Quantas mulheres cabem na política

Edição da newsletter Todas fala sobre a baixa representatividade feminina na política

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São Paulo

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Em 24 de fevereiro, o direito ao voto feminino no Brasil completou 92 anos. A conquista ocorreu em 1932, durante a era Vargas.

Embora protagonistas do movimento sufragista no Brasil como Leolinda de Figueiredo Daltro e Bertha Lutz tivessem colocado o tema em pauta no país antes da década de 1930, ele não havia se tornado uma realidade. Se materializou por meio de um decreto de um novo Código Eleitoral que deu a nós o direito de votar e ser votada.

São décadas desde que temos a chance de escolher os nossos representantes, mas, ainda assim, especialistas ouvidas pela repórter Priscila Camazano nos mostram que alguns dos empecilhos que vivemos hoje nos remetem ao início do século 20.

A Câmara dos Deputados, em Brasília, em fevereiro deste ano - Gabriela Biló - 5.fev.2024/Folhapress

A violência política que mulheres sofrem, por exemplo, é um problema apontado por Cibele Tenório, jornalista e doutoranda em história pela UnB (Universidade de Brasília), como impedimento para que exerçam seu manto com tranquilidade.

"É impossível não pensar que, passados quase 100 anos da conquista do voto, [ainda] temos questões que são da mesma ordem de 1930. Isso é difícil de lidar", disse ela.

Outro ponto apontado por Hannah Maruci, doutora e mestra em ciência política pela USP (Universidade de São Paulo) e co-diretora d'A Tenda das Candidatas, é que a mudança do Código Eleitoral deu direito ao voto, mas não garantiu a igualdade política.

"O voto não era obrigatório para as mulheres. O que isso significa na prática? Que muitas delas não teriam permissão de seu marido ou pai para votar."


A falta igualdade política também não é refletida em casas legislativas. Reportagem de fevereiro de 2023 mostrou que, nos 20 anos anteriores, mulheres ocuparam menos de 10% dos cargos de comando do Congresso.

"Nenhuma mulher, na história, foi eleita presidente da Câmara ou do Senado", diz o texto.

O tema foi explorado em outra reportagem recente da Folha, assinada por Natália Santos e Nicholas Preto, que mostrou que a Câmara dos Deputados do Brasil é a com maior desigualdade de gênero da América do Sul quando comparada com equivalentes da região.

A reportagem aponta que só 17,5% das vagas nesta Casa legislativa são ocupadas por mulheres, menos da metade da proporção registrada na Bolívia, no Equador e na Argentina.

Historicamente, a porcentagem delas na Câmara sequer atingiu um quinto (20%) da Casa.

Mulheres, claro, conquistaram mais espaço na política, embora ainda estejam longe de ter um percentual de vagas equivalente a sua representação na população, que segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) é de 51,5%.

Dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) mostram que a quantidade de deputadas federais eleitas saltou de 5,7% em 1998 para 17,7% em 2022, recorde na série histórica.

Cibele Tenório, pesquisadora ouvida na reportagem sobre os 92 anos do voto feminino, diz, ainda assim, que o momento é de manutenção dos direitos já conquistados.

"Essa República é masculina e nos admite muitas vezes sob muita pressão. A tendência dela é sempre voltar ao que era. Precisamos ficar muito atentos para que não haja retrocesso nos direitos conquistados e que foram muito trabalhosos para as mulheres do passado."

Para ler na Folha

Mudando de assunto… Este texto, assinado pela Mariana Brasil e parte da série Quilombos do Brasil, fala sobre marisqueiras da cidade de Cachoeira (BA) que movimentam a economia do quilombo Kaonge no Recôncavo Baiano.

Quem comanda o mercado das artes? Ao menos parte dele é liderado por mulheres. É o que mostra a reportagem de Bárbara Blum, que conversou com galeristas históricas e novatas que se tornaram mecenas modernas em um ambiente antes liderado por homens.

Botox previne rugas? Eu mesma já cansei de ouvir isso. Mas a verdade é que, apesar da recomendação de inúmeros dermatologistas, os estudos para prevenção ainda estão em andamento. Este texto, assinado por Lívia Inácio, mostra que a toxina botulínica tem potencial comprovado apenas para amenizar rugas já instaladas.

Também quero recomendar

Para ouvir, o novo podcast da Folha, "Autoritários". A repórter Ana Luiza Albuquerque viajou diversos países e fez dezenas de entrevistas para entender o que acontece em países nos quais líderes contemporâneos têm colocado a democracia em risco.

Como parte da iniciativa Todas, a Folha presenteia mulheres com dois meses de assinatura digital grátis

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