Saiba como foi o 1º mergulho oficial de turistas em Alcatrazes, no litoral de SP

Refúgio abriga mais de 1.300 espécies e já foi usado pela Marinha para exercícios de tiro

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Mergulhadores no arquipélago de Alcatrazes, no litoral norte de SP Jardiel Carvalho/Folhapress

São Sebastião

O arquipélago dos Alcatrazes, localizado a 45 quilômetros do porto de São Sebastião, no litoral norte de São Paulo, foi aberto ao turismo no último domingo (16), depois de mais de três décadas de proibição. 

É a primeira vez que a visitação ao local é feita de forma organizada, por meio de empresas cadastradas pelo ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), órgão federal que faz a gestão da área em parceria com a Marinha.

Mas a descida em terra continua proibida. Também nem seria possível curtir uma praia ali —rochosas, as ilhas não têm faixas de areia. O que dá para fazer, então, é ficar no barco e mergulhar de snorkel ou de cilindro (só para quem tem carteira de mergulho).

A reportagem viajou em umas das embarcações que levaram os primeiros turistas a Alcatrazes no último domingo (16). O passeio saiu às 7h30 em frente a ilha das Cabras, em Ilhabela. Os mergulhadores tiveram que segurar a ansiedade por quase três horas de viagem.

Na chegada, o bancário Gustavo Chaves, 42, foi o primeiro a pular na água. “Desde pequeno, ouço falar de Alcatrazes. Eu perguntava todo mês quando ia abrir. Fiz de tudo para vir na primeira viagem”, afirma.

Ele mergulhou em dois pontos diferentes próximos à ilha principal. “Eu achei que foi legal, mas esperava mais, não sei se porque criei muita expectativa. A gente viu arraias e tartarugas, mas achei que veria peixes maiores”, afirma.

O engenheiro civil Leonardo Previti, 23, concorda: “Acho que todo mundo tinha uma grande expectativa para o mergulho. Mas o visual da ilha é espetacular, e o objetivo do refúgio não é fazer a cabeça dos mergulhadores, mas preservar a biodiversidade”.

A área de 674 quilômetros quadrados transformou-se em unidade de conservação em 2016, quando foi criado o Refúgio de Vida Silvestre do Arquipélago de Alcatrazes.

O local abriga mais de 1.300 espécies de animais, 100 delas ameaçadas de extinção. Há répteis e anfíbios que estão isolados ali há cerca de 12 mil anos e não existem em nenhum outro lugar do mundo, caso da jararaca, da perereca e da rã de Alcatrazes. 

Maior ninhal de fragatas do Atlântico Sul, o arquipélago também serve para descanso, alimentação e reprodução de mais de 10 mil aves marinhas.

Nas águas da região está a maior quantidade de peixes do Sudeste brasileiro. Durante o ano todo, podem ser avistadas baleias-de-bryde e golfinhos. Já as jubartes aparecem por ali no outono e no inverno.

Por mais de três décadas, a Marinha usou a ilha principal para fazer exercícios de tiro. Dentro de embarcações, os militares miravam em alvos desenhados nas rochas —e que ainda podem ser vistos.

Eles não usavam munição explosiva, mas, mesmo assim, o impacto dos projéteis abria crateras, afugentava os animais e criava risco de incêndios, de acordo com ambientalistas. Em 2004, o fogo chegou a consumir cerca de 20 hectares da ilha.

Em 2013, os exercícios foram transferidos para a ilha da Sapata, que tem vegetação rasteira. Segundo a Marinha, a presença do órgão no arquipélago “implementou e ampliou as medidas de controle ao seu acesso, agiu como fator de dissuasão contra sua utilização indevida e garantiu a intocabilidade do ecossistema”.

O instrutor de mergulho Vicente Albanez, 58, foi um dos que queriam o fim das atividades de tiro. “Foi emocionante ver essa primeira turma de turistas”, diz. Ele defende que o turismo, feito por empresas credenciadas, contribui para a preservação já que coíbe a prática da pesca ilegal na região.

A presença de visitantes também ajuda a criar uma conexão entre a sociedade e as áreas protegidas, segundo Diego Martinez, biólogo da SOS Mata Atlântica. “As pessoas precisam conhecer para conservar”, afirma.

Durante um ano e meio, pesquisadores vão analisar os impactos do turismo na preservação dos corais e no comportamento dos peixes. Depois disso, será avaliada a necessidade de fazer mudanças na visitação, diz Kelen Leite, chefe do núcleo de gestão integrada do ICMBio Alcatrazes.

O órgão não limita o número de pessoas, mas há na área só 14 poitas (blocos de concreto) às quais os barcos devem se prender. Para preservar os corais, âncoras são proibidas. 

Em um mesmo ponto, estão permitidos 20 mergulhadores por vez. Cada grupo de quatro precisa estar acompanhado por um instrutor credenciado pelo ICMBio. 

Lanchas particulares continuam proibidas de parar no local. Há 32 empresas cadastradas pelo ICMBio para levar passageiros ao arquipélago, mas só duas já têm barcos autorizados a fazer o passeio. Ambas cobram R$ 650 pelo mergulho com cilindro. 

A Universo Marinho tem saídas às quartas e aos sábados a partir de São Sebastião.

A Colonial Diver, de Ilhabela, tem agenda livre para todos os fins de semana de janeiro. A empresa também leva turistas para visita embarcada e mergulho de snorkel por R$550. 

Até março haverá embarcações partindo de Bertioga e Santos. A lista das operadoras será atualizada no site icmbio.gov.br/refugiodealcatrazes.

A repórter Carolina Muniz e o fotógrafo Jardiel Carvalho viajaram a convite da SOS Mata Atlântica e da Brazilian Luxury Travel Association

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