Descrição de chapéu Eleições 2022

Campanhas não querem remover fake news, mas aparecer na mídia, diz advogado

Diretor do InternetLab conversou com jornalistas da Folha sobre papel da internet nas eleições

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São Paulo

Entre 2018 e 2022, muita coisa mudou no cenário político digital. Se a eleição de quatro anos atrás foi marcada pela atuação frenética do bolsonarismo nas redes, o momento atual vê outros setores do espectro partidário entrando na corrida eleitoral nos rincões da internet brasileira.

Para Camila Mattoso, diretora da sucursal da Folha em Brasília, uma das principais inovações em relação ao pleito anterior vem sendo chamada de "Carluxo do bem" ou "Zambelli do Lula": é o deputado André Janones (Avante-MG). "Ele vem para fazer um pouco do que os bolsonaristas fizeram em 2018", diz Mattoso.

À direita, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em caminhada na rua Augusta com Fernando Haddad (Mathilde Missioneiro/Folhapress); à esquerda, o presidente Jair Bolsonaro (PL) em motociata pelas ruas da capital paulista(Adriano Vizoni/Folhapress) .

Ela e Patrícia Campos Mello, repórter especial da Folha, conversaram nesta quinta (6) com Francisco Brito Cruz, diretor do InternetLab, sobre o papel da internet nas eleições e a influência das redes sociais no debate político, numa live que faz parte da programação especial que a TV Folha realiza ao longo desta semana sobre as eleições 2022.

Para Mattoso, ainda que Janones tenha feito diferença na corrida eleitoral petista, ele chegou quando a campanha já estava em andamento e teve de enfrentar uma hierarquia petista que nem sempre é simpática a abordagens mais heterodoxas nas redes sociais.

"Acho que ele convenceu os petistas, mas, na minha avaliação, [a campanha petista] está longe de chegar ao patamar dos bolsonaristas." Do lado do atual presidente, Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) segue sendo o cabeça da campanha na internet. O que há de diferente em relação a 2018 são as pressões que atuam sobre esta campanha, uma vez que há uma atuação mais forte e mais abrangente das agências de checagem.

"A questão da desinformação está muito mais judicializada nesta eleição do que em 2018. Os partidos estão entrando com representação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para tudo", diz Patrícia Campos Mello.

Para o diretor do InternetLab, "na campanha anterior não estava tão claro, mas agora está muito claro que o papel dessas ordens judiciais não é, definitivamente, remover o conteúdo da internet. É ganhar um ciclo de notícias a favor de quem pediu a remoção, é de conseguir a notícia de que o Tribunal Superior Eleitoral determinou a remoção daquele conteúdo porque ele é falso".

Um alvo recorrente de desinformação foi o próprio processo eleitoral. Nesse contexto, o próprio TSE acaba se vendo tragado pela tempestade de desinformação online, o que não se via tanto nos anos anteriores

"Em várias decisões do TSE, eles tiveram que atuar quase como uma agência de checagem de informação", diz Mattoso.

"Quem critica o processo eleitoral, especialmente o lado dos apoiadores do presidente Bolsonaro, critica mais quando tem a sensação de que está mais atrás", diz Francisco Brito Cruz. Por isso, o resultado do primeiro turno, que mostrou a força do bolsonarismo, coloca em xeque a tese da fraude eleitoral, afirma.

Patrícia Campos Mello concorda que isso tira pressão de se contestar o resultado da eleição, "mas as pessoas nem sempre são racionais", diz. Para provar seu ponto, ela lembra o caso de políticos americanos que, mesmo tendo sido eleitos, continuaram a contestar a derrota de Donald Trump.

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