Descrição de chapéu eleições rj

Bolsonarista vai de alvo de Moraes a foco do 'gabinete do ódio' nas eleições

Otoni de Paula diz receber ataques coordenados por Carlos Bolsonaro após apoiar Eduardo Paes e nomes da esquerda no Rio

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Rio de Janeiro

Três anos após ser alvo de busca determinada pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), o deputado federal Otoni de Paula (MDB-RJ) afirma hoje ser vítima de perseguição do chamado "gabinete do ódio" bolsonarista por seu posicionamento nas eleições municipais.

Otoni passou a ser alvo de ataques após declarar apoio ao prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), contra o deputado federal Alexandre Ramagem (PL), candidato do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

"São ataques orquestrados. A rede bolsonarista é comandada pelo Carlos Bolsonaro. É ele quem determina quem tem que ser atacado e quem não tem que ser atacado. É o tal gabinete do ódio, né? Eu não sei se é isso o nome. Mas é isso, eles é que determinam quem vai ser atacado ou não", disse o deputado, em referência ao filho do ex-presidente.

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Otoni de Paula, ao lado do prefeito Eduardo Paes e do bispo Abner Ferreira em evento da Assembleia de Deus - Divulgação

"Quando eu publico alguma coisa, aí entra aqueles 'haters' todos ali. O cara fala assim: 'Eu nunca mais voto em você'. Aí, quando você vai ver, o cara é lá de Manaus, o cara é lá de Alagoas."

O deputado do MDB se tornou coordenador da campanha de Paes junto aos evangélicos. O prefeito tem obtido sucesso em conter o avanço de Ramagem nesse grupo de eleitores, vistos como alinhados ao bolsonarismo.

O descompasso com o bolsonarismo não se resume ao Rio de Janeiro. Em Queimados (RJ), o parlamentar optou pelo candidato do PDT, Max Lemos. Em Paracambi (RJ), apoia o petista Andrezinho Ceciliano, filho do ex-presidente da Assembleia Legislativa André Ceciliano (PT), ex-secretário no governo Lula.

"O amor falou mais alto. O amor venceu. O pai dele é muito querido. É uma relação de amizade", disse Otoni.

Um dos episódios marcantes da atuação do bolsonarista na eleição deste ano foi uma foto dele, sorridente, ao lado do ex-deputado Marcelo Freixo (PT), um dos alvos preferenciais dos adeptos do ex-presidente, numa agenda de Paes.

O deputado Otoni de Paula (MDB), com o prefeito Eduardo Paes (PSD) e o ex-deputado Marcelo Freixo (PT), em agenda de campanha no Rio de Janeiro

"Aquela foto representa a capacidade do diálogo, que não podemos perder na política. Não posso achar que Deus está comigo, e o diabo, com o Freixo. Esse tipo de comportamento político não faz bem à democracia", disse.

Já Freixo diz que a foto não significa nada. "Era um almoço do prefeito com aliados de esquerda. O Otoni soube, apareceu lá e tirou a foto. Ele disse: 'Não vou deixar o prefeito só com a esquerda'. Não temos nenhuma relação, a não ser de diálogo de dois deputados de total oposição um ao outro."

Otoni afirma que os ataques deste ano se devem à surpresa de bolsonaristas em perceber que ele não se alinhou de forma automática aos candidatos do ex-presidente após ter a pré-candidatura à Prefeitura do Rio de Janeiro inviabilizada.

"Eu faço política. Aliás, eu me tornei alvo do bolsonarismo justamente por isso, porque eles não acreditavam que eu fosse fazer política. Quando eles implodiram a possibilidade de eu ser candidato, junto com o Washington [Reis, presidente do MDB-RJ], junto com o MDB, eles acharam que eu não fosse fazer política e que eu não fosse, por exemplo, hoje ser um aliado do Eduardo Paes."

Três anos atrás, Otoni estava no olho do furacão bolsonarista ao ser alvo de busca e apreensão autorizadas por Moraes no âmbito do inquérito das fake news. Ele ficou dois anos com as redes sociais bloqueadas por ordem do ministro.

O deputado Otoni de Paula (MDB-RJ) com o ex-presidente Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto, em 2022 - Clauber Cleber Caetano

O parlamentar também é réu numa ação penal no Supremo sob acusação de injúria e difamação contra o magistrado, fruto da primeira denúncia feita no âmbito do inquérito dos atos antidemocráticos. Ele publicou vídeos em suas redes sociais em que chamava Moraes de esgoto do STF, canalha e tirano.

O emedebista afirma continuar apoiando o ex-presidente, mas expõe mágoa com os apoiadores de Bolsonaro pela falta de suporte no período.

"Eu tive a Polícia Federal na minha casa. Fiquei dois anos sem rede social, tá certo? E, olha só que coisa interessante, nunca o bolsonarismo me defendeu. Nunca a rede bolsonarista fez o barulho que fez para o [deputado] Carlos Jordy [quando foi alvo de busca e apreensão, neste ano] para mim. Agora cobra de mim fidelidade", disse ele.

"Há uma direita que está entendendo que ela sobrevive com ou sem o bolsonarismo. Eu acho que a gente está nesse momento de ebulição. [...] Eu jamais me levantaria contra o que Bolsonaro fez ou o legado do ex-presidente mas existe uma direita além do bolsonarismo. Aliás, a direita é maior do que o bolsonarismo", afirmou.

Há uma direita que está entendendo que ela sobrevive com ou sem o bolsonarismo. Eu acho que a gente está nesse momento de ebulição

Otoni de Paula (MDB-RJ)

deputado federal

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