Amâncio Jorge de Oliveira lê trecho de 'Raízes do Brasil'

Obra que apresenta o conceito do "homem cordial" foi a quarta mais indicada no projeto 200 anos, 200 livros

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Belo Horizonte

Amâncio Jorge de Oliveira, professor do Instituto de Relações Internacionais da USP e vice-diretor do Museu do Ipiranga, reconhece o historiador e sociólogo Sérgio Buarque de Holanda como um dos grandes intérpretes do Brasil.

O professor, que compôs o conselho curador do projeto 200 anos, 200 livros, justamente destacou a obra "Raízes do Brasil" entre as suas indicações das mais importantes para se entender o país.

Lançado em 1936, o livro, segundo Oliveira, ainda permanece atual por analisar a formação da sociedade brasileira por meio do papel das raízes coloniais na construção da cultura nacional".

Abaixo, Oliveira lê trecho que introduz um dos argumentos do livro para embasar a tese descrita, a conceituação de "homem cordial" feita pelo autor.

"A cordialidade é, de um lado, um traço de gentileza e simpatia. No polo oposto, é um traço de submissão, de subserviência", explica o vice-diretor do Museu do Ipiranga. "O homem simples é mais aceito por ser cordial. Mas, ao ser cordial e não gerar instabilidade, acaba por cristalizar as assimetrias perversas da sociedade. Esses dilemas estão longe de ser superados na sociedade brasileira."

"Raízes do Brasil" figura como uma das obras fundamentais para os campos da história e das ciências políticas e sociais. Dos 169 intelectuais convidados para a curadoria do projeto 200 anos, 200 livros, 17 indicaram a obra, que ocupa o quarto lugar da lista.

Um homem negro de barbas e cabelos curtos e brancos é fotografado de cima para baixo, enquanto olha para a frente. Ele usa terno e óculos. Em segundo plano, estão árvores e plantas com muitas folhas verdes
Amâncio Jorge de Oliveira, atual vice-diretor do Museu do Ipiranga - Karime Xavier / Folhapress - 25.mar.2022

Oliveira, que estuda o empresariado brasileiro desde o doutorado cursado na USP em 2003, também vê no estudo de Buarque de Holanda uma possibilidade para entender a capacidade limitada de ação coletiva e política da classe.

"O problema das relações mais interpessoais do que institucionais entre empresariado e governo era a chave explicativa fundamental", argumenta.

Para o projeto, o professor ainda indicou "Casa-Grande & Senzala", de Gilberto Freyre, e os cinco volumes da coleção "A Ditadura", de Elio Gaspari.

Lançado em maio, o projeto 200 anos, 200 livros é uma iniciativa da Folha, da Associação Portugal Brasil 200 anos e do Projeto República (núcleo de pesquisa da Universidade Federal de Minas - UFMG) motivada pelo bicentenário da independência brasileira, a ser celebrado em setembro deste ano.

Este é o quarto e último vídeo de uma série produzida em parceria com a TV Folha em que curadores do projeto leram trechos dos livros mais indicados. Assista aos demais:

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