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Google e Universal Music negociam acordo sobre 'deepfakes' de IA

Nova tecnologia que imita vozes de artistas é vista como uma ameaça crescente

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Anna Nicolaou Madhumita Murgia
Nova York e Londres | Financial Times

O Google e a Universal Music estão em negociações para licenciar melodias e vozes de artistas para canções geradas por inteligência artificial, enquanto a indústria da música tenta monetizar uma de suas maiores ameaças.

As conversas, confirmadas por quatro pessoas familiarizadas com a questão, visam estabelecer uma parceria numa indústria que luta com as implicações da nova tecnologia de IA.

A ascensão da IA generativa gerou uma onda de canções "deepfake" (literalmente, falsificação profunda) que podem imitar de forma convincente as vozes, letras ou sons de artistas consagrados, muitas vezes sem seu consentimento.

Imagem mostra Taylor Swift olhando para o lado. Ela veste um vestido dourado.
A cantora Taylor Swift em Toronto, no Canadá - Mark Blinch - 9.set.22/Reuters

A voz de Frank Sinatra foi usada numa versão da canção hip-hop "Gangsta's Paradise", enquanto a de Johnny Cash foi empregada no single pop "Barbie Girl". Um usuário do YouTube chamado PluggingAI oferece músicas imitando as vozes dos falecidos rappers Tupac e Notorious B.I.G.

"A voz de um artista costuma ser a parte mais valiosa de seus rendimentos e sua personalidade pública, e roubá-la, em qualquer meio, é errado", disse o advogado geral da Universal Music, Jeffrey Harleston, a legisladores americanos no mês passado.

As discussões entre o Google e a Universal Music estão em estágio inicial, e não há previsão de lançamento do produto, mas o objetivo é desenvolver uma ferramenta para que os fãs criem essas faixas de forma legítima e paguem por isso aos proprietários dos direitos autorais, segundo pessoas próximas do caso. Os artistas teriam a opção de aceitar ou não, disseram as pessoas.

A Warner Music, terceira maior gravadora, também está conversando com o Google sobre um produto, disse uma pessoa familiarizada com o assunto.

Executivos de música comparam o surgimento de músicas geradas por IA aos primeiros dias do YouTube, de propriedade do Google, quando os usuários começaram a adicionar canções populares como trilha sonora dos vídeos que criavam. A indústria da música passou anos lutando contra o YouTube por violação de direitos autorais, mas os dois lados estabeleceram um sistema que agora paga à indústria musical cerca de US$ 2 bilhões por ano por esses vídeos gerados por usuários.

À medida que a IA se desenvolveu, algumas grandes estrelas manifestaram apreensão de que seu trabalho seja diluído por versões falsas de suas canções e vozes.

A questão ganhou destaque no início deste ano, quando uma música produzida por IA imitando as vozes de Drake e The Weeknd viralizou na internet. A Universal Music, gravadora de Drake, Taylor Swift e outros músicos populares, removeu a canção das plataformas de streaming por violação de direitos autorais.

Em abril, Drake criticou outra música que usava IA para imitar sua voz, chamando-a de "a gota d'água", enquanto o rapper Ice Cube descreveu essas faixas clonadas como "demoníacas".

Outros artistas adotaram a tecnologia. A artista eletrônica Grimes se ofereceu para deixar as pessoas usarem sua voz em canções geradas por IA e dividir os royalties.

"Há algumas coisas boas", disse ela à revista Wired nesta semana, referindo-se às faixas de IA usando sua voz. "Elas estão tão na linha do que meu novo álbum poderá ser que foi meio perturbador... Por outro lado, é como: 'Oh, eu posso viver para sempre'. Eu apoio a autorreplicação."

Robert Kyncl, executivo-chefe da Warner Music, disse na terça-feira (8) a investidores que "com a estrutura certa no lugar" a IA poderia "permitir que os fãs prestem a seus heróis o maior tributo por meio de um novo nível de conteúdo direcionado ao usuário... incluindo novas versões cover e mash-ups" [combinação de músicas diferentes].

Ele acrescentou que os artistas devem ter a opção de aprovar. "Alguns podem não gostar, e isso é totalmente certo", disse ele.

Para o Google, a criação de um produto musical pode ajudar a empresa a competir com rivais como a Microsoft, que investiu US$ 10 bilhões na empresa líder em inteligência artificial OpenAI, proprietária do modelo líder de mercado conhecido como GPT-4.

O modelo já foi integrado ao mecanismo de busca e software de produtividade Bing, da Microsoft, e o Google correu para alcançá-lo lançando seus próprios produtos de IA, como o chatbot Bard.

A Universal Music pediu em abril que as plataformas de streaming evitem que os serviços de IA copiem suas músicas sem permissão ou pagamento, informou o Financial Times. A empresa, que controla cerca de um terço do mercado global de música, pediu ao Spotify e à Apple que cortem o acesso a seus catálogos de músicas para desenvolvedores que os usam para treinar a tecnologia de IA.

Lyor Cohen, ex-executivo de uma gravadora que lidera a divisão de música do YouTube, está trabalhando no projeto para o Google, segundo pessoas familiarizadas com o assunto.

Em janeiro, o Google apresentou num artigo acadêmico uma versão de software de música com inteligência artificial que era capaz de gerar música a partir de descrições de texto, como "jogo de arcade animado" ou "reggaeton fundido com dança eletrônica", e comandos mais detalhados como "uma melodia tranquila de violino apoiada por um riff de guitarra distorcido".

Na época, a empresa disse que "não tinha planos" de lançar a ferramenta comercialmente, e os autores apontaram limitações, incluindo possível violação de direitos autorais, quando o software reproduzia músicas de artistas específicos a partir de seus dados de treinamento. Em maio, no entanto, o Google lançou a ferramenta experimental conhecida como MusicLM para os consumidores e disse que está trabalhando em colaboração com artistas para desenvolvê-la.

Google, Universal Music e Warner Music não quiseram comentar.

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