Mineradoras de bitcoin usam infraestrutura para fechar acordos com empresas de IA

Data centers usados para mineração de criptomoedas são reaproveitados para rodar programas de inteligência artificial

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Nikou Asgari Tim Bradshaw
Londres | Financial Times

Mineradoras de bitcoin estão correndo para assinar acordos com empresas de inteligência artificial na tentativa de reverter suas receitas em declínio, buscando novos clientes para seus grandes data centers.

Os mineradores de criptomoedas operam complexos de computação poderosos, frequentemente cobrindo grandes áreas, com os quais resolvem quebra-cabeças matemáticos para autenticar transações e produzir as moedas digitais.

Mas, com altos custos de energia e computação, e com as recompensas pela mineração tendo sido recentemente reduzidas pela metade, muitos estão lutando para obter lucro.

Representação do bitcoin - Dado Ruvic - 8.jan.2021/Reuters

Agora, eles esperam se beneficiar de um aumento na demanda por chips poderosos, mas escassos —conhecidos como unidades de processamento gráfico ou GPUs— que são usados tanto na mineração de criptomoedas quanto no processamento de IA.

Empresas de tecnologia estão correndo para obter acesso às GPUs da Nvidia à medida que tentam construir sistemas de IA mais capazes, e estão cada vez mais fazendo acordos para usar os chips dos mineradores ou para colocar seus próprios chips nos data centers deles.

A Core Scientific, uma das maiores mineradoras de bitcoin do mundo, está "buscando agressivamente" acordos de IA, disse seu CEO Adam Sullivan ao Financial Times. "É uma parte incrivelmente importante do negócio", acrescentou.

A empresa, listada na Nasdaq, possui data centers no Texas, na Carolina do Norte e na Geórgia, e fechou um acordo com o provedor de nuvem de IA CoreWeave no mês passado, cujo retorno é estimado em US$ 4,7 bilhões em receita ao longo de 12 anos.

Apoiada pela Nvidia, a CoreWeave —ela própria uma ex-mineradora de criptomoedas que mudou para a IA há vários anos e viu sua avaliação saltar para US$ 19 bilhões em maio— usará osdata centers da Core Scientific para hospedar seus chips de IA.

Empresas de IA requerem uma grande quantidade de energia e infraestrutura de computação, duas coisas às quais as mineradoras de bitcoin geralmente têm acesso.

Grupos de IA estão apostando que usar os data centers de computação de alto desempenho (HPC) dos mineradores será mais rápido e mais barato do que construir os seus próprios.

Grandes empresas de tecnologia, incluindo Microsoft, Google e Amazon, disseram que planejam gastar dezenas de bilhões de dólares para desenvolver uma infraestrutura de data centers para apoiar suas ambições de IA.

A demanda por capacidades de inteligência artificial também tem alimentado o interesse de investidores em novas startups de nuvem, como CoreWeave e Lambda Labs, que se concentram em alugar acesso a GPUs.

"Normalmente leva de 3 a 5 anos para construir um centro de dados de qualidade HPC do zero", escreveram analistas do JPMorgan em uma nota recente, acrescentando que esse prazo ficou ainda mais longo devido ao aumento da demanda por projetos de IA.

"Essa corrida pelo poder coloca um prêmio em empresas com acesso a energia barata hoje", acrescentaram.

Outros grandes mineradores de bitcoin estão usando parte de seus dados ou capacidade de processamento para IA.

O fundo de hedge dos EUA Coatue Management, fundado pelo gestor Philippe Laffont, investiu recentemente US$ 150 milhões na Hut 8 para ajudar a mineradora de bitcoin a atualizar sua infraestrutura para atender às necessidades das empresas de IA. A empresa de mineração também criou recentemente uma nova divisão de IA.

Asher Genoot, CEO da Hut 8, disse que a empresa tem se concentrado na "enorme demanda e crescimento dentro do segmento de data centers, impulsionado principalmente pela demanda de IA".

Os mineradores de bitcoin esperam que o foco em IA garanta receitas mais altas e estáveis.

Muitos grupos do ramo, como a Core Scientific, entraram em falência em 2022 após a falência da corretora de criptomoedas FTX e uma queda no preço do bitcoin para abaixo de US$ 16 mil.

Embora os preços das criptomoedas tenham disparado desde então —o bitcoin atingiu uma máxima recorde acima de US$ 73.800 em março e agora está sendo negociado em torno de US$ 63.800—, as recompensas que as empresas podem obter pela mineração de cada novo bloco de bitcoin foram reduzidas pelo evento de halving quadrienal do bitcoin em abril. O alto custo de energia e tecnologia também afetou a lucratividade.

A mineradora canadense Hive também está focada em "aumentar a receita de sua série de GPUs Nvidia alimentando serviços de dados para a revolução da IA", disse a empresa, enquanto a Bit Digital, com sede em Nova York, chegou a um contrato de três anos no valor de US$ 275 milhões em janeiro para alugar seu data center para uma empresa que constrói grandes modelos de linguagem.

"Entendemos que o halving era iminente e sentimos que, com as margens sendo comprimidas da noite para o dia em 50%, nem sempre faz sentido operar na esperança de que o bitcoin suba, não é uma prática comercial ótima", disse Sam Tabar, CEO da Bit Digital.

"Estamos simplesmente alugando poder computacional para pessoas que estão construindo modelos de IA, estamos lidando com a parte de hardware disso", acrescentou.

No entanto, a corrida para construir novos data centers está sobrecarregando as redes elétricas em algumas partes do mundo, dadas as enormes exigências de energia do HPC.

A mineração de bitcoin também é altamente intensiva em energia, e ambos os setores têm sido criticados pela grande quantidade de energia que consomem.

As emissões de gases de efeito estufa do Google aumentaram 48% nos últimos cinco anos, em meio à expansão de seus data centers para processar programas de IA, enquanto a mineração de bitcoins consome mais energia do que o Paquistão ou a Ucrânia anualmente, de acordo com dados da Universidade de Cambridge.

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