmente o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o presidente da Argentina, Javier Milei, ao abordar o assunto.

"A política está tomada por um ódio que certamente a maioria de vocês que fazem política aqui nunca tenham vivido isso. [A convivência pacífica entre adversários] Acabou no Brasil, acabou nos Estados Unidos, está acabando em Portugal, acabou na Espanha e está acabando em muitos outros países", disse Lula.

Alckmin, Lula e Eduardo Leite em Porto Alegre
Alckmin, Lula e Eduardo Leite em Porto Alegre - Ricardo Stuckert / PR

"A democracia está correndo risco. Possivelmente, porque mudamos de comportamento. A esquerda e os setores progressistas antes criticavam o sistema. Na hora que ganham as eleições, passam a fazer parte do sistema e a direita que fica fora diz que é contra o sistema", afirmou.

"Quem é contra o sistema hoje que critica tudo é o Milei na Argentina, até o Banco Central ele quer fechar, cortar tudo com o serrote. E aqui o Bolsonaro, que eu não queria falar o nome dele, mas até hoje ele não reconhece a derrota dele. Ele fala 'não sei como perdi'. Ele não sabe porque gastou quase R$ 300 bilhões e achava que não ia perder e perdeu", acrescentou Lula, em discurso.

As falas foram proferidas durante evento em Porto Alegre para anúncios de R$ 29,5 bilhões em investimentos do Novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) no Rio Grande do Sul.

O presidente também classificou o estágio atual da política como "medíocre" e lamentou que a América do Sul só tenha, além dele, outros três presidentes de esquerda: Gabriel Boric, do Chile, Gustavo Petro, da Colômbia, e Luis Arce, da Bolívia. Lula não mencionou o ditador da Venezuela, Nicolás Maduro.

"Em todas as lutas que a gente tem que fazer daqui pra frente, a gente tem que lembrar que o que corre risco no mundo hoje é a democracia, pelo fascismo, nazismo, extrema direita raivosa, ignorante, bruta, que ofende e não acredita nas pessoas (...) Temos que convencer o povo e os democratas que não é possível defender a democracia com fome, com racismo e com a desigualdade estampada na saúde, educação, nos transportes, de gênero, de raça, de tudo."

Lula também abordou as recentes pesquisas que indicam queda de popularidade do governo, como levantamento da Quaest divulgado dia 6 de março que mostra que a avaliação negativa da gestão petista cresceu e foi a 34%. Já na cidade de São Paulo, a reprovação de Lula subiu 9 pontos percentuais e atingiu 34%, conforme mostrou o Datafolha.

"Esses dias saiu uma pesquisa e a imprensa me perguntou, eu falei 'tudo bem'. É porque estou aquém do que o povo esperava que eu tivesse. Não estou cumprindo aquilo que eu prometi. Porque quando planto um pé de jabuticaba, eu não chupo a fruta no dia seguinte, tenho que esperar ela crescer, brotar, para poder [comer]. E é esse ano [2024] que a gente começa a colher o que a gente plantou o ano inteiro [de 2023]", disse Lula.

Além do presidente, estavam presentes no evento o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), o vice-presidente e ministro Geraldo Alckmin (Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços) e o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo (MDB), que foi vaiado pela plateia. Outros ministros do governo federal também compareceram. A deputada federal Maria do Rosário, pré-candidata do PT à prefeitura da capital gaúcha, participou.

O governador Eduardo Leite pediu a Lula discussões sobre a renegociação da dívida do Rio Grande do Sul. "Em um breve espaço de tempo, a dívida vai consumir mais de 12% da receita corrente do estado, limitando a capacidade de investimentos, de remuneração adequada aos servidores públicos, de contratação de novos servidores e prestação de serviços e investimentos em áreas estratégicas."

À tarde, Lula participou de anúncio da contratação de 857 novas moradias do Minha Casa, Minha Vida em 13 municípios do Rio Grande do Sul. O evento aconteceu em Lajeado, a 120 km de Porto Alegre, no Vale do Taquari, região fortemente atingida pelas enchentes em setembro de 2023. O governo federal anunciou ainda o repasse de R$ 128 milhões para a reconstrução de pontes, casas e ruas em sete cidades, cinco delas do Vale do Taquari.

No início do seu discurso, o governador Eduardo Leite foi vaiado por parte da plateia e reagiu, pregando união.

"Não façamos de um momento como esse um momento de diferenças partidárias, estamos juntos aqui. (...) Há poucos anos, um ex-presidente, diante de uma pandemia, que deveria unir o Brasil para enfrentar o vírus, preferiu dividir o país. Não vamos fazer desse momento, que deve ser de união, para enfrentar a crise climática e o que se abateu no Vale do Taquari, um momento de divisão", disse Leite, sem citar o nome de Jair Bolsonaro.

No discurso, o presidente prometeu diálogo e disse que o governo federal tem "obrigação de tentar encontrar uma solução". No governo federal, os debates sobre dívidas dos estados são conduzidos pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

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