Open Banking permite juntar serviços de vários bancos em plataforma única

Consumidor será dono de seus dados e pode decidir compartilhá-los com outras instituições

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Brasília

O compartilhamento de informações bancárias é o pilar que sustenta a ideia do sistema financeiro aberto, ou open banking, cuja implantação entra em sua segunda fase no próximo dia 15 de julho.

Regulada pelo Banco Central a partir de modelos adotados ou em estudo em outros países, a modalidade se propõe a aumentar a concorrência bancária, oferecendo ao correntista a possibilidade de barganhar melhores taxas, prazos e serviços financeiros disponíveis no mercado.

A ideia é que o cliente possa ser correntista de um banco, ter cartão de crédito em outro e contratar um consignado em um terceiro, por exemplo, sem que para isso precise enfrentar a burocracia de preencher os mesmos cadastros em diferentes instituições, nem tenha que conferir diferentes aplicativos para conciliar sua vida financeira.

No open banking, todas as informações financeiras do cliente estarão centralizadas em uma única plataforma, e ele (e não mais o banco) será o dono dessas informações. Caberá ao correntista decidir se quer compartilhá-las (no todo ou em parte) com outras instituições financeiras.

Em plataformas chamadas agregadores, o consumidor pode centralizar as contas, fazer pagamentos e gerenciar investimentos mesmo que os produtos sejam de bancos diferentes. A ferramenta deve oferecer ainda uma espécie de cardápio personalizado com linhas de crédito e outros produtos financeiros de preços e características diversos.

Para Otávio Damaso, diretor de Regulação do BC, as possibilidades são infinitas. Como o banco é obrigado a compartilhar os dados autorizados pelo cliente, agregadores e plataformas de instituições menores podem virar uma espécie de Amazon financeira, atuando como um market place para produtos de parceiros.

“Tem gente pensando em como desenvolver produtos e serviços com base no open banking. A evolução será observada ao longo do tempo, com as soluções e ideias que o mercado for criando”, afirmou Damaso em evento do Instituto Brasileiro de Estudos de Concorrência, Consumo e Comércio Internacional.

Segundo o diretor do BC, a crença inicial era que o open banking seria um sucesso se, após a implementação, um grande fluxo de clientes migrasse suas contas para outros bancos. Isso mudou.

desenho mostra uma mão entregando uma chave a outra
Catarina Pignato

“Agora vimos que não, o cidadão não necessariamente quer trocar o provedor, ele pode gostar do serviço daquele banco e continuar sendo correntista, mas acha o cheque especial muito caro ou quer ter acesso a outros produtos em outras instituições. É uma mudança de parâmetro para medir a eficiência do sistema.”

Já existem agregadores que conectam todas as contas do usuário e permitem controle das finanças e outros que fazem cotação de crédito em diferentes instituições parceiras, como o Guia Bolso, mas o sistema aberto pode potencializar esses serviços.

Com o compartilhamento de informações, bancos concorrentes e fintechs vão poder avaliar com mais precisão o perfil do cliente, aperfeiçoar a análise de risco e reduzir a probabilidade de calote.

Como os juros de empréstimos variam conforme o perfil do tomador, informações detalhadas de seus gastos e de outros empréstimos (passados ou atuais) fazem diferença. Se o interessado for bom pagador, pode negociar juros menores com seu banco ou com os concorrentes.

O modelo abre caminho para uma maior segmentação do sistema financeiro, afirma José Luiz Rodrigues, especialista em regulação bancária —uma instituição pode se especializar em crédito consignado, outra em financiamento de veículos, por exemplo. “Quando há aumento da concorrência, as empresas se especializam no que são melhores para oferecer um produto mais competitivo, mais personalizado.”

Modelo pode crescer e agregar outros produtos bancários

O open banking pode virar open finance (finanças abertas), integrando todos os produtos financeiros, como seguros, pagamentos, investimentos e câmbio.

