Descrição de chapéu Independência, 200

Sala onde nasceu e morreu D. Pedro 1º, no palácio de Queluz, é aberta a visitas

Residência da família real portuguesa no final do século 18 e começo do 19 fica a menos de uma hora de Lisboa

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Queluz (Portugal)

Um ritual muito antigo acompanhou o nascimento de Pedro de Alcântara, futuro dom Pedro 1º, em 12 de outubro de 1798. Sua mãe, Carlota Joaquina, deu à luz ao quarto dos seus nove filhos (o segundo menino) no Palácio de Queluz, próximo de Lisboa, em um ambiente de pouca privacidade.

Sala Dom Quixote, no Palácio de Queluz, onde dom Pedro 1º nasceu e morreu - Naief Haddad/Folhapress

Diversos membros da Corte estavam na residência da família real portuguesa para assegurar que o bebê sairia do ventre materno, o ventre da rainha consorte, como conta António Nunes Pereira, diretor de Queluz e de outros palácios na região.

Não podiam observar Carlota Joaquina durante o parto porque havia cortinas, mas os tecidos foram abertos tão logo o bebê veio ao mundo para que os cortesãos vissem o novo monarca.

"Hoje, para nós, isso é um bocado bárbaro, mas era comum nas casas reais de todo o país", diz Nunes Pereira.

Quase todos os filhos de dom João 6º e Carlota Joaquina nasceram na sala Dom Quixote, em Queluz. Sim, uma sala, não um quarto. Mais exatamente, uma "sala de aparato", um ambiente nobre do palácio, onde a realeza costumava se reunir com conselheiros.

Quando Carlota Joaquina estava prestes a dar à luz, uma cama era montada no recinto e rapidamente desmontada depois do nascimento.

No caso de dom Pedro 1º (Dom Pedro 4º para os portugueses), existe uma particularidade: ele morreu no mesmo cômodo onde havia nascido, 35 anos depois. A cama, porém, não é a original.

Entre os planos do diretor, está a reconstituição do leito usado no final do século 18 e início do 19.

O espaço tem 18 pinturas que lembram passagens do livro "Dom Quixote", de Miguel de Cervantes, além de gravuras e litografias que retratam o primeiro imperador do Brasil em vários momentos, itens pessoais e painéis explicativos.

O Palácio de Queluz merece a visita por histórias como essas, especialmente agora, em meio às reflexões sobre os 200 anos da separação de Brasil e Portugal.

Além do interesse histórico, chama a atenção a arquitetura, que une os estilos barroco, rococó e neoclássico.

Construído em meados do século 18, Queluz era usado pela família real como uma quinta de verão. Tornou-se mais relevante em 1794 ao ser ocupado por dom João 6º e sua família depois que a Real Barraca da Ajuda, uma edificação de madeira, foi destruída por um incêndio.

Outros monarcas promoveram reformas em Queluz, mas foi dom João 6º quem conduziu a maior ampliação do palácio.

Segundo Nunes Pereira, as principais marcas construtivas e decorativas do lugar estão associadas ao filho da rainha Maria 1ª, conhecida entre nós como "a Louca".

Sob a ameaça da França de Napoleão, a família deixou Queluz em novembro de 1807 e se instalou no Rio de Janeiro. No regresso a Portugal, 14 anos depois, Carlota Joaquina passou um período no Paço do Ramalhão e logo se mudou para Queluz, onde morou até a morte, em 1830.

Dom João 6º —que havia escolhido o palácio da Bemposta, em Lisboa— e Carlota Joaquina queriam distância um do outro. Mas tinham ao menos um ponto em comum, o apreço por concertos e recitais.

Concluída em 1759, a Sala de Música é um dos espaços mais bem preservados de Queluz, com entalhes dourados nas paredes, que fazem referências a violinos e a outros instrumentos. Sob uma pintura que retrata Maria 1ª, há um piano de mais de 200 anos, utilizado ainda hoje.

O espaço era muito usado para recepções festivas. "Existem em arquivos pelo menos 84 serenatas encomendadas a grandes compositores europeus para apresentações em Queluz", diz o diretor do palácio.

Quando era grande o número de convidados, eles optavam pelo espaço ao lado, a Sala do Trono, a mais ampla entre as salas de aparato do palácio. Saltam à vista os lustres exuberantes e, como na Sala de Música, os trabalhos minuciosos de escultores e entalhadores nas paredes laterais e no teto.

Entre todos os ambientes de Queluz, esse é o espaço onde o rococó, de linhas delicadas e repleto de minúcias, é mais evidente.

Sala do Trono, construída por volta de 1770 no Palácio de Queluz; o espaço recebia grande festas e recepções - Naief Haddad/Folhapress

Apesar do nome, Sala do Trono, os assentos majestosos dos monarcas não estão neste lugar, e sim na Sala dos Embaixadores, um pouco mais adiante no roteiro sugerido aos visitantes. É lá onde ocorriam as homenagens à realeza, o famoso "beija-mão".

Uma pintura no teto, que mostra a família real durante uma apresentação musical, e grandes vasos trazidos da China estão entre os destaques da decoração desse espaço.

Reserve, no mínimo, três horas para visitar todo o complexo de Queluz —destas três, dedique ao menos uma hora para conhecer os jardins.

Concebidos pelo arquiteto francês Jean Baptiste Robillion, os Jardins Superiores estão ligados aos pavimentos mais nobres do palácio. A Sala de Música é um exemplo: basta abrir as portas para alcançar os canteiros geométricos, pequenos lagos e esculturas em mármore.

Em outro jardim, o botânico, fica o Lago das Medalhas, que tem forma de octógono. Também projetado por Robillion, é o maior dos lagos de Queluz.

Lago das Medalhas, que tem a forma de um octógono, é o maior lago dos jardins de Queluz - Naief Haddad/Folhapress

Os jardins, conta Nunes Pereira, eram muito usados para recreação da família real. Entre as diversões, passeavam em gôndolas no canal coberto de azulejos, ao lado do Jardim Botânico. Diferentemente dos canteiros, o canal mereceria mais cuidado com a conservação.

O palácio fica numa localidade de mesmo nome, Queluz, que pertence ao município de Sintra. Para quem está na região central de Lisboa, o trem é a alternativa mais barata.

Basta ir à estação do Rossio, pegar o veículo rumo a Sintra e descer nas estações Queluz - Belas ou Queluz - Monte Abraão, percurso que dura em torno de 20 minutos. Em seguida, uma caminhada de 15 minutos leva ao palácio.

Se preferir gastar alguns euros a mais, economizando tempo, táxis e carros de aplicativos levam cerca de 15 minutos do centro da capital portuguesa a Queluz.

Palácio Nacional e Jardins de Queluz

  • Quando 9h às 18h, última admissão às 17h30 (palácio); 9h às 18h30, última admissão às 17h30 (jardins)
  • Onde Largo Palácio de Queluz, Queluz, Sintra
  • Preço 10 euros (18 a 64 anos); 8,5 euros (6 a 17 anos; acima de 65); 33 euros (tíquete família - 2 adultos e 2 crianças ou adolescentes)
  • Compra online de ingressos https://bilheteira.parquesdesintra.pt/evento/palacio-nacional-e-jardins-de-queluz/248/en?_ga=2.259906313.2038483353.1661790890-794980756.1658787100
  • Mais informações https://www.parquesdesintra.pt/en/parks-monuments/the-gardens-and-national-palace-of-queluz/

O jornalista Naief Haddad viajou a Portugal a convite da TAP

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