Descrição de chapéu The New York Times

Turistas chineses estão voltando, mas em ritmo mais lento do que esperado

Reabertura de fronteiras do país asiático ainda não retomou viagens em massa

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Ceylan Yeginsu e Patrick Scott
Nova York

Quando os primeiros turistas chineses aterrissaram no Aeroporto Internacional Suvarnabhumi, em Bancoc, neste mês, foram recebidos como celebridades, com faixas de boas-vindas, flores, presentes e uma multidão de repórteres e fotógrafos.

Era um momento pelo qual os hotéis, companhias de aviação, operadoras de turismo e funcionários do governo tailandês esperavam há muito tempo —a reabertura das fronteiras da China depois de quase três anos de restrições impostas em função da pandemia, que para todos os efeitos práticos cortaram o acesso dos viajantes chineses, no passado a maior fonte de receitas do turismo mundial, ao restante do planeta.

Turistas chineses são recebidos com festa em aeroporto em Bancoc, na Tailândia, em janeiro deste ano
Turistas chineses são recebidos com festa em aeroporto em Bancoc, na Tailândia, em janeiro deste ano - Rachen Sageamsak/Xinhua

"É muito empolgante visitar de novo lugares quentes e bonitos", disse Hua Liu, 34, designer gráfica radicada em Xangai, que estava entre os primeiros visitantes a chegar à Tailândia, onde tirou duas semanas de férias na praia no final deste mês, como parte de uma viagem de Ano-Novo chinês.

"Vou recuperar o tempo perdido", ela disse em uma entrevista por telefone. O seu plano: "Ficar em bons hotéis, reservar tratamentos de spa, comer em bons restaurantes e comprar bons presentes para mim e para a minha família".

Antes que a pandemia do coronavírus paralisasse as viagens internacionais, em 2020, a China enviava mais viajantes para o exterior do que qualquer outro mercado; em 2018, foram mais de 150 milhões de turistas chineses, que gastaram US$ 277 bilhões no exterior, de acordo com um estudo da Organização Mundial de Turismo das Nações Unidas e da Academia de Turismo da China.

Esse fluxo foi suspenso em 2020 e no ano passado, porque mesmo depois que países de todo o mundo relaxaram suas restrições a viagens, a China decidiu manter a proibição de viagens internacionais para os seus cidadãos, como parte da política oficial de "Covid zero".

Mas em 8 de janeiro, o governo chinês abriu as suas fronteiras, permitindo a entrada de viajantes estrangeiros no país e a saída de residentes chineses para o exterior. Algumas pessoas no setor de viagens previram um verdadeiro êxodo de chineses em viagens internacionais, depois que o interesse por passagens em voos para fora do país cresceu em 83% entre 26 de dezembro e 5 de janeiro, com uma alta de 59% nas reservas para voos internacionais no mesmo período, de acordo com a Ctrip, uma agência online de viagens na China.

Mas embora o turismo para destinos próximos, como por exemplo Macau, Hong Kong, Tailândia e Cingapura, tenha crescido, os destinos mais distantes ainda estão à espera.

Além do nível elevado de casos de Covid na China, os viajantes chineses também estão enfrentando grandes atrasos na obtenção de passaportes e vistos, preços elevados e falta de capacidade em voos internacionais, já que muitas companhias de aviação reduziram seu número de voos de e para o país, durante o longo lockdown na China.

Números da última sexta-feira apontavam que o número de lugares disponíveis em voos diretos da China para a Grã-Bretanha em janeiro equivalia a apenas 8% do número de lugares disponíveis em 2019, de acordo com a VisitBritain, a comissão oficial britânica de turismo. O primeiro voo direto programado entre a China e a Suíça, para o dia 26 de janeiro, foi cancelado devido à falta de passageiros.

Antes da pandemia, ônibus lotados de turistas chineses, em número de até 700 por dia, chegavam ao Maetaeng Elephant Park, nas colinas baixas do norte da Tailândia, a cerca de uma hora ao norte da cidade de Chiang Mai.

Borprit Chailert, o gerente do parque, aguarda ansiosamente o regresso dos turistas, mas até agora apenas 40 viajantes de férias chineses apareceram, ele disse.