Em outubro do ano passado, o Banco Central criou a figura do iniciador de transação de pagamentos. São empresas autorizadas a intermediar o repasse de recursos entre contas de bancos diferentes. Em maio, o BC deu aval para o serviço de transferência de dinheiro do WhatsApp, que se enquadra na categoria. Outros devem surgir.

“Os iniciadores de pagamentos terão um papel muito importante, vão ligar a empresa que quer dar crédito às contas bancárias dos usuários que aceitam compartilhar seus dados para obter melhores taxas. Isso é um mercado novo, criado pelo open finance, que abre oportunidade a novos negócios e serviços”, declara Rafael Stark, presidente da fintech Stark Bank.

O sucesso do Pix, sistema de pagamento instantâneo lançado em 2020, mostra que o brasileiro está aberto a inovação, mas profissionais do setor não creem que o open banking tenha adesão tão rápida.

Diferentemente do Pix, realizado dentro do aplicativo do banco ou da fintech que o cliente já usa e em que confia, o open banking requer mais cuidado porque o consumidor vai compartilhar os dados bancários com instituições pouco conhecidas, o que gera mais desconfiança e requer maior adaptação.

Neste aspecto reside o perigo e está o grande desafio da implantação do sistema financeiro aberto. “A tecnologia é o maior instrumento de democratização, mas é necessário fazer com que a população entenda o modelo”, declara o diretor-executivo da Associação Brasileira de Bancos, Claudio Guimarães Junior.

O desconhecimento, na verdade, extrapola a população, afirma José Luiz Rodrigues. “Inclusive no meio técnico pouca gente sabe o que é open banking. É necessário que as instituições invistam na educação financeira.”


O que é open banking
O sistema financeiro aberto é a possibilidade de instituições financeiras compartilharem informações de seus correntistas com outras. Só ocorre com autorização do cliente, que define também quais dados podem ser compartilhados e com quem. A permissão pode ser suspensa a qualquer momento

Países que já adotaram
Reino Unido e Austrália

Onde está em análise
África do Sul, Canadá, EUA, México, União Europeia, Quênia, Nigéria, Índia, Rússia, Nova Zelândia, Singapura, Hong Kong e Japão

Cronograma no Brasil
2ª fase (início 15/7/2021)  
Compartilhamento de dados transacionais entre as instituições e os cadastrais autorizados pelo cliente (CPF, CNPJ, telefone, endereço etc.)

3ª fase (início 30/8/2021)
Compartilhamento de serviços de iniciação de pagamento (transferências) pelo Pix

4ª fase (início 25/10/2021)
Compartilhamento dos dados de instituições (como lista de produtos e preços) sobre demais operações (como câmbio, investimentos, previdência e seguros)

15/2/2022
Compartilhamento de transferências entre contas do mesmo banco e TED

30/3/2022
Compartilhamento do serviço de encaminhamento de proposta de operações de crédito

31/5 2022 
Compartilhamento de dados de clientes sobre demais operações, como câmbio, investimentos, previdência e seguros​

30/6/2022 
Compartilhamento de pagamento por boleto

30/9/2022
Compartilhamento de débito em conta


Glossário

Open finance 
Formato mais ampliado do open banking, quando todos os produtos passam a integrar o sistema, como seguros, pagamentos, investimentos e câmbio​

Fintech
Junção de finance technology, identifica empresas ligadas ao sistema financeiro especializadas em inovação e tecnologia. Podem ser de crédito (que concedem empréstimos), de pagamentos ou outros tipos de negócios (como de controle financeiro)

Iniciadores de pagamentos (Pisp)
Ou prestador de serviço de iniciação de pagamento (Pisp), são empresas autorizadas a intermediar o repasse de recursos entre contas em bancos diferentes. O WhatsApp recebeu em maio autorização do BC para atuar nessa categoria

Agregadores
​Plataformas que se conectam a todas as contas do usuário e centralizam dados de saldo e dívidas, para maior controle financeiro

API 
Canal de compartilhamento de dados entre instituições. São conjuntos de protocolos que permitem a um sistema se conectar com outro para trabalhar dados de maneira padronizada

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