Descrição de chapéu Seminário Prevenção a gripe

Envelhecer é a conquista do século, mas não estamos preparados para ter qualidade de vida

Em evento realizado pela Folha, especialistas falam sobre cuidado à saúde, vacinação e envelhecimento

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

A grande conquista demográfica deste século é o envelhecimento, mas a população brasileira não está preparada para vivê-lo com qualidade de vida, de acordo com especialistas.

"A expectativa de vida quando eu nasci era de 47 anos. Quando eu me formei em medicina, em 1970, era de 57. Hoje está em 77, se não estiver em mais. São 30 anos de vida a mais no meu tempo de vida, 20 anos na profissional, e a gente não fala bem do envelhecimento. Fica sempre reclamando, acha um fardo", disse Alexandre Kalache, gerontólogo e presidente do Centro Internacional de Longevidade Brasil.

(esq. p/ dir.) Marlene Oliveira, Maisa Kairalla, Lauro Ferreira da Silva Pinto Neto, Alexandre Kalache, e a mediadora Cris Guterres no auditório da Folha de S. Paulo
(esq. p/ dir.) Marlene Oliveira, Maisa Kairalla, Lauro Ferreira da Silva Pinto Neto, Alexandre Kalache, e a mediadora Cris Guterres no auditório da Folha de S. Paulo - Lucas Seixas/Folhapress

Ele foi um dos participantes do segundo painel do seminário Além da Gripe: Avanços e Desafios na Prevenção, realizado pela Folha com patrocínio da Sanofi na quarta (20).

Para ele, as falas do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) sobre pessoas com mais de 60 anos durante a pandemia agravaram esse cenário.

Bolsonaro, por exemplo, relativizou as mortes desse grupo em decorrência do coronavírus, o que contribuiu para o crescimento do preconceito contra idosos e a baixa autoestima entre eles.

"Esse discurso foi fazendo com que a vacinação passasse a ser uma coisa secundária e isso tem um efeito muito deletério, sobretudo para aqueles afetados pela imunossenescência [conjunto de alterações que ocorrem na resposta imune, de acordo com o envelhecimento]."

De acordo com Lauro Ferreira da Silva Pinto Neto, médico com experiência em doenças infecciosas e membro do Comitê de Calendários da Sociedade Brasileira de Imunizações, médicos precisam passar a prescrever vacinas como a da gripe para pacientes com mais de 60 anos e outros grupos vulneráveis.

"A gente perde mais idosos por doenças imunopreveníveis do que crianças. A gripe joga o idoso na cama e ele perde qualidade de vida. Ele sai com dificuldade muscular, perde autonomia. Quando estamos falando de vacina, estamos falando de preservar o envelhecimento com qualidade", disse.

Marlene Oliveira, membro do Conselho do Global Heart Hub e presidente do Instituto Lado a Lado pela Vida, organização social dedicada à promoção de informações sobre saúde cardiovascular, câncer e saúde do homem, também destacou a importância da imunização de pessoas mais velhas, especialmente homens.

"O homem não se cuida. Quando você vai discutir a fase em que ele está mais idoso, ele leva o neto para se vacinar, mas não se vacina."

De acordo com ela, pacientes oncológicos também acabam fragilizados por falta de orientação sobre a manutenção do calendário de vacinação durante o tratamento.

Para além da vacinação, o envelhecimento da população é um desafio coletivo, marcado por diversas frentes, segundo Kalache.

O Brasil enfrenta hoje, de acordo com ele, um déficit de 28 mil médicos geriatras, frente a uma demanda de 30 mil. Ainda que especialistas se formem nos próximos anos, a necessidade por esses profissionais já terá aumentado exponencialmente.

Ele defendeu ainda que todas as faculdades de medicina tenham disciplinas de geriatria. "Hoje você entra [no curso] como se estivesse no século passado, para cuidar de criancinha e mulher grávida."

O ideal seria que, em todas as especialidades, os profissionais soubessem lidar com idosos, uma vez que os consultórios devem receber cada vez mais esse público.

Para Maisa Kairalla, médica geriatra e presidente da Comissão de Imunização da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, a população precisa se conscientizar e conversar com médicos sobre cuidados com a saúde.

"O Brasil precisa ensinar a população a envelhecer. Que bom seria se as crianças entendessem que viverão até os cem anos", disse.

A consciência de que se terá uma vida mais longa, acrescentou ela, não significa ter qualidade de vida.

Por isso, é necessário entender desde a infância a importância da prevenção de doenças, imunização por meio de vacinas, acompanhamento médico e tratamentos para uma vida plena.

"Não tem nada mais moderno do que envelhecer bem", concluiu.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.