Flutue no Poço Azul e caia na festa na Chapada Diamantina

Região de nascentes, cânions e montanhas no miolo do estado é palco de blues, chorinho e forró

Carlos Bozzo Junior
Chapada Diamantina (BA)

​Cravada no interior da Bahia, a Chapada Diamantina ostenta uma beleza cênica e é considerada o berço das águas do estado. Em uma área maior que a da Suíça, nascentes e rios abastecem dezenas de municípios, em meio a vales, cânions, quedas d’água e montanhas esculpidas há bilhões de anos pela água e pelo vento.

Há espaço tanto de curtição quanto de contemplação, com trilhas e lugares perfeitos para, é claro, um mergulho em águas cor de cobre.

Além da natureza, eventos culturais de qualidade têm levado turistas para a região. Nos dias 20 e 21 de abril, a primeira edição do Conecta Chapada reuniu gente de todas as tribos no balneário do Rio Paraguaçu para assistir, entre outros, o show de Zeca Baleiro com Targino Gondim, sanfoneiro e autor da canção “Esperando na Janela”, em parceria com Manuca e Raimundinho do Acordeon.

Outros eventos, como o Festival de Jazz do Capão, o Encontro de Blues, o Festival de Chorinho e o Festival de Forró, em Mucugê, o Festival de Igatu, o Festival da Chapada, em Lençóis, e várias festas santas e tradicionais asseguram a diversidade cultural.

Com isso também fica garantida a alta taxa de ocupação em hotéis, pousadas e, ultimamente, nas casas de moradores que passaram a alugá-las para visitantes durante os períodos que compreendem os eventos. Por isso, reserve antes de ir para não dar com os burros n’água.

As distâncias entre as atrações naturais e as cidades turísticas da Chapada Diamantina são grandes. Visitar a região requer tempo e exige escolher uma cidade como base, além de um bom planejamento para fazer o deslocamento por estradas nem sempre asfaltadas.

Sem carro, ou sem ter um pacote que inclua transporte até os locais que pretende visitar, a tarefa é quase impossível para o turista. Os lugares não têm conexão com transporte público regular. 

A falta de placas de sinalização indicando os caminhos até as atrações torna imprescindível a contratação de guias locais, o que contribui também para aumentar a segurança do turista. 

A maior concentração de coisas interessantes na Chapada fica perto das cidades de Andaraí, Lençóis, Rio das Contas, Palmeiras, Mucugê, Ibicoara e Vale do Capão.

A reportagem da Folha ficou hospedada em Andaraí e visitou o pantanal de Marimbus, a Vila de Igatu, conhecida como a Machu Picchu baiana, e o estonteante poço Azul.

Pantanal Marimbus

Na fazenda Marimbus, a seis quilômetros de Andaraí, paga-se R$ 30 por pessoa para ter uma experiência relaxante na propriedade de 486 hectares —o equivalente a 450 campos de futebol. 

Após percorrer de carro uma pequena estrada de terra, que corta a caatinga, chega-se a um píer onde estão ancoradas sete canoas, cada uma com capacidade para duas pessoas, além do condutor que rema a embarcação.

Durante o passeio pela área alagada da propriedade o que impera é o silêncio, interrompido só pelos pássaros.

Com a serra do Sincorá ao fundo e refletida no espelho d’água, percebe-se a vastidão da planície alagada por águas calmas e propícias ao banho. O passeio de canoa leva em torno de duas horas. Navega-se cerca de 2 dos 27 quilômetros de extensão da área alagada, entre várias espécies de plantas aquáticas, como as ninfeias, que se abrem por volta das 8h da manhã e se fecham a partir das 14h. 

A jornada é acompanhada por voos rasantes de jaçanãs, gralhas-cancãs, ariris e gaviões-carrapateiros, entre outros coloridos seres alados.

