Descrição de chapéu pantanal

Novos roteiros de Mato Grosso oferecem imersão na cultura pantaneira

Região vai além da riqueza natural do bioma e quer valorizar a comunidade

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Pantanal (MT)

O despertar do Pantanal começa com o som do motor de um pequeno barco que navega pelo rio Mutum em direção à baía de Siá Mariana, em Barão de Melgaço, a 116 km de Cuiabá. Na baía, o silêncio toma conta enquanto todos esperam o Sol, até que o horizonte espelhado na água calma começa a ganhar novos tons, entre laranja e amarelo, até as cores da manhã se revelarem.

Fotografia colorida de uma onça e seu filhote numa mata, vistos à distância. A mãe aparece sentada e olhando para a esquerda, enquanto o filhote aparece atrás e olhando para a frente, mas só com a cabeça visível.
Onça-pintada protege filhote no Parque Estadual Encontro das Águas em Pôrto Jofre, Mato Grosso - Gustavo Figueroa

O caminho da volta já é embalado pelo som de alguns pássaros; os animais aparecem às margens do rio e é possível observar um gavião-belo no alto da árvore, garças-maguari voando, assim como um jacaré-do-pantanal prestes a sair da água, o que parece concluir o alvorecer pantaneiro.

O Pantanal é uma das maiores planícies alagadas do mundo e possui uma grande biodiversidade. A população da região e o turismo sofreram muito com as queimadas de 2020 e com a pandemia da Covid-19.

Assim, a renovação turística de Mato Grosso busca o retorno do fluxo de visitantes por meio da inclusão de elementos da cultura mato-grossense nas rotas, que podem variar desde de apresentações musicais até a experiência de um dia no cotidiano pantaneiro.

Um exemplo é a ida ao Museu da Viola de Cocho, em Santo Antônio de Leverger, a 30 km de Cuiabá, que impressiona pelo conhecimento do mestre Alcides Ribeiro.

A família do luthier está na quarta geração de artesãos e domina todo o processo da viola de cocho, instrumento de cordas cujo corpo é feito a partir de um único pedaço de madeira. Lá é possível ver como a madeira é esculpida, além do instrumento em ação.

Já a visita à Comunidade Quilombola Mata Cavalo, em Nossa Senhora do Livramento (50 km de Cuiabá), mostra um pouco da história do estado.

São cerca de 14 mil hectares que foram doados aos avós de Antônio Mulato em 1883, tomados por fazendeiros e retomados após a Constituição de 1988. O trabalho de gerações de famílias funciona em conjunto no dia a dia do quilombo, na Escola Estadual Quilombola Tereza de Conceição Arruda e na confecção de produtos artesanais.

Há também atividades de imersão rural, como passar algumas horas em uma fazenda no cerrado e experimentar o quebra-torto, como é chamado o café da manhã clássico dos trabalhadores
da região, composto pelo arroz Maria Isabel, que inclui carne seca, farofa de banana e ovo frito. A vivência acontece na Estância Maués, antiga fazenda leiteira em Leverger.

Outra sugestão é passar um dia no Rancho São Jorge, em Poconé, a 104 km de Cuiabá. Ali é possível andar a cavalo, acompanhar o cuidado com os animais, comer a famosa cabeça de boi assada, servida com paçoca socada no pilão, e repousar em uma rede ao som de uma roda de viola.

Os mais aventureiros podem ver o pôr do sol direto das águas do rio Paraguai, em um passeio de caiaque, na cidade de Cáceres, a 220 km de Cuiabá —o rio nasce em Mato Grosso, mas passa por Bolívia, Paraguai e Argentina.

A fauna e a flora continuam sendo o ápice da visitação. O visual enche os olhos e compensa a dificuldade de acesso pelas estradas de terra. Sinal de celular e wi-fi nem sempre estão disponíveis e devem ser verificados anteriormente para evitar surpresas.

A biodiversidade do Pantanal se destaca tanto que atrai observadores de pássaros e fotógrafos de natureza do mundo inteiro. Lisa Canavarros, sócia do Aymara Lodge, em Poconé, a 130 km de Cuiabá, diz que metade de seus hóspedes vem de outros países, principalmente dos Estados Unidos e do Reino Unido.

Essa demanda é refletida na composição da equipe da pousada, que conta com biólogos de São Paulo e guias da região para oferecer um serviço qualificado.

Esse é o objetivo de visitantes de países da América Latina também, como relata o guia Waldir Telles, que já recebeu grupos de argentinos liderados por um ornitólogo, profissional dedicado ao estudo de aves, especialmente para observar os pássaros.

Safáris e passeios de barco são as atividades que mais proporcionam momentos de imersão na natureza com a expectativa de encontrar uma onça-pintada, o maior felino das Américas. A observação de onças pode ser realizada por meio de propriedades privadas, hotéis e agências de turismo, ou em áreas protegidas, como o Parque Estadual Encontro das Águas, na região de Porto Jofre.

Com o objetivo de proteger os animais, ações são desenvolvidas com abordagens diferentes, desde conscientização direcionada à comunidade e a proprietários de fazendas até projetos de
recuperação e reintegração de animais silvestres.

Um deles é a ONG Panthera, uma organização internacional especializada na conservação de felinos, principalmente onça-pintada e jaguatirica no Pantanal.

De acordo com Fernando Tortato, coordenador de projetos da Panthera, o turismo em torno da observação de onças é uma atividade relativamente recente, com menos de 25 anos de existência, e algumas dicas podem ser úteis para os interessados.

O período com mais chances de encontrar o animal é o de seca, de julho a outubro, já que a fauna se concentra ao longo dos rios e corpos d’água. Os felinos procuram esses locais em busca de suas presas, como jacarés e capivaras.

Não há um horário específico, carros e barcos saem perto das 6h da manhã. Alguns voltam aos hotéis depois de algumas horas e outros ficam até às 18h para aumentar as chances. Nas proximidades de Poconé, foi onde houve mais relatos de avistamento de onças durante esta viagem.


COMO IR

Birding Pantanal - @birdingpantanal, tel. 65 99982-1294

Ecotur Pantanal - @ecoturpantanal, tel. 65 3345-3345

Five Adventure - 5A - @fiveadventurebr

ONDE COMER

Recanto do Jaó, apenas com reserva - @recantodojaoturismo

Tarumeiro, nos fins de semana e feriados - @tarumeiros_restaurante

Fazenda Jacobina, aos domingos e feriados - @fazenda_jacobina

Prosa na Orla, de terça a domingo - @prosa_naorla

A jornalista viajou a convite do Sebrae-MT

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.