Com cômodos amplos e janelões, imóveis antigos saem valorizados da pandemia

Procura por apartamentos com mais de 90 m aumenta cerca de 35% em imobiliária online

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São Paulo

Nos últimos meses, corretores e imobiliárias notaram um aumento na procura por apartamentos antigos, com cômodos amplos e arejados, que oferecem melhores condições para quem trabalha em home office ou simplesmente não sai de casa tanto quanto no passado.

Pouco tempo depois do início das medidas de distanciamento social impostas pela pandemia de Covid-19, Rafael Sorrigotto, 33, viu encolher o apartamento de 60 m² no centro de São Paulo que dividia com o marido e os dois filhos, um deles adolescente.

“Já tínhamos a ideia de mudar para um apartamento maior, com um terceiro quarto, mas não era uma urgência”, conta Sorrigotto. “Com a pandemia e todo mundo enclausurado em casa, percebemos que a mudança tinha que acontecer agora porque o espaço não estava dando conta.”

Rafael Sorrigotto, 33, no apartamento de 130 m² que comprou durante a pandemia, no centro de São Paulo 
Rafael Sorrigotto, 33, no apartamento de 130 m² que comprou durante a pandemia, no centro de São Paulo  - Jardiel Carvalho/Folhapress

Assim, eles venderam recentemente o imóvel e, no início de outubro, compraram um apartamento com 130 m² no bairro da Santa Cecília (também no centro).

O espaço fica em um edifício construído na década de 1970, com janelas grandes, chão de taco, ambientes amplos e pé-direito alto —características comuns em apartamentos mais velhos.

Além de exemplo de uma nova tendência no mercado, Sorrigotto é sócio da imobiliária Refúgios Urbanos, especializada em imóveis antigos e que ajuda a criar projetos de reforma de acordo com o gosto do cliente.

“Além dos juros baixos, a quarentena deu força para que as famílias procurem lugares mais confortáveis. É o que acontece nesses prédios mais antigos, em que a gente consegue uma organização de planta mais espaçosa”, afirma.

Na imobiliária digital QuintoAndar, houve um aumento de 34% em 2020 nas buscas por imóveis com mais de 90 m², na comparação com o ano anterior. Já entre aqueles que têm área abaixo desse tamanho, a queda foi de 23%.

O número de quartos também foi item importante na variação das buscas durante a pandemia, de acordo com a imobiliária. A procura por imóveis com três quartos subiu 9%, e, com quatro, 58% —enquanto aqueles com dois ou apenas um dormitório caíram 22% e 37%, respectivamente.

“Considerando o impacto da pandemia, muita gente teve a rotina afetada, passando mais tempo em casa e vendo a importância de ter um espaço adicional. A mudança para um imóvel maior ganhou peso. Esse perfil de busca se manteve até setembro, ou seja, é uma tendência do ano”, afirma o gerente-executivo de estratégia do QuintoAndar, Arthur Malcon.

De acordo com Malcon, essa tendência ajudou a manter estáveis os preços dos imóveis grandes —que em muitos casos são também mais antigos—, ao mesmo tempo em que houve retração no valor dos menores.

O diretor-executivo da imobiliária Lopes, Matheus de Souza, ressalta que os apartamentos mais velhos têm configuração diferente daqueles que estão sendo lançados agora. Um exemplo é a questão da varanda gourmet, cujo espaço décadas atrás era usado para construir salas ou quartos mais amplos.

“Hoje, pode valer mais a pena ter uma sala de estar ou um quarto maior do que uma varanda gourmet, que vai ser usada para dar um churrasco no máximo duas vezes por mês”, afirma Souza.

Sorrigotto diz acreditar que a tendência não deve ser passageira. “O mercado tem ciclos. Há uns quinze anos, muitos optaram por morar em cubículos, com áreas comuns maiores e mais confortáveis. De uns cinco anos para cá, notamos uma debandada em favor de uma maior qualidade de vida dentro do próprio apartamento, que vem sendo acelerada pela pandemia.”

Compactos seguem como boa opção de investimento

Apesar da valorização de imóveis grandes, representantes do mercado imobiliário não enxergam uma queda na procura por imóveis compactos.

Segundo Renata Firpo, diretora internacional e de planejamento estratégico da imobiliária Coelho da Fonseca, a venda desses apartamentos se mantém principalmente devido aos juros baixos e aos valores menores das unidades.

“Em períodos de instabilidade financeira, o mercado imobiliário é um dos melhores investimentos. Nessa lógica, os compactos têm preços mais baixos e acabam sendo mais visados pelos investidores.”

Alexandre Frankel, presidente da Vitacon, incorporadora e imobiliária que tem como uma das principais apostas um conceito de moradia móvel e compacta, diz que a quarentena fez com que a localização ganhasse ainda mais relevância na escolha do imóvel. “Muitos profissionais não conseguem trabalhar de forma remota, como médicos, enfermeiros, garçons”, afirma.

Apesar de registrar queda nas vendas e aluguéis da empresa entre março e abril, os números voltaram a subir nos meses seguintes.

“Para se ter uma ideia, lançamos em abril um empreendimento com 700 unidades na região da Paulista. Já vendemos 60% delas”, diz Frankel.

Para ele, os jovens dão menos importância para ter imóveis hoje do que no passado. O foco atual estaria na mobilidade e na praticidade. Portanto, ainda seria vantajoso investir em compactos em locais de alta procura e com uma boa infraestrutura no condomínio.

De acordo com Matheus de Souza, da Lopes, além desses fatores, o preço continua sendo uma questão essencial para que os imóveis pequenos sigam em voga.

“Uma família que quer comprar um apartamento de dois quartos gostaria de ter um imóvel de 70 m² mas, se não couber no bolso, vai acabar pegando um de 58 m²”, afirma.

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