Quase metade das redações já adota inteligência artificial

Levantamento de associação mundial de editores indica que maioria dos experimentos é feita sem diretrizes

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Taipei

Passados seis meses do impacto com o lançamento da versão de teste do ChatGPT, a Wan-Ifra (Associação Mundial de Editores de Notícias, na sigla em inglês) levantou que quase metade das redações jornalísticas, ao redor do mundo, já estão trabalhando com inteligência artificial generativa.

Foram ouvidos 101 editores, repórteres e outros profissionais, em trabalho conduzido pela consultoria Schickler, e 49% responderam "Sim" à pergunta "Sua redação está trabalhando ativamente com ferramentas de IA generativa como o ChatGPT?". Por outro lado, só 20% das redações adotaram diretrizes para o uso.

Os entrevistados se mostraram mais preocupados com inexatidão de informações e baixa qualidade do conteúdo (85%) como efeito negativo da adoção de IA pelo jornalismo. Plágio ou violação de direito autoral veio em seguida (65%). Ameaça ao emprego se limitou a 38%.

Aplicativo do ChatGPT em smartphone - Olivier Morin - 6.jun.2023/AFP

Os principais usos até aqui têm sido criação de texto (54%), mas de forma limitada, sem geração de conteúdo próprio; pesquisa simplificada (44%), correção de texto e melhoria de fluxos de trabalho (43%). Criação de conteúdo e tradução vêm um pouco abaixo (32%).

Pesquisa e criação de conteúdo, em percentuais relativamente elevados, foram resultados do levantamento que preocuparam profissionais após a divulgação pela Wan-Ifra, devido aos relatos nos últimos meses de que o ChatCPT por vezes inventa informação.

A grande maioria dos entrevistados aprovou a adoção, com 70% afirmando projetar que as ferramentas serão úteis para os profissionais. Na avaliação de Dean Roper, diretor da Wan-Ifra, "os resultados mostram um quadro de otimismo e algum ceticismo e de experimentação em movimento".

A entidade vai abordar IA no Congresso Mundial de Jornalismo que realiza daqui a três semanas, em Taipé, com editores de jornais como The New York Times e South China Morning Post, de Hong Kong. O evento é organizado pelo Lianhe Bao (United Daily News), jornal do maior grupo privado de mídia em Taiwan.

Outro agrupamento jornalístico de caráter global, a Inma (International News Media Association), que reúne cerca de 900 veículos, realizou na semana passada o seu congresso anual, em Nova York, nos EUA. As primeiras experiências realizadas com IA generativa também concentraram as discussões.

O publisher do NYT, A.G. Sulzberger, foi dos mais críticos, dizendo que a inteligência artificial "quase certamente dará início a uma torrente sem precedentes de porcaria —para usar a palavra científica— no ecossistema de informação, envenenando-o e deixando as pessoas completamente confusas".

Citou vídeos de "deep fake" já em circulação na pré-campanha presidencial americana para enfatizar que "o ecossistema está para ficar muito, muito pior", o que poderia até favorecer o jornalismo tradicional, pela confiança que oferece por adotar "processos que distinguem se as coisas são reais".

Sulzberger e Fred Ryan, do Washington Post, disseram ter montado comissões para estudar o que fazer. Entraram nas discussões executivos de várias partes, como Catherine So, do SCMP, e Praveen Someshwar, do Hindustan Times, este saudando que IA "libera a capacidade de nossos jornalistas".

Paralelamente, editores de publicações de referência têm tornado seus planos para IA públicos. Roula Khalaf, do Financial Times, com maior repercussão, escreveu que isso irá aumentar a produtividade e "liberar repórteres e editores para se concentrarem em gerar e reportar conteúdo original".

Na Reuters, a editora-chefe Alessandra Galloni e o editor de ética Alix Freedman definiram alguns "pilares", o primeiro deles sendo que a agência irá abraçar a nova tecnologia. O segundo, que "repórteres e editores serão responsáveis por dar sinal verde a qualquer conteúdo que dependa de IA".

Em contraponto à atenção que o ChatGPT ganha nas redações, o Centro Tow, da principal escola de jornalismo dos EUA, Columbia, produziu estudo dando números ao "hype" que as mesmas redações adotaram desde novembro, que repete o que se viu com criptomoedas, realidade virtual e outras ondas.

Defendeu mais nuance e contexto e menos "manchete hiperbólica". Cobrou que as redações adotem diretrizes para a cobertura, sugerindo especificamente barrar a antropomorfização de IA, que vem se espalhando por enunciados em que o ChatGPT e concorrentes supostamente falam, por exemplo, "Eu quero viver".

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