Clientes querem inclusão de atendimento à saúde mental em planos

Para professor de psiquiatria da USP, aumento na notificação de casos indica que mais pessoas estão cuidando da saúde mental

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São Paulo

Peça a um paulistano que pense num plano de saúde ideal. Entre tantos itens a serem valorizados, no topo aparece, logo depois de transparência, o atendimento à saúde mental, mostra pesquisa Datafolha feita em novembro. Os números da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) corroboram o que diz o levantamento. De 2012 a 2018, houve um aumento de 211% no número de internações psiquiátricas em que o paciente é acolhido durante o dia e volta para casa à noite.

Há duas teorias para explicar o crescimento do número de doenças mentais, de acordo com Wagner Gattaz, professor do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo. A primeira delas é que os transtornos realmente estão crescendo em número devido à soma de condições como herança genética e fatores ambientais. A segunda é que o hábito diagnóstico foi modificado porque há mais pessoas procurando psiquiatras.

"Médicos que antes reconheciam no paciente com dor muscular, tensão na nuca e enxaquecas um quadro somático osteomuscular podem detectar hoje um quadro de ansiedade ou de depressão", explica o psiquiatra.

Ricardo Salem Ribeiro (esq.), diretor médico da operadora Care Plus, Tereza Villas Boas Veloso, diretora-técnica médica SulAmérica, Wagner Gattaz, professor da FMUSP e médico no IPq-USP, e Cláudia Collucci, jornalista da Folha, durante debate no seminário Saúde Suplementar
Ricardo Salem Ribeiro (esq.), diretor médico da operadora Care Plus, Tereza Villas Boas Veloso, diretora-técnica médica SulAmérica, Wagner Gattaz, professor da FMUSP e médico no IPq-USP, e Cláudia Collucci, jornalista da Folha, durante debate no seminário Saúde Suplementar - Reinaldo Canato/Folhapress

Para ele, se mais diagnósticos significarem mais pessoas se tratando, há motivos para comemorar. "É uma ótima notícia. Tratar saúde mental é contribuir com menos sofrimento para os pacientes." 

A análise de Gattaz foi feita durante o debate que encerrou o 3º seminário Saúde Suplementar, promovido pela Folha nesta terça-feira (26), com patrocínio da Qualicorp e da Unimed e apoio da Anab (Associação Nacional das Administradoras de Benefícios) e da FenaSaúde (Federação Nacional de Saúde Suplementar).

Além do psiquiatra, participaram da mesa Ricardo Salem Ribeiro, diretor médico da operadora Care Plus, e Tereza Villas Boas Veloso, diretora técnica médica da SulAmérica. A mediação foi feita pela repórter especial e colunista da Folha, Cláudia Collucci.

Na SulAmérica, houve um crescimento de 180% em consultas psiquiátricas e de 80% no número de terapias em 2018 em comparação ao ano anterior. Por isso, a operadora lançou, em outubro, um programa voltado para a saúde mental. Em 42 dias, mais de mil beneficiários procuraram atendimento e, segundo Tereza Veloso, 11 suicídios foram evitados.

A Care Plus também desenvolveu um programa especial com o objetivo de cuidar da saúde mental. Para Ricardo Ribeiro, ainda há tabus a serem vencidos. "O empregado tem receio de compartilhar problemas dessa natureza com o chefe ou com o RH", disse.

Por isso, a primeira fase do programa é a sensibilização, em que gestores são treinados para receber queixas com uma postura de acolhimento, não de repressão. Depois, disponibiliza-se atendimento por telefone, 24 horas, com psicólogos. O primeiro contato pode ser anônimo.

A Care Plus e a SulAmérica não impõem restrições aos tratamentos de saúde mental. No caso da psicoterapia, por exemplo, a maioria das seguradoras tem um limite de 18 sessões por ano de contrato, a cobertura mínima obrigatória exigida pela ANS.

Gattaz também abordou a importância da discussão em âmbito profissional. Para ele, as empresas que optam por investir na saúde mental dos funcionários têm retorno imediato em produtividade.

"Quem tem depressão não falta, mas no local de trabalho não consegue produzir nem se concentrar", explica o professor. De acordo com a previsão da Organização Mundial da Saúde (OMS), a depressão será a doença mais incapacitante do mundo até 2020.

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