Descrição de chapéu Governo Lula

Governo banca mais de 50 viagens a Fortaleza para secretário e diz que é por ter muitos convites

Ex-senador Inácio Arruda é natural do estado; almirante ligado a Bolsonaro é quem mais usou passagens bancadas pelo orçamento

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Lucas Marchesini Cézar Feitosa
Brasília

O governo pagou 53 viagens ao Ceará para o ex-senador Inácio Arruda, hoje secretário de Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento Social no MCTI (Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação).

Arruda é natural de Fortaleza e exerceu os cargos de deputado estadual, deputado federal e senador —sempre pelo Ceará. Ele é filiado ao PC do B, mesmo partido da ministra de Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos.

Bruno Poletti/Folhapress
O secretáio Inácio Arruda, ex-senador pelo Ceará, durante edição do Prêmio Claudia 2014, em São Paulo (SP) - Bruno Poletti - 15.10.2014/Folhapress

A maioria das viagens a serviço de Arruda ao Ceará tem o trecho de ida numa quinta-feira, e o de volta, numa segunda.

O ex-senador também cumpriu agendas em outros estados, mas o Ceará concentra 2 de cada 3 deslocamentos. No total, ele realizou 77 viagens desde o início do governo Lula (PT). Segundo o MCTI, todas foram a trabalho.

Dos 23 deslocamentos iniciados em uma quinta-feira identificados pela Folha no Painel de Viagens, 20 tiveram como destino Fortaleza. Outro foi para Juazeiro do Norte, também no Ceará. Em todos os casos o retorno foi depois do fim de semana.

Em uma viagem realizada em 2024, Arruda voou na quinta-feira antes do Carnaval (8) e só retornou para Brasília no domingo (18), depois do feriado.

Na sua agenda pública para esse período, há apenas um compromisso. Trata-se de uma reunião de 30 minutos, em 15 de fevereiro, com a pró-reitora adjunta de Pesquisa e Pós-graduação da UFC (Universidade Federal do Ceará), Cláudia do Ó Pessoa.

Nas suas redes sociais, Arruda destacou outro evento no período, uma visita ao Instituto de Ciências do Mar da UFC, em 9 de fevereiro.

No total, as viagens levaram Arruda a receber 156 diárias no ano passado, o que equivale a R$ 79,3 mil. O gasto incluindo as passagens foram de R$ 491,7 mil.

Procurado, o MCTI afirmou que "os deslocamentos foram realizados, estritamente, para o cumprimento de agendas relacionadas às atividades e aos compromissos decorrentes do seu cargo".

O grande número de viagens para o Ceará aconteceu, explicou a pasta, porque, por Arruda ser do estado, "ele recebe muitos convites de universidades, centros de pesquisa, secretarias de estado, governo local, etc. com pautas inerentes à sua atuação no MCTI"

.

"Outro fator é que o secretário representa a ministra em muitos compromissos em todo o Nordeste, não apenas no estado do Ceará", acrescentou o órgão.

A Folha procurou Arruda, mas ele não quis se pronunciar.

Almirante é quem mais fez viagens pagas pelo governo

A reportagem pesquisou todas as viagens pagas com dinheiro público desde o início do governo.

Arruda ficou em segundo lugar na lista dos que mais usaram esse expediente. O primeiro é o almirante Flávio Rocha, com 149 passagens pagas. Ao todo, foram R$ 430,6 mil em bilhetes aéreos.

Rocha era assessor do gabinete do comandante da Marinha para assuntos de segurança nuclear e proteção radiológica até ir para a reserva. Na prática, ele desempenhava a função de secretário de Segurança Nuclear e Qualidade.

Na reserva desde maio, ele era o último almirante diretamente vinculado ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) nos quadros da ativa da Marinha. Rocha seria escolhido para comandar a Secretaria de Segurança Nuclear e Qualidade da Marinha pela Força quando sofreu pressão do Ministério de Relações Exteriores para não assumir o cargo.

Os pedidos da diplomacia tinham como pano de fundo a atuação do almirante como uma espécie de chanceler paralelo durante o mandato de Bolsonaro, passando a influenciar decisões no Itamaraty tanto na gestão de Ernesto Araújo como na de Carlos França.

Para atender aos apelos, a Marinha deixou o almirante na função de assessor do comandante.

Três oficiais-generais contaram à Folha que, na prática, Flávio Rocha ocupava o cargo que lhe havia sido negado. Ele despachava da sede da secretaria, no Rio de Janeiro, e dividia seu tempo entre a capital federal e a cidade fluminense.

Como forma de driblar a pressão do Itamaraty, a Marinha nem sequer nomeou um secretário de Segurança Nuclear e Qualidade, para não criar dificuldades para as funções de Rocha.

Procurado, Flávio Rocha preferiu não se manifestar.

Do total de 149 passagens, 64 foram idas ou voltas de Brasília para o Rio de Janeiro. Em seguida estão 17 idas de Brasília para São Paulo e 15 retornos no mesmo itinerário. De São Paulo para o Rio de Janeiro, são outras nove passagens. Ao todo foram 49 viagens, sendo quatro internacionais.

O militar recebeu R$ 43,7 mil em diárias no ano passado, o equivalente a 129 dias úteis longe de Brasília, local onde estava lotado. Isso dá mais da metade dos 248 dias úteis de 2023.

"O Almirante de Esquadra Flávio Augusto Viana Rocha foi designado para assessorar o Comando da Marinha [...]. Assim sendo, entre outras atribuições profissionais, coube-lhe o acompanhamento das análises reguladoras técnicas, relacionadas às fases de licenciamento do projeto de engenharia e de construção do Submarino Nuclear Convencionalmente Armado", disse a assessoria de imprensa da Marinha.

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