Escolas estimulam empatia e flexibilidade para capacitar alunos ao mercado

Organizações e empresas valorizam competências socioemocionais mais que apenas a experiência

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Salvador

Organizações internacionais e empresas têm destacado a importância das habilidades socioemocionais, como empatia e flexibilidade, em jovens que estão entrando no mercado de trabalho.

Para cargos de nível médio ou técnico, elas estão entre as três aptidões mais procuradas por empresas, segundo pesquisa feita em 2021 pelo Itaú Educação e Trabalho. Foram entrevistados 802 empregadores das áreas de serviços, comércio e indústria de todas as regiões do país. Essas competências foram mais citadas que a experiência e o conhecimento na área de atuação.

Laboratório Inteligência de Vida (LIV) no Colégio Integral, em Salvador - Rafael Martins/ Folhapress

Iniciativas na educação pública e privada buscam preparar jovens nesse sentido. Em Salvador, o Colégio Integral aderiu ao LIV (Laboratório Inteligência de Vida), plataforma criada pela Fundação Lemann para auxiliar professores no desenvolvimento socioemocional dos alunos.

Em uma aula do oitavo ano, por exemplo, um debate sobre desigualdade de gênero no mundo do trabalho foi iniciado a partir de um vídeo.

Segundo o professor Caio Teles Dultra, o projeto ajuda a aprimorar a capacidade de comunicação, além de aumentar a conscientização sobre diferentes temas.

Para Daniel Santos, do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Economia Social da USP, é fundamental que a escola atue nesse desenvolvimento. "No artigo 205 da Constituição está escrito que uma das funções sociais da escola é preparar para o mundo do trabalho, mas todo o arranjo educacional brasileiro está voltado ao preparo para o Enem."

Em 2022, a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo criou o programa Projeto de Convivência, que consiste em aulas semanais para trabalhar o respeito, a tolerância, a solidariedade, a perseverança e outras habilidades nos alunos dos primeiros anos do ensino fundamental.

Após um curso de formação, os professores têm acesso a um livro que serve de guia para gerar debates. Em rodas de conversa, as crianças são estimuladas a apresentar soluções para problemas.

Na Escola Estadual Professora Juventina Patrícia Sant’Ana, em Cidade Ademar, zona sul da capital paulista, mais de 800 alunos do primeiro ao quinto ano do ensino fundamental participam da iniciativa. Segundo Maria da Guia Souza, coordenadora pedagógica, o intuito é desenvolver as habilidades ao longo da grade curricular. Os assuntos discutidos são retomados nas aulas de português ou história.

No ensino superior, essas competências também são requisitos. Na segunda fase das seletivas de ingresso à graduação em medicina da Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein, entrevistas avaliam habilidades como comunicação e empatia.

"Os jovens são contratados pelas habilidades técnicas e dispensados porque não têm as socioemocionais", diz Carla Chiamarelli, gerente de gestão de conhecimento do Instituto Itaú Educação e Trabalho.

Quais são as habilidades emocionais?

O Instituto Ayrton Senna as divide em 5 grupos

  1. Autogestão

    Determinação, organização, foco, persistência, responsabilidade

  2. Engajamento com os outros

    Iniciativa social, assertividade, entusiasmo

  3. Amabilidade

    Empatia, respeito, confiança

  4. Resiliência emocional

    Tolerância ao stress, autoconfiança, tolerância à frustração

  5. Abertura ao novo

    Curiosidade para aprender, imaginação criativa, interesse artístico

"Os conhecimentos acadêmicos não são mais suficientes para o sucesso profissional", diz Andreas Schleicher, diretor de educação e competências da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).

Alemão, ele foi um dos formuladores do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), exame que avalia o conhecimento em leitura, ciências e matemática.

Para ele, o contexto brasileiro traz desafios. "Estudantes de estratos privilegiados têm muito mais apoio para desenvolver as habilidades socioemocionais."

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.