Guia conduz caanoa que leva turistas em passeio no pantanal de Marimbus, na Chapada Diamantina, na Bahia
Canoa que leva turistas em passeio no pantanal de Marimbus, na Chapada Diamantina - Caiã Pires

Estrangeiros ficam deslumbrados e costumam banhar-se nus. “Dia desses, um alemão saiu da água, sem sunga, e perguntou se aqui tinha cobras. Quando eu disse a palavra anaconda, ele colocou a mão na frente do ‘pequeno’ e disse ‘Uau’”, contou o condutor Fábio Silvestre, 35, que trabalha há 16 anos no local.

Questionado sobre a existência de mosquitos, pernilongos, borrachudos ou muriçocas no local, o barqueiro perguntou como os paulistanos chamam o inseto. “Muriçoca” disse o repórter, ao que ele retrucou: “Aqui, não chamamos. Ela vem de atrevida”.

Portanto, leve repelente, roupa de banho e vista um chapéu ou boné para se proteger do sol. O uso de colete salva-vidas é obrigatório, e aluguel do acessório está incluso no preço do passeio.

Helder Madeira, 58, proprietário do local há 20 anos, co nta que nunca houve um acidente nesse passeio que, segundo ele, é acessível para idosos e pessoas com necessidades especiais. “Recebemos cerca de 200 visitantes por mês. Já levamos cadeirantes, deficientes visuais e pessoas da terceira idade, além de crianças de colo e até quem não sabe nadar, sem problema”.

 

 

Melhor época para visitar Todos os meses. Os passeios ocorrem mesmo no meio do ano, quando o nível da água costuma abaixar

Preço R$ 30, por pessoa (crianças acima de seis anos também pagam), o que inclui o passeio e equipamentos de segurança (colete, boia, canoa e remos). O pagamento deve ser feito em dinheiro

Acessibilidade Os condutores têm treinamento para atender pessoas com deficiência. Está em construção, no local, um centro com museu, auditório e banheiro adaptado. Hoje, há apenas dois banheiros rústicos

Para comer Na entrada da fazenda há um quiosque —precário— que vende esfiha de palma, água, salgadinhos e refrigerantes

 

 

Águas azuis do Poço Encantado, na Chapa Diamantina
Poço Encantado, na Chapada Diamantina (BA) - Marlene Bergamo/Folhapress

Poço Azul

A cerca de uma hora de Andaraí fica o poço Azul, na cidade de Nova Redenção. São R$ 30 reais para entrar e ter acesso ao poço de água cristalina em tonalidade azul, que brota dentro de uma caverna.

No preço do ingresso estão inclusos colete, máscara e snorkel para flutuar —mergulhar e nadar são proibidos— e admirar o fundo, que varia de 4 a 21 metros de profundidade.

O incrível tom azul da água deve-se à presença de calcário, magnésio e carbonato de cálcio no fundo do poço. O bagre cego, de quatro centímetros, e o camarão pitu de água doce são algumas espécies que povoam o local.

A água, com temperatura em torno de 24°C, embora pareça parada é corrente, oriunda de um lençol freático subterrâneo que, de quatro em quatro horas, é renovado. O local descoberto em 1920 por garimpeiros remete a um “gate” de jogo hiper-realista. O turismo foi aberto apenas em 1994.

Cerca de 700 metros do poço já foram explorados, mas o acesso a algumas partes é restrito. Em 2005, foram achados, a 20 metros de profundidade, o esqueleto completo de uma preguiça, além de ossadas incompletas de um hipopótamo, um mamute, um tigre dente de sabre, e de dois humanos. Todos encontram-se atualmente no museu da PUC de Minas Gerais.

Segundo o guia Giovani, 23, a chegada ao poço é acessível a pessoas com mobilidade reduzida. “Atendemos cadeirantes, idosos ou qualquer tipo de pessoa que precise de nossa ajuda, pois temos treinamento de salva-vidas.”

