Energia limpa pode levar desenvolvimento verde ao Nordeste

Região é responsável por produzir 82,3% de energia solar e eólica do país

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São Paulo

O Nordeste é responsável por 82,3% de toda a energia solar e eólica produzida no Brasil. Juntos, os estados da região têm capacidade instalada de quase 30 gigawatts (GW) desses tipos de energia, de acordo com dados da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica). Esse número representa mais de 15% da capacidade de produção de energia elétrica instalada no país.

Além disso, 78% dos projetos em fase de construção no Brasil ficam na região, representando mais 10 GW de potencial de capacidade de produção de energia limpa.

O panorama da região Nordeste no setor foi discutido na quarta-feira (28), em seminário organizado pela Folha sobre energia sustentável no Brasil. O evento ocorreu na sede do jornal, em São Paulo, e foi mediado pela jornalista Alexa Salomão.

Seminário realizado pela Folha sobre energia sustentável no Brasil, discutiu o protagonismo do Nordeste na área de energia limpa; Participaram do debate Rogerio Marchini Santos, CFO da Órigo Energia, Fátima Bezerra, governadora do Rio Grande do Norte, José Aldemir Freire, diretor de planejamento do Banco do Nordeste e José Wanderley Marangon, secretário de pesquisa e desenvolvimento do Instituto Nacional de Energia Limpa; a mediação foi feita pela jornalista Alexa Salomão
Seminário realizado pela Folha sobre energia sustentável no Brasil, discutiu o protagonismo do Nordeste na área de energia limpa - Ronny Santos/Folhapress

Segundo Fátima Bezerra (PT), governadora do Rio Grande do Norte (RN), a transição energética é o maior desafio da geração atual. De acodo com ela, o estado que comanda pode exercer um papel importante no processo de mudança da matriz brasileira.

"A natureza nos presenteou com a melhor qualidade de recursos eólicos do mundo. Eu tenho orgulho de ser governadora de um estado líder na produção de energia eólica no Brasil. O Rio Grande do Norte já fez a sua transição, porque 95% da energia elétrica consumida vêm de fontes limpas", diz ela.

José Aldemir Freire, diretor de planejamento do Banco do Nordeste, diz que é importante pensar em ações para que a região não seja simplesmente exportadora da produção.

"O Nordeste não pode só gerar a energia barata e verde que vai descarbonizar o mundo e ficar transmitindo para o Sudeste produzir bens industriais e de consumo, que têm maior valor agregado", diz ele.

"Também não é interessante exportar hidrogênio verde para a Europa para eles produzirem seus bens industriais verdes e venderem de volta para o Brasil", completa.

Segundo ele, um pilar importante é construir uma estratégia adequada de financiamento desses projetos, que viabilize a instalação de novos empreendimentos e incentive a industrialização da região.

"Há uma necessidade de construir um parque industrial verde no Nordeste para aproveitar essa energia que queremos gerar. É importante em algum momento exportar, mas é fundamental ter essa estratégia de agregação de valor para a nossa indústria verde", diz ele.

José Wanderley Marangon, secretário de pesquisa e desenvolvimento do Inel (Instituto Nacional de Energia Limpa), também concorda com a necessidade de desenvolvimento da região para maior aproveitamento da energia limpa.

Ele diz que a produção nos parques eólicos e fazendas solares não gera tantos empregos, e que o cenário poderia mudar a partir da instalação de indústrias na região. Para ele, o governo deveria dar incentivos para promover isso. Outro caminho seria a busca de parcerias com países como a China para fortalecer a indústria no Nordeste.

Rogerio Marchini Santos, diretor financeiro da empresa Órigo, que atua na área de energia solar e possui um grande projeto de expansão no Nordeste, diz que, além da industrialização, os investimentos podem democratizar o acesso e incentivar o empreendedorismo de pequenos produtores.

"Isso é possível construindo parques solares que depois serão alugados para pequenas e médias empresas que passam a produzir a própria energia de forma limpa. Além de ter energia renovável, há economia, pois o valor gasto é menor do que o que seria pago a uma distribuidora", afirma.

Outra vantagem, diz ele, é a necessidade de pouco investimento, por se tratarem de projetos menores. Além disso, o impacto ambiental desses empreendimentos é mínimo e a energia é utilizada na mesma região em que é gerada, sem necessidade de transmissão.

A governadora do Rio Grande do Norte afirmou que o estado já desenvolve ações mirando um fortalecimento do setor como um todo, para além da exportação.

"Temos um projeto de instalação de um porto de indústria verde, que será o primeiro da América Latina voltado para a produção eólica offshore [em alto mar], e para o hidrogênio verde. Demos um passo muito importante com o estudo de impacto ambiental, que já definiu a área apropriada para a instalação."

O Banco do Nordeste, por sua vez, anunciou investimento de R$ 10 bilhões em infraestrutura para o setor de energia sustentável em 2023. Nos últimos cinco anos, o banco investiu cerca de R$ 19 bilhões na área eólica e perto de R$ 12 bilhões na solar.

O seminário foi organizado pela Folha e teve apoio do Banco do Nordeste e da Órigo Energia.

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