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24/02/2011 - 13h56

Faroeste no Meio Oeste

LUCAS MENDES
DA BBC BRASIL

De um lado, os empregados estaduais sindicalizados de Wisconsin, berço do movimento progressista americano.

Do outro a Câmara e o Senado estaduais republicanos e o governador Scott Walker, recém eleito.

Os sindicatos defendem o direito de negociar em bloco e cobrar mensalidades dos membros.

O governador e as maiorias republicanas na Câmara e Senado estaduais querem derrubar estes direitos adquiridos há 50 anos.

É fácil simpatizar com os professores, mas é difícil simpatizar com os sindicatos porque eles têm pensões e garantias melhores do que nós do setor privado, e nós pagamos impostos para sustentar as vantagens deles.

É fácil simpatizar com o governador e com os republicanos que se elegeram com a promessa quebrar os sindicatos.

Se ganharam porque não levam? Afinal, é a vontade do povo.

Até a Grande Recessão, os governadores empurravam os déficits com a barriga, faziam concessões aos sindicatos e contavam com o apoio deles ao partido Democrata nas eleições seguintes.

Nas últimas eleições os republicanos arrasaram os democratas e o estado de Wisconsin, no meio-oeste americano, é a praça Tahrir dos sindicalistas, e os professores são os primeiros no paredão.

Em Wisconsin, eles ganham, em média, US$ 55 mil por ano, têm pensões generosas, se aposentam aos 53 anos. Dentro da média americana.

Diante da proposta de lei do governador, os professores, com apoio dos universitários, entraram em greve, ocuparam a ' assembleia Tahrir' e apelidaram o governador de Scott Mubarak.

Para evitar quorum numa votação que certamente perderiam, os senadores estaduais fugiram para um estado vizinho. Os deputados democratas não comparecem as sessões da Câmara.

Os sindicatos fizeram as principais concessões que o governador exigiu: pagar maiores percentagens das pensões e dos seguros de saúde - mas ele não quer feridos neste duelo, só mortos. O funeral dos sindicatos dos empregados estaduais de Wisconsin, onde nasceram.

Os duelos já se espalharam para Indiana e Ohio. Outros governadores republicanos estão em cima do muro. O fogo republicano pode sair pela culatra.

A simpatia pela causa do governador era maior até ele cair no trote de um radialista que ligou como se fosse um dos seus grandes contribuintes da campanha. Ingênuo, admitiu barbaridades.

Estados não podem falir, mas alguns, como a Califórnia, estariam melhores falidos, em condições de negociar com os credores.

Cidades podem falir como quase aconteceu com Nova York em 75. Agora, Chicago, Filadélfia e outras grandes cidades estão de olho na pequena Prichard, no Alabama talvez o novo modelo da tragédia urbana.

Nas décadas de 60 e 70, Prichard foi a cidade que mais cresceu no Estado. A população chegou a 45 mil habitantes.

Com a recessão de 80 começou a encolher. Hoje tem 27 mil habitantes, a maioria negra, na fossa e, 144 deles, na fome.

Dependiam da pensão municipal que faliu em julho de 2009. Desde então, nenhum aposentado recebe um cheque que, em média, seria de US$ 1 mil. Pagavam comida e remédios. E olhe lá!

A dívida da cidade é de US$ 2,5 milhões e já perdeu duas causas na justiça. Aposentado que pagou tem direito a receber e ponto final, decisão dos juízes.

Entre os lesados estão o primeiro negro do corpo de bombeiros, a primeira mulher na polícia e Hugh Dawsett, que tem uma artrite devastadora.

A mulher, de 73 anos, voltou a trabalhar. O chefe de polícia, capitão Charles Kennedy, é o policial mais condecorado na história de Prichard. Tem um problema cardíaco grave: 'Pare de trabalhar já', foi a ordem do médico mas não obedeceu porque vai cair na mesma situação dos 144 que não recebem pensão. Para que aposentar, sem aposentadoria?

O tempo está a favor da cidade falida e devedora. Os credores são velhos e 17 deles já morreram. Enquanto segurar o debate nos tribunais e empurrar com a barriga, outros vão morrer e os cofres da cidade vão ter dinheiro para pagar a conta.

Matar um velho para pagar outro, capitabalismo sexagenário.

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