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Datena, Dudu Camargo e Tramonte tentam transformar popularidade da TV em votos

Apresentadores de programas policiais buscam eleitorado sensível a segurança, mas se embaraçam ao falar de Bolsonaro

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São Paulo

Nos vídeos que publica nas redes sociais, Dudu Camargo (Republicanos), candidato a vereador de São Paulo, aparece fora do estúdio, com o terninho que não sai do seu corpo, pedindo votos nas ruas a quem se acostumou a vê-lo na TV.

Ao completar 18 anos em 2016, ele foi escolhido por Silvio Santos, morto no mês passado, para ser o novo apresentador do Primeiro Impacto, telejornal do SBT que seria remodelado como um programa policial, com teor popularesco.

Oito anos depois de estrear em rede nacional, Camargo agora integra um movimento de ex-apresentadores que, a exemplo de José Luiz Datena (PSDB), concorrente à Prefeitura de São Paulo, tentam entrar na vida política.

Na montagem, Dudu Camargo e José Luiz Datena
Na montagem, Dudu Camargo e José Luiz Datena - Divulgação e Renato Pizzutto/Divulgação e Band

"Esse tipo de jornal agrada muito, porque mostra a realidade do povo, com uma linguagem que todos entendem", diz Camargo, empostando sua voz ao telefone.

Em comum, esses candidatos aproveitam a popularidade da televisão para alicerçar a campanha em uma prestação de serviço, típica das atrações dos programas policiais.

Assim, buscam angariar votos de um eleitorado mais sensível a questões de religião e de segurança pública. Os adeptos do "datenismo cultural" se embaraçam, contudo, quando são perguntados se apoiam o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

"Minha política não será aquela de raposa velha", diz Camargo. "A preocupação é saber se estou beneficiando o povo."

Ele conta que cresceu vendo Datena, embora se inspire em Silvio Santos, seu mentor. Para Camargo, a política seria um modo de resolver os problemas das pessoas, sem precisar cobrar uma atitude das autoridades, como fazia no quadro Chutando o Balde.

Camargo surgiu no programa Fofocando, do SBT, em 2016. Na época, ele interpretava o Homem do Saco, na atração com Mamma Bruschetta, Leão Lobo e Mara Maravilha. Com o Primeiro Impacto, ele conseguiu, em média, 3,5 pontos de audiência.

Em junho de 2023, saiu da emissora envolvido em polêmicas. Foi demitido pela direção da empresa por indisciplina. O estopim, noticiado pela imprensa, teria sido uma toalha suja de fezes, encontrada em seu camarim, ao lado de um microondas, o que ele nega.

"A demissão não partiu do Silvio. Quem era apadrinhado por ele era perseguido", diz.

Em um outro episódio, o candidato foi condenado a pagar R$ 30 mil à cantora Simony por tê-la apalpado, há dois anos, na RedeTV!. "Quem viu o vídeo sabe que não cometi nenhum crime ali", afirma Camargo.

O representante da categoria de apresentadores na política com maior sucesso até agora, nesta eleição, concorre à Prefeitura de Belo Horizonte. É o deputado estadual Mauro Tramonte (Republicanos), que por 16 anos esteve à frente da edição mineira do Balanço Geral, da TV Record.

"Ô, gente, sabadou, balança comigo", diz ele, balançando as mãos, ao repetir o bordão do programa, num vídeo gravado antes de uma agenda de campanha.

"O fato de ele ter apresentado uma atração popular o torna alguém mais conhecido e que também conhece a cidade", afirma Rodrigo Mendes, seu marqueteiro.

Segundo a pesquisa Datafolha, Tramonte está isolado, em primeiro lugar, com 29% das intenções de voto. Um de seus adversários, o senador Carlos Viana (Podemos) foi apresentador do Alterosa Urgente, programa similar, da TV Alterosa (afiliada ao SBT). Ele tem agora 5% das intenções de voto.

"Não vamos simular um programa de televisão no programa eleitoral", conta Frederico Aisc, coordenador da campanha.

Nas redes, Viana publica imagens de familiares e, numa foto, surge com a frase "Deus e família", num aceno aos mais religiosos.

Oponentes, Tramonte e Viana se popularizaram com os programas policiais, que se espalharam na TV ainda nos anos 1990. Os âncoras ficavam de pé, vestiam ternos e mostravam crimes escabrosos. Defensores da classe policial, faziam discursos que evocavam a máxima "bandido bom é bandido morto".

Com o tempo, esses programas abrandaram-se, com uma abordagem comunitária, em que o apresentador, ao cobrar as autoridades por melhorias, tornava-se a voz do povo. As atrações, de todo modo, tiveram sucesso em camadas populares e mais à direita.

De 2020 a 2023, Sikêra Júnior recebia Jair Bolsonaro, de quem era apoiador, no Alerta Nacional, da RedeTV!. Já Datena tinha uma abertura incomum com o ex-presidente. Chegou a entrevistá-lo no hospital, enquanto o então candidato se recuperava de uma facada, desferida no atentado de 2018.

Agora, Datena distanciou-se de Bolsonaro. Sua campanha avalia que a retórica policialesca se dilui quando o apresentador diz que a mulher deve decidir sobre o aborto ou que a cracolândia é uma questão de saúde.

"Alô, Brasil", Jasson Goulart (Republicanos), candidato a vereador de Curitiba, atende o telefone, como se abrisse uma transmissão na TV.

Na RPC, afiliada da Globo no Paraná, ele narrou os jogos dos times do estado e, nos últimos anos, apresentou o Balanço Geral, da Record local.

Assim como seus colegas, ele usa a mesma estratégia nas redes: grava vídeos nas ruas e até entrevista os passantes. Goulart se compadece com a dificuldade de Datena em se adaptar à posição de entrevistado.

"É mais confortável entrevistar", diz ele. "Nasci em um lar cristão, sou filho de militar, sou de direita, quer dizer, de centro."

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