Descrição de chapéu América Latina

Região de Machu Picchu está em 'queda livre' após protestos no Peru

Cidade que costumava receber milhares de visitantes, vê apenas cerca de 100 pessoas chegarem nos fins de semana

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Patrick Fort
Ollantaytambo (Peru) | AFP

Vazio, o portão de entrada de Machu Picchu, no Peru, é o retrato de um país onde violentos protestos espantam turistas desde dezembro de 2022, o que afeta comunidades inteiras que dependem do setor.

"Olha, não tem nada, está vazio", diz Juan Pablo Huanacchini Mamani, o "Inca", que atende turistas vestido com um traje tradicional de tecidos coloridos, sandálias e enfeites dourados que brilham ao sol.

A economia do país andino se baseia, sobretudo, no turismo, uma importante fonte de emprego que atraía cerca de 4,5 milhões de visitantes antes da pandemia.

Cenário tem ruínas de construção com um pico ao lado; atrás uma cadeia alta de montanhas
Vista de Machu Picchu, no Peru - 16.mar.20 - Percy Hurtado/AFP

Desde o início de dezembro, porém, um novo desafio surgiu em Ollantaytambo, localidade a cerca de 60 quilômetros de Cusco e próxima a Machu Picchu, aonde cerca de quatro mil visitantes chegavam, diariamente, durante a alta temporada. Protestos, que têm sacudido o país desde então e que deixaram 58 mortos, diminuíram o fluxo de visitantes.

As manifestações pedem a renúncia da presidente Dina Boluarte, que assumiu o cargo após a destituição e a prisão do hoje ex-presidente Pedro Castillo.

Em meio aos protestos, a cidade que costumava receber milhares de visitantes, vê apenas cerca de 100 pessoas chegarem nos fins de semana. Estes são os dois únicos dias permitidos pelos manifestantes, uma concessão para que os habitantes possam sobreviver. Além disso, no dia 21 de janeiro, o Peru fechou a entrada a Machu Picchu, alegando motivos de segurança.

"Vivemos do turismo (...) Agora estamos com falta de gente. Quando há turismo, todo o nosso povo trabalha nos hotéis, restaurantes, a agricultura se movimenta", diz Juan Pablo.Hoje, acrescenta ele, estão vivendo em uma "crise profunda".

Segundo dados do Ministério do Turismo, a crise está custando US$ 6,5 milhões diários (R$ 32.431 milhões), com uma queda de 83% na ocupação hoteleira.

O diretor regional de turismo, Abel Alberto Matto Leiva, explica que, em Cusco, "75% da população trabalha direta, ou indiretamente, com turismo" em "uma cadeia" que inclui "2.500 agências de viagens", alimentação, alojamento e transporte.

No momento, 20 mil pessoas estão desempregadas, número este que, segundo ele, "continua aumentando", com projeções de chegar a em torno de 120 mil até março.

Em meio à crise, cerca de 14 mil artesãos locais devem ter suas oportunidades drasticamente reduzidas, afirmam as autoridades, o que também representa milhares de comerciantes com pouca, ou nenhuma renda.

Sem qualquer tipo de ajuda, os artesãos se sentem "totalmente esquecidos", diz Filomena Quispe, de 67 anos, 35 deles vendendo artesanato em uma pequena loja perto da Plaza de Armas de Cusco.

A situação também faz muitos donos de estabelecimentos optarem por não abrir as portas, para cortar custos.

"Estamos em queda livre e não sabemos quando ela vai parar", lamenta o vice-presidente da Câmara Hoteleira de Cusco, Henry Yabar, que também fechou seu estabelecimento, um hotel de três estrelas com cerca de 15 quartos.

Yabar afirma que a crise política foi um golpe "fatal" para o turismo e relata que houve "95% de cancelamentos" nas reservas hoteleiras. Segundo ele, dos 12 mil hotéis e pousadas de Cusco, "entre 25% e 30% (os menores) já faliram".

Ele disse esperar que o Estado coloque um plano de emergência em ação e faça concessões fiscais para os afetados pela situação.

"Temos esperança de uma melhora em julho", acrescenta Yabar, que completa: "para os que sobreviverem".

Eleito em 2021 e representante das classes mais populares da nação andina, Pedro Castillo liderou um governo de crises, com frequentes reconfigurações ministeriais. Em dezembro, ele ordenou a dissolução do Parlamento, num processo que contrariou os passos e as condições previstos na Carta Magna peruana. Assim, o movimento do agora ex-presidente foi considerado uma tentativa de golpe —ele foi preso.

Desde então, manifestantes de setores campesinos têm ido às ruas para exigir a libertação de Castillo, a saída de Dina Boluarte —a vice do ex-presidente que assumiu o posto após sua saída—, a antecipação das eleições gerais e a abertura de uma Assembleia Constituinte para gestar uma nova Constituição.

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