Conheça 200 importantes livros para entender o Brasil

"Quarto de Despejo", de Carolina de Jesus, é a obra mais indicada no projeto 200 anos, 200 livros, que reúne sugestões de 169 intelectuais

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São Paulo

Quais são os 200 livros mais importantes para entender o Brasil? Para buscar uma resposta a essa pergunta, motivada pelo bicentenário da independência do país, surgiu o projeto 200 anos, 200 livros.

Depois de um trabalho longo e minucioso, amparado em uma série de critérios, a Associação Portugal Brasil 200 anos, a Folha e o Projeto República (núcleo de pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG) concluíram uma lista de 200 obras, divulgada abaixo.

A relação de obras se baseia em sugestões enviadas por historiadores, sociólogos, antropólogos, romancistas, economistas, juristas, entre outros profissionais —a grande maioria do Brasil, mas também alguns representantes de Portugal, Angola e Moçambique.

"Quarto de Despejo" (1960), de Carolina de Jesus, encabeça a lista, com o maior número de indicações. Em seguida, aparecem "Grande Sertão: Veredas" (1956), de Guimarães Rosa, e "A Queda do Céu" (2015), de Davi Kopenawa e Bruce Albert, empatados em segundo lugar.

O quarto livro mais recomendado é "Raízes do Brasil" (1936), de Sérgio Buarque de Holanda. Em quinto, duas obras, também empatadas: "Casa-Grande & Senzala" (1933), de Gilberto Freyre, e "Memórias Póstumas de Brás Cubas" (1881), de Machado de Assis.

Além de suscitar reflexões de cunho histórico e sociológico, entre outras, a iniciativa é ainda uma homenagem à língua portuguesa, por isso a divulgação da lista neste dia 5 de maio, quando se celebra o idioma.

A ideia de preparar um projeto com esse mote foi do empresário português José Manuel Diogo, fundador da Associação Portugal Brasil 200 anos. Em dezembro de 2019, ele iniciou os contatos para uma parceria com o Projeto República e, meses mais tarde, convidou a Folha para participar da iniciativa.

Há pouco mais de um ano, a comissão formada pelos três parceiros começou a discutir nomes —todos ligados a atividades intelectuais— para compor um conselho curador, cujas opiniões seriam a base desta lista de 200 livros. Decidiu-se, desde então, formar um painel diverso em raça e gênero, além de contemplar as cinco regiões brasileiras, além dos três países já citados.

Ao longo de 2021, 169 conselheiros enviaram suas indicações, que, enfim, dão origem ao resultado final.

"200 anos, 200 livros é uma fotografia, um daguerreótipo, um retrato em lombadas, que ‘explica’ um Brasil diverso, global, moderno, que tem uma consciência exata do seu passado, do lugar que hoje tem no mundo, dos seus desafios futuros e dos caminhos para os trilhar", afirma Diogo.

O projeto é também, segundo o empresário, "uma verdadeira ação de celebração do bicentenário da independência do Brasil, construída por meio da arte e da cultura, tendo expressão física e virtual".

Empilhados, ocupando a maior parte de uma foto cujo fundo é vermelho, estão os primeiros oito livros indicados pelo projeto. A foto registra suas lombadas. São eles: Quarto de Despejo, Grande Sertão: Veredas, A Queda do Céu, Raízes do Brasil, Casa-Grande & Senzala, Memórias Póstumas de Brás Cubas, Um Defeito de Cor e Macunaíma.
Lombadas dos oito livros mais indicados na lista de 200 obras para entender o Brasil; a ordem vai de cima para baixo, "Quarto de Despejo" é o líder de recomendações - Gabriel Cabral - 01.mai.2022/Folhapress

Ao longo do seu desenvolvimento, a iniciativa ganhou o apoio da embaixada de Portugal no Brasil, do instituto Camões e da Universidade de Coimbra.

"Com quantos livros se conta uma história? E com quantas histórias se faz um país? São livros que dão voz a ideias, valores, sentimentos acerca da condição de ser brasileiro. As nações são imaginação, dizia Benedict Anderson, e se distinguem pelo estilo com que são imaginadas. Só que não é fácil imaginar: vai ser preciso construir uma imaginação que não repudie sua própria historicidade; vai ser preciso aproximar-se do Brasil, recolher os traços do país e de sua população para nele atuar", comenta a historiadora Heloisa Starling, coordenadora do Projeto República e professora da UFMG.

"Os livros representam o propósito de expor desenhos e projetos de Brasil ao mesmo tempo em que aguçam nossa imaginação sobre o brasileiro que um dia fomos ou poderíamos ser; ou sobre o brasileiro que ainda queremos ser", ela complementa.

O também historiador Danilo Araujo Marques, pesquisador do Projeto República, teve participação efetiva nos 200 anos, 200 livros.

"O projeto tem a relevância de reunir múltiplos olhares sobre o Brasil em um painel contemporâneo e, em muitos casos, surpreendente. Montar retratos do pensamento como esse estão entre as missões do jornalismo profissional", afirma Sérgio Dávila, diretor de Redação da Folha.

