Crise faz brasileiro buscar novas formas de proteção financeira

Aumenta procura por auxílio-funeral e para desemprego, dívida ou mensalidade escolar

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Tatiana Vaz
São Paulo

Incertos de que conseguiriam arcar com suas dívidas, pagar a escola dos filhos ou até viajar com tranquilidade durante a recessão econômica, os brasileiros encontraram em algumas modalidades de seguros a proteção financeira necessária para seguir com seus sonhos —e as seguradoras aproveitaram para lucrar com isso. 

De acordo com dados da FenaPrevi (Federação Nacional de Previdência Privada e Vida), os seguros de viagem, de vida e educacional, para cobertura de mensalidades de escolas, estão entre os tipos que mais crescem desde 2015.

Além deles, um dos mais contratados tem sido o de prestamistas, que cobre o pagamento de prestações de dívidas do titular da apólice em caso de desemprego, invalidez ou morte.

Segundo Edson Franco, presidente da FenaPrevi, o aumento é uma consequência da melhora de alguns indicadores financeiros, como o da demanda de crédito, de 12,5%.

Os contratos dessa opção são fechados tanto por varejistas quanto por bancos, que repassam o seguro de forma facultativa e parcelada para os clientes. 

“Desta forma, empresas asseguram o retorno do crédito concedido e segurados garantem que suas dívidas não sejam repassadas aos herdeiros, em caso de morte, invalidez ou desemprego”, diz Karina Massimoto, 39, superintendente executiva de seguros individuais e coletivos do grupo segurador do BB e Mapfre.

Seguros recebíveis, em que o segurado ganha parte do que aplicou, e os de vida contratados por pequenas e médias empresas para seus funcionários são modalidades de destaque no grupo segurador.

“No caso das empresas, penso que o seguro seja encarado como um benefício a mais para reter e atrair profissionais em um mercado de trabalho cada vez mais competitivo”, diz Karina Massimoto. 

Para José Varanda, 62, professor da Escola Nacional de Seguros, a procura maior por essas modalidades de crédito tem relação não só com a crise mas também com uma mudança comportamental dos segurados. “A preocupação maior das pessoas deixou de ser os bens materiais que ficam após morte ou invalidez para ser o zelo pelos entes.”

Isso explica, segundo ele, o motivo da demanda por produtos de auxílio-funeral ou até mesmo o de doenças graves, em que tratamentos de câncer, por exemplo, são cobertos. “São modalidades que se tornam mais populares até pelo meio econômico em que vivemos, de insegurança tanto financeira como física, com roubos e assaltos frequentes”, diz ele. 

Além de não querer dar preocupações financeiras à família, a tendência é haver uma preocupação maior com a garantia do progresso acadêmico de filhos e herdeiros. 

Foi por perceber uma demanda maior nesse sentido, vinda dos pais, que a corretora Marsh criou um produto para garantir o pagamento de mensalidades educacionais.

“Seguros educacionais são fechados por instituições de ensino, mas vimos que havia uma procura direta dos pais, preocupados com o desemprego, que pode afetar todo o ciclo de aprendizado dos filhos”, diz Odete Queirós, 39, superintendente da área de pessoa física da Marsh Brasil.

O produto, que cobre 3 meses de pagamento da escola em caso de desemprego e 12 em caso de morte do segurado, vendeu mais que o dobro do esperado pela companhia, desde dezembro.

 
Ilustração de Zé Vicente para o caderno sobre seguros
Zé Vicente

A corretora se prepara para lançar no mês de agosto produtos destinados a dois públicos distintos: jovens e idosos. Entre as novidades estarão as apólices de cobertura de danos para celulares novos e usados e produtos de vida que assegurem tratamento e custos em caso de quebra de ossos.

“Os jovens não compram mais casas e carros na mesma velocidade de antes, mas veem um valor grande nos celulares. Já os mais velhos viverão mais e com saúde”, diz a superintendente da Marsh Brasil.

A crescente preocupação com a garantia da segurança dos dados também faz com que seguro contra riscos cibernéticos, como vazamento de informações, seja uma tendência voltada a empresas. 

A busca pela modalidade já é real nos Estados Unidos e em países da Europa, mas ainda é muito nova (e cara) no Brasil. Ataques cibernéticos, como o WannaCry e NotPetya, que ocorreram em todo o mundo no ano passado, no entanto, têm ajudado a promover esse tipo de seguro. 

“Depois de maio, quando se deu o primeiro ataque do Wanna Cry, a procura pelo seguro cresceu 150% na companhia”, afirma Álvaro Igrejas, diretor de linhas financeiras, garantia e crédito da Willis Tower Watson, uma das poucas que oferecem o produto no Brasil.

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