Hospitais e seguradoras recorrem a startups para inovar e cortar custos

Prontuário eletrônico e pulseira de monitoramento são exemplos de tecnologia que estão em uso

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Andrea Vialli
São Paulo

Seguradoras, farmacêuticas e hospitais estão se associando a startups de saúde em busca de novas ideias para reduzir despesas, tornar processos mais ágeis e testar ou agregar novas tecnologias.

O número dessas empresas, conhecidas como health techs, cresceu cerca de 20% no último ano, segundo dados da Liga Venture, aceleradora que conecta grandes companhias a essas startups.

Bruna Souza e Kleber Santos, fundadores da Health.D, no escritório em São Paulo
Bruna Souza e Kleber Santos, fundadores da Health.D, no escritório em São Paulo - Lucas Seixas/Folhapress

Já são 420 empresas de inovação na área de saúde e bem-estar no Brasil, de acordo com a Abstartups (Associação Brasileira de Startups), o que representa cerca de 4% do total do setor no país. A maioria delas foi criada a partir de 2014.

“De um lado, os empreendedores estão colocando suas soluções no mercado, que está reagindo positivamente a elas; de outro, grandes empresas do setor recorrem às startups para fomentar a inovação de forma livre”, diz Raphael Augusto, da Liga Ventures. 

Fundada em 2014 em Uberlândia (MG), a Vitta ilustra esse movimento: a startup iniciou suas atividades com a criação de uma ferramenta de prontuário eletrônico para médicos e software para a gestão de consultórios e clínicas. 

Em 2016, começou um plano de expansão ao adquirir sua principal concorrente, a ClinicWeb, que foi o primeiro prontuário eletrônico em nuvem do Brasil. A tecnologia hoje é utilizada por 15 mil médicos em 25 estados e por grandes empresas, como o Hospital Israelita Albert Einstein e o laboratório Fleury. 

Em 2018, a Vitta entrou no segmento de gestão de planos de saúde de empresas, experiência que permitiu à startup desbravar um nicho ainda inexplorado: neste ano, lançou o primeiro plano voltado para funcionários de startups. 

Para isso, associou-se a duas operadoras já consolidadas, Unimed e Omint, em um modelo de negócios em que os segurados têm acesso à rede médica e hospitalar da operadora parceira, além de atendimento complementar 24h por meio de aplicativo, com médicos da rede da startup. 

O plano, que atende a partir de três pessoas, tem preços 20% abaixo da média de mercado e admite ainda a vinculação de pessoas jurídicas, porque muitos colaboradores de startups prestam serviços nesse regime de contratação.

“As startups estão crescendo e há uma demanda reprimida por seguros de saúde, mas o mercado não estava atento a isso”, afirma Thiago Barros, diretor da Vitta.

Thiago Barros, diretor da startup Vitta, na empresa em São Paulo
Thiago Barros, diretor da startup Vitta, na empresa em São Paulo - Lucas Seixas/Folhapress

A aceitação do produto surpreendeu – em dez meses de operação, o plano de saúde já tem carteira de 80 mil usuários, e a lista de espera de quem têm interesse em fazer o plano já chega a 21 mil pessoas.

A Health.D, de São Paulo, é outra que já está testando seu produto com grandes empresas. 

A startup surgiu com a proposta de utilizar dispositivos como relógios inteligentes e pulseiras com sensores para monitorar em tempo real aspectos da saúde e comportamentais de pacientes, como frequência cardíaca e pressão arterial. 

Um aplicativo coleta e envia os dados a uma plataforma que, por meio de IA (inteligência artificial), cruza essas informações com bancos de dados de operadoras de planos de saúde e hospitais e faz o acompanhamento dos indicadores clínicos do paciente, enviando alertas quando a pessoa está entrando em situações de risco. 

“Com a IA, será possível agir em antecipação e ajudar a reduzir a sinistralidade das operadoras”, Kleber Santos, idealizador da startup. 

A Health.D nasceu dentro da FCamara, empresa brasileira de TI, e está validando seu modelo de negócios, que deve consumir até o final do ano R$ 750 mil em investimentos. 

“Com a internet das coisas, qualquer dispositivo poderá ser integrado a bases de dados de hospitais e operadoras”, explica Bruna Souza, cofundadora da Health.D.

Santos já importou 150 pulseiras, que estão sendo utilizadas para monitorar a saúde de pacientes em projetos pilotos realizados com hospitais e planos de saúde —o empresário não divulga os nomes das empresas. 

Além de companhias do setor, muitas startups desenvolvem produtos para os profissionais de saúde. 

A Pebmed cria aplicativos que ajudam na tomada de decisão clínica. A inspiração para o primeiro produto foi o livro de bolso dos médicos, usado para anotar referências sobre suas especialidades. 

Os sócios da startup traduziram a ideia para o mundo digital com o aplicativo Whitebook, que reúne mais de 6.000 conteúdos, entre artigos, atualizações de condutas e diretrizes em 28 especialidades médicas. 

“Queríamos desenvolver um produto que ajudasse os profissionais de saúde na ponta, no momento em que precisam tomar decisões rápidas e de qualidade, sem precisar recorrer aos buscadores de internet”, diz Bruno Lagoeiro, médico e um dos fundadores da Pebmed. 

A plataforma soma 200 mil usuários ativos, que usam o aplicativo todos os meses, e 69 mil assinantes da versão paga, que oferece mais recursos. 

Neste ano, a startup lançou outra ferramenta, agora para enfermeiros. O Nursebook traz mais de 700 conteúdos relacionados a condutas de enfermagem e já tem 4.500 profissionais cadastrados.

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