Antes de trocar de roupa e tomar um banho para flutuar —sim, o banho é obrigatório, assim como lavar os cabelos e não passar nenhum tipo de creme ou protetor—, reserve um almoço caseiro no restaurante da Dona Alice, que fica na propriedade e resgata com sua comida a força de quem desceu até o fundo do poço. 

 

Melhor época para visitar O ano todo, mas evite janeiro, fevereiro, dezembro e feriados, pois o local fica lotado. O período considerado melhor para este passeio é de julho a setembro. Nessa época, o poço não é invadido pelo rio Paraguaçu, fenômeno que torna a água turva

Horário A atração abre das 8h às 16h30, todos os dias. A luz do sol entra na caverna entre 13h e 14h30, permitindo uma visão melhor das formações. Sempre é possível, no entanto, enxergar o fundo do poço durante o horário em que o acesso é permitido

Preço R$ 30, por pessoa. O valor inclui equipamento de segurança (colete flutuador, máscara, snorkel e o banho antes de entrar no poço). O pagamento deve ser feito em dinheiro

Acessibilidade Os condutores são preparados para atender pessoas com deficiência. O trajeto até o poço inclui vários degraus esculpidos em pedras, com uma corda como corrimão e um escada de madeira com 31 degraus

Distância de Andaraí 40 quilômetros de asfalto, mais 8 quilômetros em estrada de terra

Para comer Restaurante da Dona Alice, de comida caseira 

 

Casario colorido da Vila de Igatu, na Chapada Diamantina
Casario da Vila de Igatu, na Chapada Diamantina, onde há ruínas de casas de pedra construídas no século 19, por garimpeiros de diamantes - Açony Santos

Vila Igatu

Considerada a Machu Picchu brasileira, a Vila de Igatu, antes alcunhada de Xique-Xique de Igatu, fica a 14 quilômetros de Andaraí. Metade do caminho é feito por uma estrada de pedras. Também é de pedra o casario histórico do vilarejo construído por garimpeiros no século 19, época do Ciclo do Diamante na região da Chapada Diamantina.

O diamante rareou e a vila, que chegou a ter mais de 9.000 habitantes, registra hoje apenas 394 moradores. Parte do local tornou-se um vilarejo fantasma, com ruínas das casas de pedra. Um silêncio emana da arquitetura desmoronada e, curiosamente, bonita de ver.

Entretanto, não se deixe levar pela atmosfera bucólica do local. É preciso estar atento, especialmente com relação ao dinheiro.

Como a maioria dos ingressos para os passeios é cobrada em dinheiro vivo, é comum turistas levarem consigo boas quantias, o que atrai a cobiça de eventuais gatunos.

Por exemplo, em Igatu, ao retornar do passeio pelas ruínas, este repórter teve R$ 245 furtados de sua mochila dentro de um carro, que ficou com um dos vidros abertos.

Há quem ainda se aventure na garimpagem atrás da mais valiosa das gemas no local, embora encontrá-la seja cada vez mais raro.

Agnaldo Leite dos Santos, 78, o seu Guina, também dono do bar Igatu, ponto turístico da vila, foi um dos que encontrou, mas não garimpa mais. “Já peguei muito diamante. Em 1980, cheguei a pegar 30, 40 cabeças [pedras] de uma vez. Mas quando a gente descobre um garimpo desses, o dono da serra toma”.

Quando a reportagem perguntou se ele ainda tinha diamantes para vender, seu Guina respondeu que sim, mas só uns “mosquitinhos” (diamantes pequenos). Mostrou-nos um lote com dez “mosquitos”, à venda por R$ 500. Segundo ele, os turistas que passam por ali acabam comprando tudo.

