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Museus usam metaverso, NFT e games para conquistar geração conectada

Centros culturais e mostras imersivas também pretendem fomentar artistas jovens

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Karina Sérgio Gomes
São Paulo

Há dois meses, o Museu São Pedro, espaço no centro histórico de Itu, no interior de São Paulo, começou a preparar sua entrada no metaverso. A iniciativa é um exemplo de experimentação virtual no mundo das artes —que vai do vídeo mapping a mostras em games— para dialogar com uma geração conectada.

Fundador do Museu São Pedro e também artista e galerista, Marcos Amaro tem investido para tornar a instituição relevante no ambiente digital tanto quanto no físico.

Exposição "Portinari para Todos", no MIS Experience
Mostra com obras de Portinari no MIS Experience, em SP, usa projeções - Bia Stein/MIS/Divulgação

Na esfera virtual, o museu está se preparando para lançar seu espaço em um metaverso desenvolvido pela Oncyber.io, plataforma de NFT (sigla para tokens não fungíveis).

O ambiente tem salas expositivas virtuais que vão exibir tokens da coleção do museu —NFTs, que podem ser ilustrações, fotos ou vídeos vendidos com certificado de autenticidade digital que chegam a cifras milionárias. O lançamento deve acontecer no segundo semestre.

Além de se comunicar com um novo público, a ideia de explorar a fronteira do metaverso é se conectar a jovens artistas que não necessariamente fazem parte do circuito de arte tradicional —apesar de artistas consagrados também se interessarem pelo metaverso.

A proposta da instituição é trabalhar o endereço virtual simultaneamente ao espaço físico em Itu, que abriga mais de 2.000 obras —incluindo do pernambucano Tunga (1952-2016).

"Entendemos que o metaverso é muito interessante, mas não queremos deixar de ser um museu físico", explica.

Também por isso, prossegue Amaro, a instituição vai investir em uma sala dentro do espaço cultural para fazer sua primeira exposição de NFT. A coleção do museu tem cerca de 200 trabalhos no formato.

No dia 30 de outubro, está programada uma mostra na sede física do Museu São Pedro que incluirá a obra "111", trabalho do artista Nuno Ramos que faz referência ao massacre do Carandiru, que completa 30 anos em 2022.

Aproveitando a data e com o atrativo da instalação de Ramos, Amaro deve abrir outra exposição só de trabalhos em NFT, à qual o visitante terá acesso por meio de telas de led e óculos de realidade virtual.

Ele incentiva quem tem interesse em produzir trabalhos para a plataforma digital. "[O metaverso] é uma forma de você se relacionar com o mundo. Mas não a única", diz.

De acordo com o relatório de 2022 da Art Basel, feira de arte dos Estados Unidos, o valor das vendas de NFTs relacionadas à arte, que ocorreram fora do mercado de galerias e leilões, aumentou mais de cem vezes em 2021 em relação a 2020, atingindo US$ 2,6 bilhões (R$ 13,6 bilhões).

Museus e centros culturais também têm voltado suas atenções para outra esfera virtual, a dos games —a exemplo de Fortnite e Minecraft.

Com cerca de 140 mil jogadores mensais ativos no mundo, este último criou uma versão virtual do MAM-SP dentro de seu espaço. O projeto aconteceu a convite da agência África e da Microsoft no início da pandemia.

De acordo com Cauê Alves, curador-chefe do MAM, a ideia foi rapidamente abraçada por toda a equipe do museu.

"Nós precisávamos estar em outro lugar. Com o museu fechado, home office e ninguém aguentando mais aula e reunião por videoconferência, apostamos que as pessoas poderiam vir pelo jogo, participando de uma atividade lúdica e também de aprendizado pelo game", explica.

Aproveitando a linguagem de pixels do Minecraft, o MAM montou uma exposição considerando especialmente as obras de tradição geométrica ou que estabelecem diálogos com a arte concreta.

Ao visitar o museu, o jogador pode conhecer trabalhos de artistas como Athos Bulcão (1918-2008), Hélio Oiticica (1937-1980), Sérgio Sister e Paulo Pasta. A área de educação da instituição organiza com regularidade atividades que exploram o jogo, tanto com visitas para quem já é ativo quanto para ensinar quem não sabe a jogar.

"Não tem mais essa ideia de que o museu se encerra na visita. Pelo contrário, sabemos da importância dessas outras dimensões. Uma impulsiona a outra. Com a pandemia, não tem como não ser assim. O público virtual é maior que o presencial atualmente", diz Alves.

Também com a finalidade de se conectar a uma audiência tecnológica —mas com outro suporte digital—, nasceu em março a primeira mostra imersiva de um artista brasileiro. A exposição "Portinari para Todos" acontece até o fim de julho no MIS Experience, na zona oeste de São Paulo.

"Você tem toda uma geração que nasceu na era digital e já é público. O xis da questão é como conseguir fazer conteúdos que sejam relevantes usando essa linguagem. É o grande desafio", diz Marcello Dantas, curador do evento.

Na mostra, Dantas reuniu imagens de 150 trabalhos de Cândido Portinari (1903-1962), estabelecendo relações existentes dentro da obra que dificilmente poderiam ser viabilizadas no espaço físico.

"Se as pessoas têm interesse em visitar massivamente exposições imersivas e inclusivas, nós temos de responder criativamente a esse interesse", afirma o curador. Com um porém: "Interativo não é apertar a tela touch screen", diz ele, que defende que o espectador seja inserido como elemento ativo dentro desses projetos.

O MIS Experience foi inaugurado em novembro de 2019 pelo governo de São Paulo como um espaço dedicado a exposições com uso de vídeo mapping (técnica que cria projeções em superfícies), chamadas de imersivas.

A primeira, sobre Leonardo Da Vinci (1452-1519), recebeu 500 mil visitantes mesmo sendo interrompida pela pandemia.

Além de poder criar novas relações entre obras, essas mostras são possibilidades de apresentar a produção de um artista, reunindo vários trabalhos que dificilmente saem de suas instituições para viajar para outros países.

"A arte segue o caminho para onde vai a expansão da sociedade. O novo dinheiro que está sendo criado no mundo hoje é nascido especulativamente dentro de oportunidades digitais", diz Dantas, curador da mostra sobre Portinari.

"Será possível que toda obra arte [física] tenha uma NFT como uma espécie de certificado de origem e garantias? São perguntas que nós ainda não sabemos responder."


Seminário debateu metaverso e NFTs; Acompanhe:

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