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Conectar um terço das pessoas no mundo é desafio para empresas de internet

Falta de conectividade pode deixar parcela da população sem acesso a serviços essenciais

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Barcelona

Há hoje no mundo, segundo estimativa da GSMA, entidade que congrega as empresas de telecomunicação, 3,6 bilhões de pessoas sem acesso à rede de telefonia. Dessas, 3,2 bi estão em área de cobertura, mas são impactadas por outras barreiras que impedem o acesso. Uma das principais é o custo.

A situação ganha relevância conforme serviços essenciais se digitalizam, incluindo os do governo, comércio e bancários. Dada essa importância, especialistas chegam a debater se, ao ganhar esse status de utilidade básica como energia elétrica e saneamento, a conectividade deveria ser considerada um direito humano.

A exclusão, batizada de "divisão digital", foi um dos principais temas em debate no Mobile World Congress (MWC), evento de tecnologia focado em telecomunicações que aconteceu nesta semana em Barcelona.

Relatório da GSMA aponta que a parcela conectada da população mundial deve ir dos atuais 68% para 73% em 2030.

"Essa divisão é pior em países menos desenvolvidos, onde 36% da população está conectada. Se olhar para áreas urbanas e rurais, há uma grande diferença: 82% urbanos e 46% rurais", diz Robert Opp, chefe de digital do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento.

Gênero também influencia: globalmente, 69% dos homens estão conectados e 63% das mulheres. Nos locais menos desenvolvidos, 43% dos homens e 30% das mulheres, diz Opp.

"Estar do lado errado dessa divisão te torna mais vulnerável", complementa. Para ele, não importa muito se a questão vai ser entendida como um direito humano ou não, pois já está claro que é algo urgente e crítico para o desenvolvimento social.

Opp alerta que tecnologia, sozinha, não resolve o problema. Precisa fazer parte de um ecossistema com negócios, governo e regulação.

Segundo relatório da GSMA, fatores que contribuem para a falta de adesão em áreas conectadas são o custo de planos e aparelhos, além da falta de habilidades digitais, inutilidade (quando se está em lugar onde poucos serviços online são oferecidos) e insegurança.

Jamie Zimmerman, diretora de conectividade para mulheres e meninas da fundação Bill & Melinda Gates, cita um possível efeito cascata dessa desconexão, com alguns países sendo privilegiados por estarem online primeiro. "É uma receita para não só aumentar a pobreza de quem já é excluído, mas também trazer ainda mais fragilidade ao mundo", diz.

"Queremos serviços rápidos e confiáveis, acesso à informação, educar as crianças online durante uma pandemia. Todas essas necessidades são as mesmas em países de alta, média ou baixa renda", afirma Zimmerman. "Vemos não só uma divisão digital, mas também uma divisão na qualidade da conexão."

Yoon Chang, diretora de estratégia e políticas da Comissão Federal de Comunicações do Reino Unido, explica que o trabalho para conectar o país é baseado em um tripé: acesso, preço e habilidade. "Precisamos garantir não só o acesso, mas que ele seja seguro", diz.

O 5G aparece como esperança para melhorar a situação. Atilio Rulli, vice-presidente de relações públicas da Huawei América Latina, aponta que isso se dá, em partes, pelo custo menor do 5G. "Consome 35% menos energia em cada estação", exemplifica.

No Brasil, o leilão do 5G veio com obrigação de investimentos em infraestrutura para conectar mais lugares com o 4G.

Na prática, isso não significa a conexão ultrarrápida para todos. Anil Darji, chefe de arquitetura de rede da operadora britânica Three, explica que a estratégia usa um misto de frequências de onda diferentes. Só as mais altas permitem velocidades elevadas, uma das marcas da geração, mas as outras mantêm outros benefícios, como a latência baixa, estabilidade e capacidade para muitos dispositivos.

"Em algumas áreas, o investimento para implantar a tecnologia não é sustentável. No Reino Unido, o governo bancou o desenvolvimento em áreas rurais", disse.

O relatório anual da GSMA, divulgado ao longo do MWC, estima que o 5G será a forma majoritária de internet móvel em 2029, superando o 4G, com 54% das conexões. Em mercados mais desenvolvidos, deve corresponder a 85%.

Um outro estudo da entidade, específico sobre a América Latina, lançado em novembro do ano passado, mostra que o 4G deve prevalecer na região nos próximos anos. As previsões, até 2025, dizem que 67% das pessoas da região estarão conectadas à internet até lá, ante 60% em 2021.

O Brasil deve liderar a adesão ao 5G. A estimativa é que corresponda a 17% das conexões móveis, superando o 2G e o 3G combinados, com 5%, ante 16% em 2021.

A entidade aponta ainda que 4% da população da América Latina vive em áreas sem cobertura de telefonia. Outras 36% estão em áreas cobertas, mas não usam internet móvel.

Christopher Fabian, co-fundador e líder do Giga, projeto da Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) para levar internet a escolas, diz que a urgência do tema e o impacto da conexão são tão grandes que não interessa se é 5G ou não.

"Estou feliz com qualquer G", diz Fabian, citando que a evolução é rápida após a implementação. "É como se criássemos um monte de vampiros que querem mais e mais", brinca.

O mínimo necessário para uma escola seria 20 Mbps de download e 10 para upload. Para comparação, estudo da Huawei em parceria com a Softex (Associação para Promoção da Excelência do Software Brasileiro) colocou a média nacional acima dos 80 na banda larga.

Para chegar onde as torres de transmissão não chega, internet móvel por meio de satélite deve aparecer como opção nos próximos anos. Daniel Dooley, chefe comercial da Lynk, explica que a tecnologia que inventaram em 2016 para conectar-se a telefones a partir do espaço está em fase final de testes, e os resultados são animadores.

Telefonia por satélite já existe, mas a diferença nessas ferramentas novas é a capacidade de se conectar a qualquer telefone. Para o cliente, não faz diferença se comunicação é feita por uma estação na Terra ou a quilômetros de distância no céu.

O jornalista viajou a convite da Huawei

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