Dois terços dos brasileiros temem interagir com desconhecidos online, diz Datafolha

Bancos tiveram maior percentual de confiança, 28% dos internautas classificam o serviço como muito seguro

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Pesquisa Datafolha informa: 65% dos brasileiros acham que não é nada seguro conversar com desconhecidos em redes sociais; outros 30% avaliam como um pouco seguro. O receio é maior do que o de compartilhar conteúdo pessoal como fotos e vídeos, atividades consideradas inseguras por 43% e um pouco seguras por outros 42%.

O resultado parece revelar certa incompreensão do usuário sobre o mundo digital. Interagir com estranhos na internet não traz necessariamente risco. O problema é expor informações pessoais que podem ajudar fraudadores, como lembra Fabio Assolini, diretor de pesquisa na América Latina da Kaspersky, empresa de segurança digital.

Na foto vemos o canto superior de uma tela de celular com os aplicativos: Facebook, TikTok, Instagram, Youtube e Twitter
Segundo pesquisa Datafolha, 65% dos brasileiros consideram que não é nada seguro falar com desconhecidos em redes sociais - Dado Ruvic/Reuters

Ao postar em rede social, o usuário necessariamente expõe alguns dados. Pode ser o local da foto ou das pessoas que nela aparecem. Parte disso ocorre porque arquivos gerados digitalmente, como fotos e vídeos, contêm informações subjacentes, nem sempre percebidas por quem não tem familiaridade com a tecnologia. São os metadados, que permitem, por exemplo, determinar o local onde a foto foi feita, ainda que o autor não divulgue.

Se quiser guardar sigilo e não souber excluir os metadados (o que exige certo traquejo técnico), melhor limitar o compartilhamento, recomenda o especialista.

A insegurança na interação digital com desconhecidos supera até a de atividades que envolvem dados financeiros. Fazer compras pela internet foi considerado nada seguro por 35%, em empate técnico com transações bancárias digitais, com 34%. Em contrapartida, foram os bancos que obtiveram o maior percentual de confiança, ainda que o índice seja modesto: 28% dos internautas classificaram os serviços como muito seguros.

Talvez esses números levem em conta que, em casos de fraudes, os usuários desses serviços são resguardados pelo Código de Defesa do Consumidor e quem provê o serviço pode ser responsabilizado.

Nos últimos anos, no entanto, o sistema de pagamento por Pix fomentou uma série de novas fraudes financeiras, com as quais público, bancos e autoridades ainda não estão completamente preparados para lidar.

Em 2021, o Banco Central implementou uma série de mudanças nas regras do Pix para aumentar a segurança do sistema após um aumento expressivo de golpes, sequestros e outros crimes. Entre elas está o bloqueio de operações consideradas fraudulentas.

Também nesse aspecto muitos usuários têm uma concepção pouco irrealista de insegurança, alerta Assolini. "Os brasileiros temem que alguém possa hackear seu WhatsApp, o que seria traumático, mas não se preocupam com algo que pode causar estrago até maior, a tendência de repetir a mesma senha em muitos lugares. Se ela vaza, toda a vida digital pode ficar comprometida." E a web não é exatamente boa em esquecer das coisas, uma vez que os dados estão expostos, difícil reparar os estragos.

Em todas as categorias da pesquisa as mulheres aparecem como mais desconfiadas que os homens. O nível de confiança cresce conforme aumentam renda e escolaridade dos entrevistados. O inverso acontece com a idade: quanto mais velhos, menos confiantes com o mundo online.

Na questão da privacidade, dentre as categorias analisadas, a que mais tira o sono dos entrevistados é a possibilidade de terem suas conversas ou mensagens acessadas por empresas e redes sociais, preocupação manifestada por 77% dos internautas.

Entenda a pesquisa

Levantamento trata de serviços online e comportamento do brasileiro conectado

  • Datafolha

    O levantamento que dá origem às matérias deste caderno especial foi feito pelo Datafolha e teve dois módulos, com duas pesquisas distintas, uma sobre as marcas favoritas dos brasileiros para serviços que envolvam a internet e outra sobre o seu comportamento online

  • Marcas

    A pesquisa sobre as marcas reflete 1.500 entrevistas feitas entre 21 e 28 de março de 2022, com brasileiros de 16 anos ou mais, de todas as classes sociais e regiões do Brasil, que acessam a internet todos os dias. A margem de erro do levantamento é de três pontos percentuais, e sua confiabilidade é de 95% –isso significa que, se cem pesquisas iguais a esta fossem feitas, em 95 os resultados estariam dentro da margem de erro

  • Comportamento

    A pesquisa sobre o comportamento online do brasileiro reflete 2.064 entrevistas feitas entre 16 e 24 de março com brasileiros de 16 anos ou mais, de todas as classes sociais e regiões do país. A margem de erro é de dois pontos percentuais, considerando um nível de confiança também de 95%

Atrás nos índices aparecem duas questões correlatas: 68% se preocupam com a forma como as empresas guardam seus dados pessoais e 64% temem que suas preferências e hábitos sejam usados para vender publicidade direcionada. Na prática, ambas fazem parte do mesmo processo e dependem do mesmo fator, o sistema de proteção das informações coletadas.

"Talvez haja uma percepção de que escutar [conversas pessoais] seja mais grave porque nos lembre espionagem, mas tudo é parte do mesmo fluxo de dados que a empresa vai deter sobre o usuário", avalia Bárbara Simão, coordenadora da área privacidade e vigilância do InternetLab, centro de pesquisa nas áreas de direito e tecnologia. "Tudo leva à guarda. Se a empresa é capaz de ouvir, também é capaz de guardar. A preocupação tem que ser sobre como ela protege aqueles dados."

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.