Sede da OpenAI, dona do ChatGPT, abriga biblioteca vintage; veja fotos

Empresa é acusada de usar conteúdo protegido por direitos autorais sem permissão

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Cade Metz
San Francisco | The New York Times

A biblioteca de dois andares tem tapetes orientais, luminárias pontilhando suas mesas e fileiras de livros de capa dura alinhadas com suas paredes. É o ponto arquitetônico central dos escritórios da OpenAI, a startup cujo chatbot ChatGPT mostrou ao mundo que as máquinas podem gerar instantaneamente sua própria poesia e prosa.

O prédio, antes uma fábrica de maionese, parece um escritório de tecnologia típico, com espaços de trabalho comunitários, copas bem abastecidas e salas de cochilo privadas espalhadas por três andares no Mission Disctrict de San Francisco.

Mas então há essa biblioteca, com a atmosfera de uma sala de leitura da era vitoriana. Suas prateleiras oferecem desde "A Ilíada" de Homero até "O Início do Infinito" de David Deutsch, um dos favoritos de Sam Altman, CEO da OpenAI.

Biblioteca da sede da OpenAI, em San Francisco, nos EUA
Biblioteca da sede da OpenAI, em San Francisco, nos EUA - Christie Hemm Klok - 4.abr.2024/The New York Times

Construída a pedido de Altman e abastecida com títulos sugeridos por sua equipe, a biblioteca da OpenAI é uma metáfora apropriada para a empresa de tecnologia mais falada do mundo, cujo sucesso foi impulsionado pela linguagem —muita e muita linguagem.

O chatbot da OpenAI não foi construído como um aplicativo qualquer: o ChatGPT aprendeu suas habilidades analisando enormes quantidades de texto que foram escritos, editados e selecionados por humanos, incluindo artigos de enciclopédia, notícias, poesia e, sim, livros.

A biblioteca também representa a contradição no cerne da tecnologia da OpenAI. Autores e empresas de mídia, como o New York Times, estão processando a empresa, alegando que ela usou ilegalmente conteúdo protegido por direitos autorais para construir seus sistemas de IA. Muitos escritores se preocupam que a tecnologia acabe por tirar seu sustento.

Muitos funcionários da OpenAI, por outro lado, acreditam que a empresa está usando a criatividade humana para alimentar mais criatividade humana.

Eles acreditam que seu uso de obras protegidas por direitos autorais é considerado "fair use" pela lei dos Estados Unidos, porque estão transformando essas obras em algo novo.

"Dizer que esse é um debate público agora é um eufemismo", disse Shannon Gaffney, cofundadora e sócia-gerente da SkB Architects, empresa de arquitetura que renovou a sede da OpenAI e projetou sua biblioteca.

"Embora as coisas possam parecer estar indo em direções diferentes, a biblioteca serve como um lembrete constante da criatividade humana."

Quando a OpenAI contratou a empresa de Gaffney para renovar o prédio em 2019, Altman disse que queria uma biblioteca com uma aura acadêmica.

Ele queria que lembrasse a Green Library, a biblioteca da Universidade de Stanford, onde ele foi estudante por dois anos antes de desistir para construir uma rede social; a Rose Reading Room, uma sala de estudos no último andar da Biblioteca Pública de Nova York; e o bar com atmosfera de biblioteca dentro do agora extinto Nomad Hotel, 15 quarteirões ao sul da Rose.

"A sala de jantar e de estar na minha casa estão dentro de uma biblioteca —livros do chão ao teto por todo o caminho", disse Altman em uma entrevista. "Há algo sobre estar no meio do conhecimento nas prateleiras em vasta escala que eu acho interessante."

Muitos títulos, como "English Masterpieces, 700-1900" [Obras-primas em Inglês, 700-1900] e "Ideas and Images in World Art" [Ideias e Imagens na Arte Mundial], parecem os volumosos livros de capa dura que decoradores profissionais colocam estrategicamente em saguões de hotéis porque parecem adequados. Ainda assim, a biblioteca é um reflexo da organização que a construiu.

Em uma tarde recente, dois livros de bolso estavam lado a lado na altura dos olhos: "Birds of Lake Merritt" [Pássaros do Lago Merritt] (um guia sobre os pássaros encontrados em um refúgio de vida selvagem em Oakland, Califórnia) e "Fake Birds of Lake Merritt" [Pássaros Falsos do Lago Merritt] (uma paródia escrita pelo GPT-3, versão anterior da tecnologia por trás do ChatGPT).

Alguns funcionários veem a biblioteca como um lugar mais tranquilo para trabalhar. Long Ouyang, pesquisador de IA, mantém uma mesa móvel contra a parede. Outros a veem como uma sala de descanso incomumente elegante.

Nos finais de semana, Ryan Greene, outro pesquisador, toca sua música digital pelos alto-falantes escondidos entre os livros de capa dura.

É, disseram outros funcionários, um lugar muito mais inspirador para trabalhar do que um cubículo. "É por isso que tantas pessoas escolhem trabalhar na biblioteca", disse Staudacher.

Recentemente, Greene começou a alimentar listas de seus livros favoritos no ChatGPT e pedir novas recomendações.

Em um momento, o chatbot recomendou o "Livro do Desassossego", uma autobiografia publicada postumamente do português Fernando Pessoa. Um amigo, que conhecia bem seus gostos, havia recomendado que ele lesse o mesmo livro.

"Dados os padrões e tendências das coisas que aconteceram no passado, a tecnologia pode sugerir coisas para o futuro", disse Greene.

Gaffney argumentou que essa mistura do humano e da máquina continuará. Então ela pausou, antes de adicionar: "Pelo menos, é isso que eu espero e sinto."

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