Para especialistas, governos devem agir juntos no combate ao comércio ilegal

'Muitas vezes a gestão da segurança pública se assemelha a uma pelada de várzea', diz Isabel Figueiredo

Nelson Marchezan Júnior (PSDB), prefeito de Porto Alegre, Isabel Figueiredo, membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Jonas Donizette (PSB), prefeito de Campinas, e o mediador e jornalista da Folha Fernando Canzian durante a terceira mesa de debates do seminário, em Brasília - Keiny Andrade/Folhapress
Marcelo Toledo
Brasília

A gestão da segurança pública às vezes se assemelha a uma pelada de várzea, segundo Isabel Figueiredo, membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

A afirmação foi feita durante o seminário Segurança e Desenvolvimento, promovido nesta terça-feira (20) pela Folha, com patrocínio do Etco (Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial), no Centro de Eventos e Convenções Brasil 21, em Brasília.

“Tem uma questão, é até clichê, que é a vontade política. Tem jogo profissional e pelada de várzea. Muitas vezes a gestão da segurança pública é a pelada de várzea. Vem a crise, vai todo mundo se preocupar com essa crise. Ufa, amainou a crise, a gente relaxa um pouquinho”, disse.

A resposta foi dada ao ser questionada pelo jornalista da Folha Fernando Canzian, que mediou o debate, sobre as dificuldades de integração de ações para combater o contrabando, durante a mesa de discussões sobre essa modalidade de crime e o avanço da criminalidade nas cidades.

Também participaram da mesa Jonas Donizette (PSB), prefeito de Campinas, e Nelson Marchezan Júnior (PSDB), prefeito de Porto Alegre.

A integrante do Fórum de Segurança disse ainda que o momento é propício para discutir o tema, em virtude da morte da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ). “Nunca se falou tanto em segurança como agora.”

Ainda conforme Figueiredo, os governos precisam agir juntos, superando o processo de alegar que determinada situação não é de competência dele. “Os estados culpam a União por não cuidarem de fronteira, e a União diz que [a segurança] é função complementar dela. Todos os atores são absolutamente fundamentais se queremos ter algum tipo de sucesso.”

Comércio popular

Já o prefeito de Campinas disse que é preciso separar os crimes ilegais do chamado comércio popular. “Os municípios teriam uma receita a mais de IPTU se não houvesse o problema do contrabando. Uma coisa é aquela senhora que faz trabalhos manuais e vende na feirinha da cidade, e outra é aquele grupo organizado que explora o sujeito que está lá na ponta vendendo.”

De acordo com Donizette, o papel dos municípios é disciplinar a questão do comércio e contribuir para que as pessoas entendam que muitas vezes comprar produtos contrabandeados causará problemas.

“Hoje, os dois maiores Orçamentos das prefeituras são de saúde e educação. Se você for fracionar esse orçamento, 30% dele é pertinente à segurança pública, com guarda armado no posto de saúde e patrulha na escola para ter segurança.”

Marchezan, prefeito de Porto Alegre, por sua vez, afirmou que não vê o combate ao comércio ilegal, às drogas e às armas sem a unificação de dados municipais, estaduais e federais.

“As informações dos municípios são gigantescas, dos estados, maiores ainda, e do governo federal, com [órgãos como] Banco Central, Coaf, abundam.”

O prefeito disse que conseguiu reduzir os índices de criminalidade na capital gaúcha, exceto em tráfico de drogas, crimes com o uso de armas e o comércio ilegal.

“A grande pauta, para mim, é só uma, comércio ilegal, e abrange e combate 80% da violência, da criminalidade, no Brasil.”

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.