Descrição de chapéu Financial Times Apple

Congressistas americanos querem impedir Apple de usar chips chineses em novo iPhone

Empresa é acusada de 'brincar com fogo' se comprar componentes da YMTC, apoiada pelo governo de Pequim

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Demetri Sevastopulo Patrick McGee
Washington e San Francisco | Financial Times

Parlamentares republicanos dos Estados Unidos alertaram a Apple que enfrentará intenso escrutínio do Congresso se a empresa da Califórnia adquirir chips de memória de um polêmico fabricante chinês de semicondutores para o novo iPhone 14.

Os republicanos Marco Rubio, vice-presidente do Comitê de Inteligência do Senado, e Michael McCaul, líder do Comitê de Relações Exteriores da Câmara, disseram estar alarmados depois que uma reportagem na mídia afirmou que a Apple acrescentará a Yangtze Memory Technologies Co (YMTC) à sua lista de fornecedores de chips de memória flash Nand, que são usados para armazenar dados em smartphones.

"A Apple está brincando com fogo", disse Rubio ao Financial Times. "Ela conhece os riscos de segurança representados pela YMTC. Se seguir adiante, estará sujeita a um escrutínio sem precedentes do governo federal. Não podemos permitir que empresas chinesas ligadas ao Partido Comunista entrem em nossas redes de telecomunicações e em milhões de iPhones de americanos".

Quatro aparelhos iPhone apoiados de pé, sobre uma mesa branca.
Apresentação do novo iPhone 14 na sede da Apple, na California, em 7 de setembro. - Brittany Hosea-Small / AFP

Questionada sobre as preocupações do Congresso, a Apple disse ao FT que não usa chips YMTC em nenhum produto, mas que está "avaliando terceirizar a YMTC para chips Nand a serem usados em alguns iPhones vendidos na China."

A Apple disse que não está considerando o uso de chips YMTC em telefones comercializados fora da China. A empresa acrescentou que todos os dados de usuários armazenados nos chips Nand usados por ela foram "totalmente criptografados."

O FT informou em abril que a Casa Branca e o Departamento de Comércio estavam investigando denúncias de que a YMTC estaria violando as regras de controle de exportação dos EUA, ao fornecer chips para a Huawei, grupo chinês de equipamentos de telecomunicações.

"A YMTC tem extensos laços com o Partido Comunista Chinês e militares. Há evidências críveis de que a YMTC está violando as leis de controle de exportação ao vender mercadorias para a Huawei", disse McCaul ao FT. "A Apple efetivamente transferirá conhecimento e know-how para a YMTC, o que aumentará suas capacidades e ajudará o PCC a atingir suas metas nacionais."

Chuck Schumer, líder da maioria democrata no Senado, também levantou preocupações em particular com a secretária de Comércio, Gina Raimondo, sobre a YMTC, de acordo com uma fonte.

A YMTC não respondeu a um pedido de comentário sobre seu relacionamento com a Apple.

Em julho, um grupo bipartidário de senadores –incluindo Schumer e o democrata Mark Warner, presidente do comitê de Inteligência do Senado– instou o governo Biden a colocar a YMTC numa lista de exclusão do Departamento de Comércio que efetivamente impediria empresas americanas de fornecer tecnologia ao grupo chinês.

Os senadores, entre eles James Risch, líder republicano do comitê de Relações Exteriores, disseram que a YMTC deveria ser colocada na "lista de entidades", pois estava violando as regras de controle de exportação ao vender chips de memória para a Huawei.

Os legisladores também acusam Pequim de subsidiar a YMTC de maneiras que ajudariam a colocar a "campeã nacional" no caminho para dominar o setor vendendo chips abaixo do custo, como a China fez em outras áreas, como a indústria solar.

"A YMTC é uma ameaça imediata", escreveram eles a Raimondo.

Uma pessoa familiarizada com a posição do Departamento de Comércio disse que o órgão está ciente das preocupações e prepara uma resposta aos senadores.

Temor de que YMTC possa "solapar o mercado"

Um porta-voz disse que o Escritório de Indústria e Segurança do departamento estava realizando uma revisão das políticas relacionadas à China que "potencialmente procurariam empregar diversas ferramentas legais, regulatórias e, quando relevantes, policiais para manter tecnologias avançadas fora das mãos erradas".

McCaul, que deve se tornar chefe do comitê de Relações Exteriores se os republicanos conquistarem o controle da Câmara dos Deputados nas eleições em novembro, disse que os subsídios chineses à YMTC representam uma ameaça.

"Os subsídios maciços do PCC à YMTC significam que a empresa vai solapar o mercado. Isso provavelmente poderia devastar o mercado de chips de memória e dar à China ainda mais controle sobre essa tecnologia crítica de segurança nacional", disse ele. "Como os dados do mundo podem estar seguros se armazenados num chip feito por um ‘campeão nacional’ do PCC?"

Várias pessoas familiarizadas com a situação disseram que os legisladores perguntaram à Apple nos últimos meses sobre especulações relacionadas à YMTC, mas não obtiveram resposta. A Apple não comentou as investigações do Congresso.

As críticas à Apple surgem no momento em que o governo Biden intensifica os esforços para dificultar o acesso da China à tecnologia de ponta. Autoridades dos EUA disseram recentemente à Nvidia e à Advanced Micro Devices –duas fabricantes de chips dos EUA– que teriam que obter licenças especiais para vender a empresas chinesas processadores avançados usados em aplicações de inteligência artificial.

O Congresso aprovou uma legislação em julho que forneceria aos fabricantes de semicondutores dos EUA um fundo de US$ 52 bilhões para apoiar o desenvolvimento da indústria doméstica de chips e reduzir a dependência de empresas estrangeiras.

Ressaltando a importância da YMTC para a China, o presidente Xi Jinping visitou a empresa em 2018, depois que Washington impôs duras restrições à Huawei e à ZTE, outra fabricante chinesa de equipamento de telecomunicações.

"É muito chocante que a Apple esteja fazendo parceria com uma empresa de tecnologia chinesa (...) que está exatamente no mesmo setor que as outras empresas banidas e tem o apoio direto da liderança do PCC", disse Zach Edwards, especialista independente em tecnologia.

Colaborou Eleanor Olcott, em Hong Kong. Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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