Descrição de chapéu Por que ir ao espaço

Gaúcho que luta por escurecer o céu é referência em astrofotografia

Ganhador de prêmio internacional, Egon Filter pretende inaugurar centro dedicado às estrelas

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Duque de Caxias (RJ)

Egon Filter, 57, vê nas fotos de estrelas e outros corpos celestes mais que estética e uma boa composição. Para o fotógrafo, elas são uma forma de “buscar a relação que os nossos antepassados tinham com o céu”.

Vencedor do prêmio de astrofotografia da International Dark-Sky Association, organização que combate a poluição luminosa, Filter se tornou uma referência no Brasil e no mundo para esse tipo de foto. Entretanto, o caminho que percorreu até o reconhecimento de seus pares foi longo.

Morador de Cambará do Sul, no Rio Grande do Sul, o primeiro contato que teve com uma câmera foi na infância, quando seus pais compraram uma máquina de fotografar de uma família alemã que tinha vindo para o Brasil. Embora ficasse muito animado e curioso, ele só podia fazer isso poucas vezes já que o preço para revelar as imagens era caro.

Assim que começou a trabalhar, aos 17 anos, se dedicou a dezenas de cursos e continuou a fazer isso ao longo de sua carreira. “Mesmo sabendo fotografar bem, eu ia fazer cursos, porque sempre tem coisa nova para aprender.”

Na década de 90, conta que impôs a si um desafio: viajar para países em que a Coca-Cola ainda não havia chegado. Ele achava interessante que suas fotos capturassem povos que não tinham sido tão afetados pela globalização. “Não dá, a Coca-Cola é mais rápida”, brinca.

Na época, ainda não tinha se encantado pelo céu e fazia fotos de pessoas. Os destinos foram muitos e bem distantes: Mali, Líbia, Burquina Faso, Tanzânia, Quênia, Etiópia, Himalaia, Mongólia, Irã, Síria, dentre outros.

Formado em engenharia química e direito, Egon era, até 2020, diretor de uma empresa petroquímica do grupo Saudi Aramco, maior companhia de petróleo do mundo. Há dois anos, entretanto, decidiu começar a planejar sua aposentadoria. “Na vida a gente faz escolhas e, em algum momento, tem que deixar de só trabalhar para os outros e pensar no que te faz feliz”, afirma Filter.

Hoje, vivendo da renda das imagens que faz e das aulas que ministra, o fotógrafo namora há seis anos Anna Zecca, uma ex-aluna por quem se apaixonou. Ele a define como uma pessoa muito bonita e tímida.

Egon é pai de Louise, 28, e Victória, 25, e conta, em tom de brincadeira, que a fotografia não conquistou tanto as filhas. “Essa é uma frustração minha, porque minhas filhas acham bacana, mas não querem passar o perrengue de ficar à noite em um lugar do interior.”

João Paulo Lucena, juiz na Justiça do Trabalho e amigo de Filter, diz que ele é muito independente e já passou por muitas situações desconfortáveis e inusitadas. “Egon já capotou com o carro, já atolou várias vezes, inclusive quando estava junto.”

Lucena destaca a simpatia que ele tem e conta que isso o ajudava a improvisar quando precisava se comunicar com pessoas de culturas muito diferentes.

Em 2011, Egon Filter decidiu viajar para a Noruega para fotografar a aurora boreal. Foram anos de viagens para o país nórdico para poder capturar o fenômeno óptico. Isso fez com que tivesse a ideia de se dedicar à fotografia dos astros em sua terra natal. Ele criou, então, um projeto chamado Caminho das Estrelas, no qual se propõe a fotografar o céu do Rio Grande do Sul em vários lugares do estado.

Para Filter, ter elementos da terra é importante na composição da imagem. Em suas capturas, sob as estrelas, encontram-se dunas, lagos, cânions, rochas, cascatas e outros tipos de formações da natureza gaúcha.

“Nossa galáxia tem 400 bilhões de estrelas. Não é possível que estejamos sozinhos. Combinar a beleza da noite estrelada com algo aqui do nosso planeta faz todo o sentido”, explica.

Visto que na astrofotografia há poucas referências para iniciantes, o engenheiro decidiu começar a dar aulas. Ele divide as lições em uma parte teórica, outra de viagem ao local onde fotografam e um último momento reservado para tratar as imagens. Hoje, limitado pela pandemia, ensina somente cinco alunos por turma.

William Clavijo, 66, e Flávia Dalla Santa, 49, participaram de workshops de Filter e, em 2020, ganharam o primeiro e o quarto lugar, respectivamente, no Brasília Photo Show, um dos maiores eventos brasileiros de fotografia.

Clavijo descobriu Filter pelas redes sociais e, desde então, já fez quatro workshops com ele. “Ele é um cara muito dinâmico e exigente; uma pessoa que detém muito conhecimento e é uma referência no Brasil.”

Flávia Dalla Santa, por sua vez, usou o professor como modelo na foto que lhe rendeu o prêmio de platina no festival. A arquiteta o descreve como “uma pessoa extremamente interessada, muito transparente e que gosta muito da troca”.

Para o futuro, o ex-executivo planeja criar o Centro de Referência de Astrofotografia, em Cambará do Sul, um lugar dedicado aos amantes desse tipo de trabalho. O projeto inclui aulas, exposições e espaço com telescópio para observação dos astros.

Além disso, junto com a secretaria de turismo, discute a possibilidade de tornar o lugar no primeiro município “dark sky” do Brasil, isto é, uma cidade com o projeto de iluminação que não polua visualmente o céu. Isso possibilitaria aos moradores e turistas contemplar as milhões de estrelas da galáxia.

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