 

Melhor época para visitar O ano todo. A vila —com 24 ruas, 12 pousadas, 6 restaurantes, 55 pontos comercias, 46 veículos, 33 motos, 154 famílias, 36 adolescentes de 12 a 17 anos, 285 adultos, 35 aposentados, 80 casais, 74 crianças de 0 a 11 anos, 225 eleitores, 7 estrangeiros, 95 mães, 84 pais, 18 viúvos— tem personagens que valem a pena conhecer, como Amarildo dos Santos, tido como um dos maiores fãs de Xuxa; é ele quem realiza todo ano esse “censo” e o vende por R$ 25

Preço Gratuito

Acessibilidade As ruas têm calçamento de pedra que lembra o de Paraty (RJ), o dificulta a circulação. Nas ruínas, a locomoção é difícil

Distância de Andaraí 14 quilômetros. O trajeto é pela rodovia BA 142, cuja entrada fica a cerca de 50 quilômetros da cidade de Lençóis

Para comer Galeria Arte e Memória (rua Luís dos Santos), aberta de terça a domingo


Eventos na Chapada Diamantina

São João
Ao som de muito forró, com fogueiras, comidas típicas e quadrilhas, o São João é festejado em toda a região da Chapada Diamantina no mês de junho. Há festas no Vale do Capão, em Lençóis, Mucugê, Andaraí, Igatu e Campos de São João.

Festival de Jazz Capão
O festival gratuito leva para moradores e visitantes música instrumental, principalmente improvisada. O evento, que vai para a sétima edição, geralmente acontece em setembro. Grupos locais e nomes consagrados do gênero, incluindo Egberto Gismonti, dividem o palco.

Festival de Lençóis
Um dos maiores eventos da Chapada Diamantina conta com a participação de bandas regionais e artistas da MPB. Neste ano, o festival, em sua 19ª edição, acontece de 31 de maio a 2 de junho na cidade de Lençóis, com show de Maria Rita (quinta, 31), Attoxxa (sexta, 1) e Saulo (sábado, 2). Também se apresentam as bandas Spectro (com um tributo ao Pink Floyd) e The Baggios, que toca blues-rock dos anos 1970.

Festival de Igatu
São três dias de evento, com shows de MPB, rock e samba. A data varia entre o final de agosto e o início de setembro

Pacotes de viagem a partir de R$ 1.427

R$ 1.427 
4 noites, na Submarino Viagens. Valor de quarto duplo na pousada Mirante de Lençóis. Inclui café da manhã e passagem aérea a partir do aeroporto de Guarulhos (volta via Congonhas)

R$ 1.866 
5 noites, na Venice Turismo. Valor por pessoa, em quarto duplo. Inclui passeio em Lençóis e à cachoeira do Pai Inácio. Com traslados e dois almoços. Sem aéreo

R$ 3.063 
7 noites, na Ambiental Turismo. Hospedagem em quarto duplo, com café da manhã e traslados. Sem aéreo

R$ 3.191 
7 noites, na Venturas Viagens. Hospedagem em quarto duplo, com passeio ao poço Azul. Sem aéreo

R$ 3.360 
7 noites, na Stella Barros. Valor por pessoa, para trekking pelo vale do Pati. Inclui guia e seguro-viagem

R$ 3.496 
7 noites, na CVC. Valor de quarto simples na pousada Raio de Sol. Inclui café da manhã e aéreo a partir do aeroporto de Congonhas, em São Paulo

R$ 3.649 
4 noites, na Azul viagens. Valor por pessoa, em quarto duplo. Inclui café da manhã, passeios ao poço do Diabo e ao morro do Pai Inácio e aéreo a partir do aeroporto de Viracopos (Campinas)

R$ 3.867 
7 noites, na Agaxtur. Cinco noites em Lençóis e duas em Mucugê, por pessoa, em quarto duplo. Inclui café da manhã e traslados. Sem aéreo

R$ 4.240 
7 noites, na Pisa Trekking. Valor por pessoa, para saídas até 15 de junho. Inclui trilhas para a cachoeira do Buracão e para a cachoeira do Sossego. Sem aéreo

O jornalista viajou a convite da organização do evento Conecta Chapada
 

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