Descrição de chapéu pernambuco PSB

Família de Eduardo Campos fica entre memórias e busca por respostas 10 anos após acidente

Filhos e viúva buscam preservar legado político e afetivo e irmão questiona causas da queda fatal de aeronave

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Recife

Dez anos depois, a família do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos (1965-2014) concilia cicatrizes e lembranças dele com questionamentos sobre a causa da morte, ocorrida em um acidente aéreo em 13 de agosto de 2014 em Santos, no litoral paulista.

Os filhos e a viúva, Renata Campos, atuam mais na esfera da preservação do legado político e afetivo. Irmão do ex-governador, o advogado Antônio Campos também costuma falar sobre as características de Eduardo, mas vai além e tem, ano a ano, questionado as causas da queda fatal da aeronave.

Eduardo Campos (centro) junto com sua esposa Renata e os cinco filhos (da esq. para a dir., Pedro, Miguel, José, Eduarda e João, atual prefeito do Recife), em imagem de 2014 - Reprodução/Facebook

Antônio Campos e a mãe do ex-governador, a ex-ministra do Tribunal de Contas da União Ana Arraes, movem uma ação que pede uma nova produção de provas sobre o acidente na Justiça Federal em Santos.

Um inquérito realizado pela Polícia Federal apontou quatro possíveis causas para o acidente, segundo a família divulgou após encontro com investigadores em agosto de 2018. Em 2019, o Ministério Público Federal arquivou o caso sem especificar a causa exata.

"O relatório do Cenipa é imprestável tecnicamente e o relatório da PF é inconcluso", afirma Antônio Campos, que acredita em um acidente provocado por pessoas.

"Trabalho com a tese de homicídio, o tempo vai se encarregar de mostrar. Uma morte de um candidato à Presidência tem componentes políticos, mas não vou acusar ninguém", acrescenta Antônio, que diz acreditar correr risco de morte por insistir na necessidade de novas apurações.

Eduardo, à época, era candidato a presidente pelo PSB e viajava para uma agenda de campanha no litoral paulista.

Antônio Campos hoje é candidato a prefeito de Olinda pelo PRTB. Ele não tem relações com a viúva do irmão. Na política, tem algumas posições políticas diferentes dos Campos. Em 2022, por exemplo, votou no ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Irmãos Antônio Campos e Eduardo Campos lado a lado - Arquivo pessoal

Mãe de Eduardo Campos, Ana Arraes evita falar da morte do filho publicamente. Segundo Antônio Campos, ela segue abalada, mas está bem de saúde aos 77 anos. A ex-ministra do Tribunal de Contas da União deixou a vida pública em julho de 2022, quando se aposentou do TCU.

Foi na corte que Ana Arraes recebeu a notícia da morte do ex-governador. Um dos que testemunharam o momento foi o também então ministro do TCU e atualmente ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, também pernambucano.

"Recebi um telefonema de Lula, que era ex-presidente, dizendo que soube que o avião que tinha caído era o que estava Eduardo Campos. Fui depois ao encontro dela, que estava bastante abalada. Foi o pior momento meu durante o período no TCU e um dos piores da minha vida", conta José Múcio, que perdeu o pai há décadas em um acidente aéreo.

No momento em que soube da notícia, a pressão arterial de Ana Arraes disparou e ficou na casa dos 24 por 12. Um aparato médico foi montado no TCU para o momento em que ela soube do acidente do filho, a fim de evitar problemas de saúde maiores.

A última aparição pública de Eduardo Campos foi a entrevista ao Jornal Nacional, da TV Globo, na noite anterior ao acidente. A pessoas próximas o ex-governador disse que queria usar o telejornal para ampliar seu grau de conhecimento perante o eleitorado. A esposa Renata acompanhou Eduardo na sede da emissora, no Rio de Janeiro.

"Ele entendia que era um divisor de águas e estava muito animado. Dizia que era mais fácil trazer mais perto quem o conhecesse", diz o atual prefeito do Recife, João Campos (PSB), que levou três amigos na época para assistir à entrevista do pai na sua casa. Entre os presentes estava o atual candidato a vice-prefeito na chapa de João em 2024, Victor Marques (PC do B).

Após a entrevista, Eduardo ligou para familiares que estavam no Recife para comentar a entrevista e disse que se esqueceu de falar sobre uma proposta que tinha em mente. "Ele queria falar sobre a 13ª parcela do Bolsa Família e não lembrou. Ele se cobrava muito", diz o deputado federal Pedro Campos (PSB-PE).

Principal herdeiro político da família, João Campos, hoje com 30 anos, não falou com o pai na ocasião. "Meu telefone tocou na hora, atendi e fiquei falando. Disse que, no outro dia, falaria com ele."

Um dos últimos contatos de João com o ex-governador foi no Dia dos Pais, em 10 de agosto, que, naquele ano, coincidiu com o aniversário de 49 anos de Eduardo. O Dia dos Pais foi o último momento em que Eduardo, a esposa e os filhos estiveram juntos.

No dia 13, João Campos soube da morte pela imprensa. "Abri um site de notícias, vi a foto do avião quase todo destruído e a cauda preservada. Ali, disse que não tinha jeito."

Já Pedro Campos soube do acidente ao ser acordado pelo irmão José, que cursa medicina atualmente e estava preocupado após ver uma notícia de que um avião tinha caído em São Paulo. Depois, foi confirmado que era a aeronave com Eduardo. Já Renata Campos estava voltando do Rio de Janeiro, em avião comercial, com Miguel, filho mais novo que nasceu em janeiro daquele ano.

A rotina de Eduardo Campos se dividia entre as atividades políticas e familiares. Segundo o prefeito do Recife, algumas reuniões políticas do ex-governador aconteciam na própria residência. "Muitas vezes ele levava alguém para discutir sobre o partido ou sobre uma cidade para o terraço da nossa casa. A gente cresceu vendo isso", disse.

Para João Campos, a vitória do pai nas eleições de 2006 para o governo é um dos momentos mais marcantes na memória. A festa da vitória, no Marco Zero do Recife, reuniu aliados políticos e a família do ex-governador, um ano depois da morte do avô Miguel Arraes.

Eduardo começou a disputa em terceiro lugar nas pesquisas de intenção de voto e avançou ao segundo turno com uma arrancada na reta final. Na segunda etapa, venceu o então governador Mendonça Filho, à época do PFL.

"Lembro da emoção e também vestido, logo depois, com pressa. Ele tinha muita pressa. É como se, no subconsciente, ele soubesse que iria viver pouco", diz João Campos.

A viúva de Eduardo, economista como ele, não gosta de dar entrevistas. Ela costuma ir a convenções eleitorais do PSB, como foi o caso do evento que confirmou João Campos como candidato à reeleição no Recife em 4 de agosto, e eventos em homenagem ao marido.

No campo pessoal, Eduardo era exigente quanto à educação dos filhos. "Sempre cobrou muito que a gente se formasse e fazia questão de ir a eventos na escola e de olhar os boletins de notas", diz Pedro, hoje com 28 anos .

Eduardo Campos morreu no dia 13 de agosto, mesma data da morte, em 2005, do ex-governador Miguel Arraes. Os dois são as principais lideranças históricas do PSB de Pernambuco até a atualidade.

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