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Aposentadoria atual não é mais descanso, mas mudança
LUISA PESSOA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
"A pior coisa é se recusar a lidar com a verdade", diz a psicóloga Ana Fraiman, consultora de programas de preparação para a aposentadoria há mais de 30 anos. "Não dá para negar que a aposentadoria pode ser uma passagem dolorosa e com ela a pessoa precisa encarar várias dimensões de sua vida: o relacionamento com a família, os compromissos financeiros, os planos para o futuro."
A frase parece radical, mas, segundo ela, o planejamento é essencial, pois a geração que se aposenta hoje ainda precisa continuar trabalhando por uma série de compromissos financeiros, como, por exemplo, filhos ainda jovens.
Apenas uma minoria vai em busca do trabalho de consultoria por conta própria, diz Fraiman. Seus principais clientes são empresas que querem preparar seus funcionários, com idade média de 50 a 55 anos, para o momento da aposentadoria.
São profissionais que trabalharam muitos anos em um única empresa e que estabeleceram forte laço de identidade com a profissão. "Ainda que sejam pessoas com muita energia, as empresas querem substituí-los por profissionais mais jovens, com salários mais baixos e mais atualizados."
NOVAS CARREIRAS
Por isso, ela diz, é uma ilusão pensar que depois da aposentadoria a pessoa vai continuar na mesma carreira ou em carreira semelhante.
Juan Canizares, também consultor nas áreas de transição de carreira e preparação para aposentadoria, diz que hoje a aposentadoria é menos um momento de parar de trabalhar, e mais um de transição de carreira.
"O novo projeto de vida considera a dimensão profissional, mas não como diretriz. Ou seja, o trabalho passa a ter um significado diferente, assim como a remuneração advinda dele. Outras áreas da vida passam a ser priorizadas, como a família, os hobbies etc.", diz Canizares.
A psicóloga enuncia os principais problemas em relação à recapacitação e à recolocação profissional. "Muitas vezes as pessoas já pensam nisso, mas de forma ingênua. Mesmo diretores de empresa supercompetentes em suas atuais funções podem não saber gerir um negócio próprio."
EMPREENDEDORES
Fraiman diz que, quando começou a trabalhar como consultora, a maioria dos participantes eram homens e havia muita desconfiança em relação a tudo que fosse oferecido pelas chefias das empresas. Os programas de preparação para a aposentadoria não foram reivindicações que partiram dos empregados, mas dos empresários e gestores.
Hoje a desconfiança é menor, mas alguns problemas continuam. "Muita gente foge dos programas e das dinâmicas mesmo quando as chefias deram dispensa para a participação. Não percebem que esse trabalho é importante para a pessoa criar consciência do que vai ter que lidar em pouco tempo."
Fraiman prevê um novo perfil de aposentado para daqui a dez anos. "Serão pessoas menos leais às empresas em que trabalharam e irão se aposentar com melhores recursos e mais iniciativa para buscar recapacitação profissional. Serão empreendedores."
LUISA PESSOA participou da 52ª turma do programa de treinamento em jornalismo diário da Folha, que foi patrocinado pela Philip Morris Brasil, pela Odebrecht e pela Syngenta.
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