Quando eles chegarem, não será difícil alugar elefantes de aldeões próximos para fortalecer a manada de 76 animais do parque, disse Chailert. Mas é difícil saber quando contratar trabalhadores adicionais e onde encontrá-los, já que muitos deles deixaram a região turística e trocaram de emprego quando o turismo parou, disse ele.

"Se quisermos contratar cem pessoas, hoje, não é algo que poderemos fazer, porque não temos certeza", ele disse. "Não sei, talvez nos próximos dois meses o governo chinês decida que vai fechar a fronteira novamente".

Com a sua economia fortemente dependente do turismo, a Tailândia perdeu dezenas de bilhões de dólares em gastos de turistas chineses durante os últimos três anos. O escritório da Autoridade de Turismo tailandesa em Chiang Mai estima que a cidade, conhecida por seus deslumbrantes templos budistas e forte dependência do turismo, receberá este ano cerca de 600 mil visitantes chineses, que gastarão cerca de US$ 230 milhões – mais ou menos a metade de seus gastos em 2019.

Um volume mais alto de visitantes só começará a surgir no segundo trimestre, dizem pessoas do setor de viagens tailandês. Muitos turistas chineses vêm à Tailândia tradicionalmente em excursões de grupos (eles constituem cerca de metade dos visitantes chineses a Chiang Mai), e o governo chinês não vai permitir que as operadoras de turismo reiniciem seus negócios até 6 de fevereiro, e mesmo depois dessa data só autorizará um programa piloto que inclui cerca de duas dúzias de países, entre os quais a Tailândia. Por enquanto, apenas turistas chineses independentes, capazes de arcar com o preço cheio das passagens aéreas, estão viajando.

Em Londres, outro destino popular para os viajantes chineses, mais de 300 mil pessoas foram a Chinatown na semana passada para a primeira parada do Ano-Novo chinês a acontecer desde o surgimento do coronavírus, mas poucos turistas chineses estavam presentes.

Feng Yang, gerente do Shanghai Family, um restaurante chinês no centro de Londres, disse que não antecipava receber nenhum viajante da China durante o período do Ano-Novo chinês, mas esperava que eles regressassem dentro de alguns meses.

"Eles ainda estão sob efeito do coronavírus", disse Yang, acrescentando que o seu negócio muito provavelmente não sofreria, porque cerca de 85% dos seus clientes são estudantes chineses das universidades vizinhas, que não voltaram à China para as férias.

O crescimento lento no número de visitantes pode ser imputado a uma combinação de fatores. "O número de voos não é grande, as passagens tenderão a ser mais caras, e as pessoas precisarão de um visto para vir", disse Patricia Yates, presidente da VisitBritain, acrescentando que o regresso dos viajantes chineses ao Reino Unido "teria crescimento lento" este ano, com expectativas mais elevadas em 2024.

Os voos de ida e volta da China para Londres custam cerca de US$ 1,3 mil, e Yates antecipa que o número de lugares disponíveis nos voos da China para o Reino Unido equivalha a apenas 30% da capacidade de 2019, até junho. "Isso [aumentar a capacidade] é realmente necessário para colocar pessoas em aviões", ela disse.

Antes da pandemia, a China era o maior mercado da Austrália em termos de despesas de turistas. O país recebeu 1,4 milhões de visitantes chineses em 2019, e os gastos deles chegaram aos US$ 12,4 bilhões.

Os viajantes chineses começaram a regressar para visitar amigos e parentes, mas as operadoras de turismo não esperam um influxo de viajantes de lazer por ainda diversos meses, porque os voos são caros e a Austrália não está na lista aprovada pela China para excursões turísticas em grupo.

A Austrália também requer testes de coronavírus dos viajantes chineses. Em janeiro, os preços das passagens de ida e volta entre a China e a Austrália variavam de US$ 1,8 mil a US$ 3 mil. Antes da pandemia, os turistas chineses eram conhecidos por sua disposição de gastar dinheiro, disse James Shen, proprietário da Odyssey Travel em Melbourne.

"Os turistas chineses são aqueles que dizem que não querem ir de barco, querem ir de helicóptero", ele disse. "Pode ser uma viagem de 10 minutos, a um preço de 400 dólares australianos - muito cara -, mas os turistas chineses dizem que preferem ir de helicóptero, e não de barco, porque talvez fiquem enjoados".

The New York Times, tradução de Paulo Migliacci

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