Descrição de chapéu Meio ambiente

Vigiar e punir são as melhores formas de lidar com as queimadas, dizem debatedores

Problema está diretamente ligado ao desmatamento ilegal e precisa ser enfrentado em sua origem

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Belo Horizonte

Em 2020, o Brasil registrou a maior quantidade de queimadas em uma década. Ao todo, foram 222.797 focos de incêndio, número que só ficou atrás do recorde de 2010, quando o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) detectou 320 mil focos pelo país.

Historicamente, a Amazônia é o bioma mais atingido pelo fogo, e no ano passado não foi diferente. No entanto, também chamou atenção o aumento do problema no Pantanal que, após sofrer com incêndios florestais históricos, viu seus registros aumentarem 120% em relação a 2019.

As melhores formas de evitar que esse cenário continue se repetindo foram debatidas no seminário Meio Ambiente, realizado pela Folha nesta quarta-feira (2) com apoio do governo de Mato Grosso, da JBS e da Ball Corporations.

Segundo Rogerio Cavalcante, presidente da startup Um Grau e Meio, toda queimada começa tão pequena que poderia ser controlada com a sola da bota. “O que determina a possibilidade de apagar o foco é o tempo de detecção. Quanto mais rápido for a ação, menores serão os esforços de combate e os gastos.”

No entanto, ele diz que os incêndios no Brasil têm origem proposital, ligada ao desmatamento e à conversão de florestas nativas, o que faz com que a prevenção seja tão importante quanto a velocidade de reação.

“O fogo não acontece em grandes proporções por acidente ou por descuido. Existe a intenção de queimar a floresta para depois se beneficiar”, afirma.

É o que também pensa Vinícius de Freitas Silgueiro, engenheiro florestal e coordenador de inteligência territorial do Instituto Centro de Vida. Para ele, a fiscalização e a responsabilização dos criminosos são as melhores formas de resolver o problema.

Ele lembra que, em 2019, ocorreu o chamado “Dia do Fogo”, e a falta de repreensões mais firmes deixou uma sensação de impunidade no ar. “É preciso ficar evidente que aqueles que cometerem crimes serão punidos, inclusive com prisão”, diz.

Silgueiro refuta a visão já compartilhada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) de que a maioria das queimadas começa em comunidades ribeirinhas e indígenas. Segundo ele, os casos estão associados ao uso do fogo em grandes áreas desmatadas ilegalmente.

“A maior parte dos desmatamentos ocorre em imóveis de grande porte, acima de 1.500 hectares. Fazer isso custa caro e o pequeno produtor ou o indígena não têm acesso a esses recursos.”

O impacto climático das queimadas, porém, não se restringe a sua relação com o desflorestamento. Segundo Cavalcante, em anos mais secos, os incêndios chegam a ser o primeiro fator de emissão de carbono na Amazônia.


Veja, abaixo, vídeo do seminário


“Quando uma floresta nativa, que armazena carbono durante anos, pega fogo, o que a gente tem é uma explosão de CO2 na atmosfera.”

Na visão de Mauren Lazzaretti, secretária de Estado de Meio Ambiente de Mato Grosso, é primordial investir em estratégias preventivas, seja em relação à conscientização ambiental, redução do desmatamento ou tecnologias para melhorar o uso do fogo quando ele é necessário no manejo.

Ela também lembra que o desafio de combater os incêndios florestais deve ser compartilhado entre governo federal, estados, municípios e sociedade civil.

“Temos que apoiar os municípios para que eles assumam suas atribuições preventivas e repressivas, assim como cobrar que o governo federal nos apoie nas ações em áreas da união e unidades de conservação federal”, diz.

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