Microsoft lança no Brasil óculos que projetam hologramas

Dispositivo é usado no país em indústria aeroespacial e telemedicina

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São Paulo

A Microsoft lançou no Brasil os óculos Hololens 2, capazes de projetar hologramas interativos. O dispositivo chega às prateleiras nesta quarta-feira (22), a US$ 10.973 (R$ 57.540, na cotação atual) para a versão industrial e US$ 7.729 (R$ 40.529) para a comum, com promessas nas áreas de indústria, saúde e educação.

A tecnologia já é usada pela Embraer, por exemplo, para assistência remota. Vídeo apresentado pela empresa aeroespacial mostrou funcionários recebendo instruções à distância para consertar uma turbina de avião. O técnico que auxiliava remotamente podia enxergar o que era visto pelo colega, projetar manuais, desenhar setas e manter comunicação em tempo real.

O lançamento chega ao país com quatro anos de atraso. O aparelho está disponível nos EUA desde 2019 a preços a partir de US$ 3.500 (mais de R$ 15 mil).

No Brasil, é possível encontrar o dispositivo importado, em marketplaces, por valores acima de R$ 34.900 para o modelo comum.

Repórter da Folha, Pedro Santos Teixeira, usa óculos de realidade aumentada. Ele é um homem branco de bigode e cabelos cacheados. Veste camisa listrada
Repórter da Folha, Pedro S. Teixeira, testa os óculos de realidade mista da Microsoft lançados no Brasil nesta terça (21). As Hololens 2 tem uso voltado para o mundo corporativo - Zanone Fraissat/Folhapress

De acordo com o diretor de produto da Microsoft, Marcondes Farias, os óculos estavam prontos para lançamento no Brasil em 2021, mas a pandemia atrasou esse anúncio. "O dispositivo que vamos vender aqui foi feito para o mercado brasileiro. Nossa equipe desenvolveu adaptadores próprios para o padrão elétrico do Brasil, que só existe aqui", afirma.

As lentes de realidade aumentada também chegarão à Colômbia e ao México nesta semana. As informações foram divulgadas em evento na sede da Microsoft Brasil nesta terça-feira (21). A big tech vai prestar assistência técnica local às empresas que adquirirem o produto.

Os óculos de realidade virtual para uso recreativo oferecidos por Meta e Sony saem por menos de R$ 5.000 no Brasil.

A reportagem testou o modelo básico das Hololens 2. A holografia fica restrita ao campo de visão central, o que limita a imersão, mas diminui a exaustão durante o uso do aparelho.

A curva de aprendizado para usar o dispositivo é simples, e a interface é a mesma do Windows em computadores pessoais. A interação com projeções com dedos lembra as cenas do filme Minority Report (2002). Também é possível selecionar opções sem as mãos, ao encarar determinado ícone por cinco segundos.

A Microsoft também vai oferecer treinamento para uso dos óculos às empresas que adquirirem o produto.

O modelo industrial do aparelho custa mais devido a adaptações para limpeza e descontaminação exigidas pela certificação 14.644-14. O aparelho ainda tem design e materiais próprios para o trabalho no chão de fábrica.

"Os engenheiros se concentram em uma sede, e a linha de produção, em outra. Foi uma solução que adotamos na pandemia para atender aos cuidados sanitários e acabamos economizando dinheiro com deslocamento", diz o engenheiro de desenvolvimento de processos da Embraer Kleber Haure.

A Microsoft afirma em seu site que o aparelho pode economizar até US$ 4.500 por viagem de especialista, considerando deslocamento e hospedagem.

A startup especializada em telemedicina e treinamento de profissionais de saúde PBSF usa a Hololens 2 para auxiliar remotamente profissionais de saúde quando crianças nascem com falta de oxigenação no cérebro —quadro chamado de asfixia perinatal.

Segundo o fundador da startup Gabriel Variane, menos de 10% dos médicos do país estão preparados para lidar com essa condição. Por isso, o foco da empresa é levar informação, em tempo real, aos profissionais de saúde e prevenir complicações. A asfixia perinatal pode deixar sequelas: paralisia cerebral, déficit cognitivo e deficiências de audição e visão.

Em UTIs neonatal não é permitido usar celular, por risco de contaminação. A experiência sem as mãos das Hololens 2 garante que o dispositivo possa ser usado nesse ambiente hospitalar.

Para tanto, a startup desenvolveu um software próprio, o Neon Lens, com interface para realizar prognósticos e receber orientação por meio de videoconferência de um profissional da PBSF. O sistema já está em uso na Santa Casa de São Paulo.

A Microsoft disponibiliza afirma disponibilizar mais de 200 aplicativos próprios para seus óculos de realidade virtual. A big tech também tem um ambiente para desenvolvimento de software com código aberto, caso clientes queiram desenvolver as próprias funcionalidades.

"Publicamos documentação de código para facilitar esse processo", diz Marcondes, da Microsoft. O material está disponível nesta plataforma.

Embora a demissão de 10 mil funcionários anunciada pela Microsoft no começo do ano tenha afetado o setor de Hololens 2, Marcondes afirma que a big tech continua com foco total no dispositivo. "Nós dobramos nossos investimentos no metaverso industrial" —um ecossistema de soluções digitais para indústria.

O executivo diz que a empresa vai anunciar parcerias para implementar as Hololens 2 na linha de produção com mais empresas nas próximas semanas.

No último dia 15, o Google descontinuou seu serviço lentes de realidade aumentadas para o mundo corporativo —o Google Glass Enterprise Edition. Os equipamentos vão continuar funcionando, mas sem suporte de fábrica.

O APARELHO

O modelo comum das Hololens 2 pesa 566 gramas. As lentes do dispositivo ficam a cerca de cinco centímetros dos olhos, o que permite o uso de óculos corretivos sem embaçá-los. O sistema de som, à altura da testa, entrega som claro aos ouvidos a partir de um sistema de distribuição espacial de ondas.

A Microsoft promete autonomia de cerca de três horas para as baterias e permite conectar um powerbanking ao aparelho, para prolongar o período de uso.

É possível acessar os pacotes corporativos Microsofts Dynamics 365 e Microsoft Azure com as Hololens 2 para assistência em tempo real e elaboração de guias —similares a powerpoints multimídia.

Com um QR Code ao lado de uma máquina, por exemplo, um funcionário pode acessar toda a documentação sobre aquele aparelho, para fazer reparos ou aprender a manuseá-lo.

O acesso de parte dos softwares requer acesso à internet via rede wi-fi. De acordo com a Microsoft, é possível adaptar linha de produção com a produção de guias para trabalho desconectado à rede.

A big tech pretende adicionar aplicações de inteligência artificial, como as disponíveis no buscador Bing, para gerar imagem, texto e vídeo aos aplicativos das Hololens 2.

A versão nacional das Hololens 2 vão ser distribuídas por Ingram e SMLIT em todo o país.

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