Folha lança documentário sobre cidades fantasmas criadas após rompimento de barragens em MG

Oito anos depois da tragédia em Mariana, 'Fantasmas da Lama' acompanha a realocação de atingidos

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São Paulo

Enquanto famílias atingidas pelo desastre de Mariana (MG) lutam há oito anos por reparação integral, a área ocupada pela mineração avança na região. Remoções por riscos de novos deslizamentos em barragens criam cidades fantasmas e exilam moradores de seus lares.

Esses são temas de Fantasmas da Lama, novo documentário da Folha lançado neste domingo (5) no YouTube.

Assista ao documentário:

Bento Rodrigues, subdistrito de Mariana, foi o primeiro local a ser atingido, em 5 de novembro de 2015, pelos 40 milhões de metros cúbicos de rejeitos de mineração da Samarco —empresa formada por uma sociedade entre as gigantes Vale e BHP Billiton.

Símbolo de uma das maiores tragédias ambientais do mundo, o rompimento em Mariana não foi um caso isolado no Brasil. Outra barragem da Vale, em Brumadinho (MG), estourou em janeiro de 2019 matando 270 pessoas. Não houve punições criminais em nenhum dos casos.

Oito anos depois da tragédia em Mariana, a Folha voltou ao local para acompanhar a o processo de reparação - ainda em curso - de moradores atingidos pelo mar de lama e rejeitos tóxicos. Também registrou o abandono daqueles que não conseguiram firmar acordos de realocação com as mineradoras, ficando sozinhos em uma cidade abandonada. O filme também acompanha a conclusão das obras do reassentamento de Novo Bento Rodrigues, construído para receber aqueles que aceitaram o trato de reparação e que está, atualmente, em seu estágio final de construção.

Enquanto as famílias de Mariana ainda lutam por reparação justa, a área ocupada pela mineração avança pelo estado e continua gerando impactos diretos para a população.

Organizações de atingidos cunharam o termo "terrorismo de barragem" para abarcar a atuação das empresas. O risco seria usado como pressão para remoções, facilitando as ações de mineração. A dependência econômica da região com a mineração colabora com este processo.

"Quem diminui ou aumenta o risco é a própria empresa. Uma autodeclaração de uma empresa que a gente não tem confiança é algo muito frágil", ressalta o ambientalista Ronald Guerra, um dos líderes do Instituto Guaicuy, organização sem fins lucrativas que atua no apoio dos atingidos pela lama e pelos deslocamentos.

A evolução dos reassentamentos é lenta. Além da incerteza das famílias de que terão chances de resgatar sua comunidade e modos de vida, também há demora para a entrega de algumas residências. Outras foram construídas em terrenos diferentes dos originais, modificando os hábitos e modos de vida da população.

"Perdemos o espaço onde fomos nascidos e criados, a memória. Tudo", diz o aposentado Marcos Muniz, 59, antigo morador de Bento Rodrigues.

Ao menos 58 pessoas só de Bento Rodrigues já faleceram antes de ver suas casas novas, segundo relatos de atingidos.

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