Democratizar tecnologia é desafio para Nordeste elevar produtividade agrícola

Casos de sucesso na região, como fruticultura irrigada, foram apresentados em seminário realizado pela Folha

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São Paulo

Democratizar o acesso à tecnologia e ao conhecimento no campo é uma das tarefas que o país precisa cumprir para que haja um ganho na produtividade agrícola no Nordeste brasileiro.

O panorama e os desafios da região foram discutidos nesta segunda-feira (21), na sexta edição do seminário Agronegócio Sustentável realizado pela Folha, com apoio do Banco do Nordeste e da Agropalma.

Segundo Silvia Massruhá, presidente da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), existem exemplos bem-sucedidos na região que podem ser replicados. Para isso, é preciso elevar a inclusão digital e socioprodutiva. "Não temos que reinventar a roda", disse. "Precisamos mostrar ao produtor como a tecnologia pode agregar valor e reduzir custos."

Imagem mostra o palco do auditório da Folha onde aconteceu a sexta edição do seminário Agronegócio Sustentável. Participaram, da esquerda para a direita: Humberto Miranda Oliveira, presidente da Faeb (Federação da Agricultura e Pecuária da Bahia); Silvia Massruhá, presidente da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária); Fernando Canzian, repórter especial da Folha e mediador do debate; e Paulo Câmara, presidente do Banco do Nordeste.
Segunda mesa do seminário Agronegócio Sustentável discutiu a produtividade no Nordeste; participaram, da esquerda para a direita: Humberto Miranda Oliveira, Silvia Massruhá, Fernando Canzian e Paulo Câmara - Jardiel Carvalho/Folhapress

Ela cita uma parceria público-privada de sucesso que fez com que um produtor de milho em Pernambuco multiplicasse por nove sua produção, saltando de 15 para 135 sacas produzidas por hectare. "Isso se deu após o produtor organizar a gestão da propriedade e realizar um melhor trato do solo na prática."

No caso do milho, a produção total no Brasil deve se aproximar das 130 milhões de toneladas no ciclo 2022/23. Cerca de 12 milhões de toneladas deverão vir dos estados do Nordeste —no Centro-Oeste, o número esperado salta para 76 milhões de toneladas. Os dados são da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento).

Estima-se que o Brasil vá produzir 5.855 quilos de milho por hectare de área cultivada. A região Centro-Oeste ficará acima da média, com 6.521 quilos por hectare. Já a projeção para o Nordeste é a menor entre as regiões brasileiras: 3.641 quilos por hectare.

Contudo, existem nichos de produção com índices de produtividade superiores à média nacional esperada para o cultivo do grão. Na região Sealba (que engloba Sergipe, Alagoas e Bahia), algumas culturas se aproximam dos 9.000 quilos de milho produzidos por hectare plantado.

"Um dos gargalos para disseminarmos essa condição aos demais produtores é uma questão histórica: o déficit na qualidade da educação na região. Onde temos pessoas mais qualificadas, os salários, a saúde, a produção e o acesso à informação são melhores", afirmou Humberto Miranda Oliveira, presidente da Faeb (Federação da Agricultura e Pecuária da Bahia) e produtor de gado de corte e leite nos municípios baianos de Piritiba e de Miguel Calmon.

"Temos de parar de achar que o Nordeste é lugar de coitadinho e de culpar o clima, que não é nosso problema. Temos temperatura estável e sol o ano todo, água no semiárido e solos férteis, como o de Irecê (BA). Porém, temos um dos menores índices de conectividade no campo. Isso se liga à baixa disseminação de oportunidades e de educação", acrescentou.


Assista ao seminário:


A baixa conectividade rural impacta diretamente a produtividade. Sem o serviço, o produtor não aproveita o desempenho de máquinas agrícolas modernas, que transmitem informações em tempo real. Segundo dados da associação ConectarAgro, o campo tem hoje menos de 12% de cobertura. Nas cidades, o índice supera 98%.

Paulo Câmara, presidente do Banco do Nordeste e ex-governador de Pernambuco, defendeu que o modelo de educação vigente no Ceará e em Pernambuco seja replicado nas demais regiões do Nordeste. Em sua gestão no Executivo pernambucano, universalizou o ensino em tempo integral durante o ensino médio.

Além disso, citou o papel das escolas técnicas em prol da capacitação. "Em regiões com a agricultura forte, os cursos técnicos são voltados para essa área. É preciso preparar os jovens olhando o potencial de cada área", disse.

Oliveira enfatizou que o Nordeste jamais teve uma política de Estado focada no desenvolvimento agropecuário. "Precisamos de um projeto de longo prazo, construído com a participação de quem mora lá."

Fruticultura irrigada é um dos casos de sucesso no Nordeste

Um dos exemplos de maior sucesso é a fruticultura irrigada nas regiões do Vale do São Francisco, em Petrolina (PE) e Juazeiro (BA). Massruhá, da Embrapa, citou a tecnologia empregada na cultura de uvas de mesa pela unidade semiárido da estatal.

Trazido do Sul para exploração na região do semiárido nordestino, junto a parceiros públicos e privados, o modelo incentiva as exportações das frutas e diminui a dependência dos produtos importados do Chile, por exemplo.

"O Nordeste tem um potencial muito grande quando pensamos na insegurança alimentar do Brasil e no potencial da agricultura familiar de melhorar seus modelos de negócio para ajudar nesse sentido", afirmou ela. "Muitos empresários têm migrado para a fruticultura porque se produz mais com a mesma área, o que eleva sustentabilidade", disse Oliveira.

Câmara concluiu citando que os investimentos do Banco do Nordeste têm o intuito de aumentar a mecanização do campo ao conceder crédito para os agricultores. "Com o último Plano Safra, elevamos o tíquete médio [limite de valores que podem ser emprestados] de pequenos produtores de R$ 6.000 para R$ 12 mil após o Pronaf B, sendo R$ 12 mil para mulheres e R$ 10 mil para homens. O objetivo é, também, gerar mais renda e elevar a empregabilidade."

"Hoje, com os desafios que temos de competitividade, consumidor mais exigente e as mudanças climáticas, o pequeno produtor pode ser beneficiado com tecnologia, selo de sustentabilidade e rastreabilidade", disse Massruhá.

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