Descrição de chapéu Livros Portugal

Por que 'Mensagem' e 'Livro do Desassossego' trazem Pessoa em diferentes formas

Obras centrais do poeta português integram novo volume da Coleção Folha Clássicos da Literatura Luso-Brasileira

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Porto Alegre

Se foi só um, como atestam sua certidão de nascimento ou as fotografias em que aparece de chapéu e gravata-borboleta, Fernando Pessoa escreveu como vários. "Uma só multidão" e "um baú cheio de gente", expressões do crítico italiano Antonio Tabucchi, exprimem com poética precisão quem foi o escritor português.

Em versos de 1932, ele se definiu: "Eu sou uma antologia./ Escrevo tão diversamente/ Que, pouca ou muita valia/Dos poemas, ninguém diria/Que o poeta é um somente".

foto antiga de homem com bigodinho fumando na rua
O poeta Fernando Pessoa andando por uma rua da Baixa, em Lisboa - Reprodução

"Pode-se dizer que os quatro maiores poetas de Portugal do século 20 foram Fernando Pessoa", escreveu Richard Zenith na minuciosa biografia do autor lançada no Brasil há pouco. Isso porque Pessoa criou vários heterônimos, poetas distintos com suas próprias obras e biografias, como Álvaro de Campos, Alberto Caeiro e Ricardo Reis.

Dentro dele existiam até figuras demoníacas. É o caso do espírito satânico Jacob Satan, criado em 1906, com quem outra criação de Pessoa, o poeta poliglota Alexander Search, assina um pacto, exemplos da vasta imaginação do poeta. Ambos estão catalogados em "136 Pessoas de Pessoa", da Tinta-da-China, dos pesquisadores Jerónimo Pizarro e Patricio Ferrari.

Duas obras de Pessoa, uma em prosa e outra em verso, "Livro do Desassossego" e "Mensagem", respectivamente, chegam às bancas no próximo domingo (16) em uma edição da Coleção Folha Clássicos da Literatura Luso-Brasileira.

"’Screvo meu livro à beira-mágoa./ Meu coração não tem que ter./ Tenho meus olhos quentes de água./ Só tu, Senhor, me dás viver", escreveu o ortônimo —ou seja, o próprio— Fernando Pessoa, na terceira parte de "Mensagem", de 1934. "Note bem o uso da expressão ‘à beira-mágoa’, esse verso é maravilhoso", diz Marcus Freitas, professor da Universidade Federal de Minas Gerais que costuma empolgar os ouvintes de suas aulas sobre o poeta.

"Mensagem" é um livro sobre a história de Portugal, sobretudo as navegações. Trata de personagens históricos, da viagem de Vasco da Gama e do retorno de Portugal como uma grande nação, usando a metáfora do sebastianismo.

É do mesmo "Mensagem" também o famoso dístico "Valeu a pena? Tudo vale a pena/ Se a alma não é pequena".

Se este é de autoria única do ortônimo, a obra em prosa fragmentada "Livro do Desassossego" tem também como autores Bernardo Soares, considerado um semi-heterônimo por se aproximar demais da personalidade do próprio Pessoa, e Vicente Guedes, personagem mais obscuro que Soares e que acaba abandonando a escrita do livro.

É nesta obra que encontramos a simbólica citação "Minha pátria é a língua portuguesa". O trecho é relevante, explica Freitas, porque escrever em português era uma escolha literária e intelectual do autor, uma vez que ele que foi alfabetizado em inglês em Durban, na África do Sul e publicou poemas na língua inglesa.

"Bernardo Soares é mais simpático porque é mais confessional", diz o professor. "Tem uma psicologia e uma atitude diante da vida que mais facilmente encanta as pessoas. Podemos dizer que é um pouco o Fernando Pessoa mesmo, que se sente estrangeiro a tudo. É ficção, mas quase autoficção, nesse sentido contemporâneo do termo."


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