Descrição de chapéu Voluntariado na Educação

Encontros de leitura ajudam a transformar estudantes e voluntários

Programa Myra atende alunos do ensino fundamental da rede pública

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São Paulo

Trabalhar como agente transformador e ser também transformado é o tipo de relato dado pelos voluntários do programa Myra, que atua para ampliar a capacidade de leitura de estudantes do 4º, 5º e 6º anos do ensino fundamental de escolas públicas.

Desenvolvido no Brasil desde 2016 pela Fundação SM, em parceria com a Comunidade Educativa Cedac, o programa foi inspirado no projeto Lecxit, criado em 2011 em Barcelona, Espanha. Em solo brasileiro, a iniciativa ganhou um nome de origem tupi --myra-- que remete ao conceito de grupo, de coletividade.

O programa trabalha com duplas: voluntário e estudante fazem sessões semanais de leitura, de uma hora de duração. Com a pandemia, os encontros têm sido virtuais. Os alunos são escolhidos pelas escolas após um exame, e os voluntários são selecionados pela Fundação SM.

Rosaly Chianca, voluntária do programa Myra de leitura compartilhada
Rosaly Braga Chianca, voluntária do programa Myra, de leitura compartilhada - Ronny Santos/Folhapress

Para se voluntariar, basta saber ler em português e ter disposição para acompanhar a evolução do estudante durante o ano letivo, que vai normalmente de março a novembro. Os voluntários participam de um curso de formação inicial e recebem suporte durante o processo. Interessados podem se cadastrar no site programamyra.org.

Após décadas como professora de geografia e autora de livros didáticos, a educadora Rosaly Braga Chianca, 69, de repente se viu com tempo livre o bastante para querer "procurar novos caminhos". Sua primeira experiência como voluntária remonta aos anos 1970, quando trabalhou com alfabetização de adultos na comunidade São Remo, zona oeste de São Paulo.

Rosaly entrou no Myra no início de 2020 e desde então trabalhou com duas estudantes do 6º ano da escola municipal Cacilda Becker, no Jabaquara (zona sul). "Acho que a coisa mais importante que tenho feito durante a pandemia, a que me dá mais satisfação, é estar no projeto Myra."

A professora conta que trabalhava 12 horas por dia na frente do computador e de repente se viu "sem nada para fazer". "Eu precisava me reinventar e foi muito legal porque sou leitora, ​amante de literatura, sempre tive muito contato com os livros e sempre propiciei isso para meus filhos e netos. Então pensei: 'Tem tudo a ver comigo esse projeto'."

Rosaly diz que o trabalho de mediação de leitura tem momentos de muita emoção. Relembra dois deles, quando apresentou "Romeu e Julieta", de William Shakespeare, a uma das alunas, e quando compartilhou com ela seu encanto pelo livro "Meu Pé de Laranja Lima", de José Mauro de Vasconcelos. "Nós choramos juntas, nos emocionávamos, também tivemos momentos de muita risada. Você vê que não é só a leitura, é uma troca muito rica de afetividade."

A voluntária é uma das 177 que formaram duplas com estudantes do programa em 2021. Desde 2016, foram 489. Neste ano, dez instituições participaram do projeto, entre escolas e bibliotecas da capital e do interior de São Paulo, além de unidades nos estados da Bahia e de Goiás.

Outra educadora que se somou ao grupo de voluntários é Simone Fonseca, 55, que também entrou no programa em 2020. Simone já tinha bagagem com voluntariado de leitura e contação de histórias para crianças em hospitais. A oportunidade de trocar conhecimento e poder sair da própria bolha é o que há de mais rico na experiência do voluntário, diz ela.

"Eu queria um lugar onde o trabalho fosse um trabalho de fato, com comprometimento e cuidado. Não tem remuneração financeira, mas as trocas e os ganhos vão por outro caminho, o retorno é muito poderoso, ilumina outros campos da vida", afirma.

Para Mariana Franco, gerente da Fundação SM e coordenadora do Myra, embora o estudante seja o público-alvo do projeto, o voluntário também acaba impactado, não apenas porque usufrui de uma estrutura de formação continuada, mas porque tem a oportunidade de se inserir e participar de uma nova forma na comunidade.

"Falo com conhecimento de causa, porque eu já fui voluntária. O voluntário se vê como agente transformador, como uma parte do processo. Muitos dizem que antes tinham outra visão da educação pública. Então existe o nosso comprometimento com o ensino, mas existe também o processo de entender que tem muita ação legal acontecendo nas escolas. É uma experiência que tem muita potência."

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