Automação e rastreamento na cadeia agro reduz desperdício

Bom para os negócios e a terra, sistema racionaliza o uso de transporte e de água

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Claudia Rolli
São Paulo

A Empresa Brasileira de Pesquisa e Agropecuária  estuda uma forma de tornar a tecnologia de código de barras, QR Codes e etiquetas eletrônicas acessível a produtores de todos os portes.

Uma das parcerias da Embrapa é com a Associação Brasileira de Automação - GS1 Brasil, que já desenvolveu ações com supermercados para rastrear frutas e verduras. “O objetivo é tornar a agricultura mais sustentável”, diz Silvia Massruhá, chefe da Embrapa Informática Agropecuária.

Há sistemas assim em certas etapas do cultivo de soja, milho e algodão e da criação de gado, mas não de uma forma totalmente integrada.

Com informações desde a origem, como a de uma semente, por exemplo, é possível mapear o tipo mais adequado a cada região, quando é melhor plantar e sob quais técnicas. Os dados de origem, associados a outros, permitem o uso mais racional do solo, da água, dos tratores etc.

Pesagem automática de batatas na empresa Vapza, em Castro (PR) 
Pesagem automática de batatas na empresa Vapza, em Castro (PR)  - Divulgação

Frederico Bellini, gerente da associação de automação, diz que a rastreabilidade integral gera uma base de dados para que os produtores melhorem sua gestão financeira, com redução de perdas. 

“A informação mais qualificada, como o peso dos produtos, por exemplo, permite calcular melhor o transporte e reduzir a emissão de CO². Faz diferença não só nos negócios, mas no ambiente, usar 90 em vez de 100 caminhões”, diz ele.

A ideia de rastrear a agropecuária de ponta a ponta é inspirada no projeto Código Verde, implantado no Legado das Águas, maior reserva privada de mata atlântica no país. 

Localizada perto do Vale do Ribeira, a área de 31 mil hectares, administrada pela Votorantim, oferece serviços de reflorestamento e de compensação ambiental de áreas degradadas, além de mudas com códigos de origem, uma espécie de RG da planta.

Um grupo de empresas de tecnologia, com a associação de automação, desenvolveu uma forma de rastreabilidade para garantir a qualidade da planta desde o manejo até o destino final. 

“Assim identificamos matrizes melhores e descobrimos variedades genéticas, além de ter mudas que não só atendem à legislação, mas dão garantia para que produtores façam o reflorestamento adequado”, diz David Canassa, diretor da Reserva Votorantim.

Quando a muda ou a planta é adquirida e entregue, o produtor acompanha pelo celular, por um QR Code, todas as informações em sistema automatizado. O viveiro produziu 80 mil mudas em 2018 e quer  chegar a 130 mil neste ano.

Empresas buscam, na rastreabilidade, uma forma de tornar o negócio sustentável.

A Nestlé checa o bem-estar dos animais que produzem leite via um brinco eletrônico que coleta e fornece dados em tempo real sobre ruminação, movimento, temperatura. Monitora assim 30% do volume da produção orgânica. A meta é chegar a 100% até o final de 2020. 

Atualmente, a Nestlé tem 49 fazendas em processo de conversão da produção tradicional para orgânica (leia mais na pág. 12) e prepara o lançamento do Ninho orgânico para o mês que vem. 

Na Marfrig, gigante de alimentos à base de proteína animal, há monitoramento geoespacial dos fornecedores na Amazônia. Imagens de satélite buscam certificar a empresa de que as fazendas de onde compra animais estão livres de desmatamento, conflitos com terras indígenas e unidades de conservação. 

Dados da companhia mostram que 83% dos animais abatidos são de fazendas inseridas em um programa para garantir produção rastreada e com menos impactos ambientais. Em 2010, o programa começou com 12 fazendas. Em 2018, chegou a 1.318.

No cultivo da laranja, a Citrícola Lucato monitora do plantio ao varejo, com técnicas que reduziram em 25% o custo operacional. A produção chega a 40 mil toneladas/ano.

“Rastreamos o manejo no pomar, os produtos usados no cultivo e os de sanitização no ‘packing house’ (onde se faz armazenamento e beneficiamento) para deixar a fruta limpa e com mais tempo de prateleira. Assim, conseguimos melhor gestão da cadeia agro”, diz Carlos Alberto Lucato, diretor e sócio.

Com a redução dos índices de perda, não é preciso criar novas áreas de plantio para entregar a mesma quantidade de laranja. “A perda no varejo chega a 30%, a nossa é de 3%. Economizamos solo.”

A Lucato também investiu em irrigadores automatizados que levam água a mil hectares por sistema de gotejamento e estações meteorológicas para medir a exata quantidade necessária de água. 

“Com histórico de informações e monitoramento, também diminuímos a quantidade de pulverizações: significa deixar de usar menos 300 3 500 bombas de produto por ano na plantação”, diz Lucato.

Pulverizadores inteligentes também foram importados da Espanha para rastrear com mais precisão o processo. “A solução não existia aqui, pagamos 50% a mais nos equipamentos por causa dos impostos. Falta um olhar do governo para esse assunto”, afirma o diretor da empresa. 

Segundo ele, as técnicas empregadas permitiram aumento na produção de 20 a 40 toneladas por hectare para até 100 toneladas por hectare.

“Teria de ter quatro fazendas a mais para produzir o mesmo do que é feito em uma. Mais tratores, diesel, energia. Cada ação feita em uma área permite contribuir mais para o meio ambiente”, diz Lucato.

A Vapza, empresa que fabrica comida embalada a vácuo e cozida a vapor, aliou a automação à orientação de produtores, para que não desperdicem alimentos fora do padrão.

Um equipamento que descasca por pressão permite que batatas, mandioquinhas e outros itens de todos os portes sejam usados.

“Saímos de um rendimento de 50% para 65%”, diz Enrico Milani, diretor da Vapza. Agora, para cada quilo de alimento, 650 gramas são aproveitados. A automação faz diferença, quando se considera a produção de 550 toneladas/mês da fábrica, situada em Castro, no Paraná.

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