"Além disso, a iniciativa é uma demonstração de que parcerias de veículos da imprensa, como a Folha, com universidades e empresas podem ser bem-sucedidas", diz ele.

Como representantes do jornal, participaram da comissão Letícia Carvalho, gerente geral de marketing, Ana Paula Duarte, analista de projetos, e Naief Haddad, repórter especial.

Saiba como foram definidos os 200 livros

Acompanhe o passo a passo do projeto 200 anos, 200 livros para chegar à lista final de obras para entender o Brasil

  1. Conselho curador

    Há pouco mais de um ano, uma comissão formada por profissionais da Folha, Projeto República (núcleo de pesquisas da UFMG) e Associação Portugal Brasil 200 Anos iniciou discussões para escolher um extenso grupo, que formaria o conselho curador do projeto;

  2. Diversidade

    O objetivo era convidar figuras de renome em diferentes áreas profissionais, desde que exercessem algum tipo de atividade intelectual. Também foi contemplada uma variedade de raças e gêneros. Do ponto de vista geográfico, a comissão priorizou brasileiros, considerando as cinco regiões do país, mas também foram chamados conselheiros de Portugal, Moçambique e Angola;

  3. Sem políticos

    Pessoas com cargos políticos não foram convidadas, com exceção de Randolfe Rodrigues, presidente da Comissão do Bicentenário da Independência do Brasil do Senado Federal;

  4. Indicação e justificativa

    Definidos os curadores, a comissão pediu que indicassem ao menos três livros importantes para compreender o Brasil e uma justificativa para cada obra —uma pequena parte dos conselheiros sugeriu quatro ou mais livros;

  5. 169 conselheiros

    Ao longo de 2021, a comissão recebeu sugestões de 169 curadores;

  6. Publicação como critério

    Apenas livros —de ficção ou não-ficção— foram contabilizados para a lista final. Letras de música não foram levadas em conta, a não ser que estivessem publicadas em livro, caso de “Sobrevivendo no Inferno”, dos Racionais;

  7. Exclusão

    Também foi desconsiderada a indicação quando o conselheiro recomendou um livro da sua própria autoria ou que tenha sido organizado por ele;

  8. Língua portuguesa

    Foram excluídos ainda livros que não tenham sido publicados em língua portuguesa;

  9. Total de obras

    Ao fim dessa primeira e mais longa etapa do projeto, no término de 2021, a comissão havia recebido dos curadores sugestões de 366 obras;

  10. Compondo a lista

    Todos os livros que receberam pelo menos duas indicações entraram na lista final. Mesmo com a inclusão dessas obras, faltavam dezenas de sugestões para alcançar a meta de 200 livros;

  11. Segunda etapa

    Para a tarefa de avaliar apenas os livros que receberam uma única recomendação, a comissão escolheu quatro nomes em fevereiro deste ano. Wander Melo Miranda, professor emérito da Faculdade de Letras da UFMG, e o crítico literário e apresentador do programa “Arte 1 ComTexto”, Manuel da Costa Pinto, analisaram as obras de ficção; Heloisa Starling, coordenadora do Projeto República e professora do departamento de história da UFMG, e Naief Haddad, repórter especial da Folha, avaliaram os livros de não-ficção;

  12. Demais critérios

    Essas quatro pessoas —que, vale reforçar, avaliaram apenas os livros com uma indicação— se guiaram por critérios como: obras que tenham estabelecido um padrão de reflexão sobre o país; livros que buscaram um relato do passado brasileiro e que, de alguma forma, dialoguem com o presente; obras que se tornaram referência na imaginação cultural do país;

  13. Referências

    Alguns livros foram usados como referência para subsidiar a formulação dos critérios: - "Sete Lições sobre as Interpretações do Brasil" (ed. Alameda, 2011), de Bernardo Ricupero -"Intérpretes do Brasil: Clássicos, Rebeldes e Renegados" (Boitempo, 2014), organização de Luiz Bernardo Pericás e Lincoln Secco -"Comunidades Imaginadas" (Companhia das Letras, 2008), de Benedict Anderson. Em especial, o prefácio de Lília Schwartz -"Os Nossos Antepassados" (Companhia das Letras, 2014), de Ítalo Calvino

  14. Enfim, 200

    No último mês de abril, a comissão chegou, enfim, à lista final dos 200 livros para entender o Brasil, divulgada nesta edição;

  15. Ordem alfabética

    No caso dos livros com o mesmo número de indicações, a sequência obedeceu à ordem alfabética

Erramos: o texto foi alterado

O título do livro de Maria Sylvia de Carvalho Franco é "Homens Livres na Ordem Escravocrata", e não "Homens Livres na Sociedade Escravocrata". O verbete sobre "Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil", de Jean-Baptiste Debret, saiu sem o número de páginas - são 652. O livro "Olinda Restaurada", de Evaldo Cabral de Mello, não está fora de catálogo, como publicado. A obra é editada pelo selo Penguin, da Companhia das Letras, e compõe o primeiro volume da caixa A Guerra Holandesa. O texto foi corrigido.

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