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24/02/2011 - 13h17

Confrontos em Zawiyah matam ao menos dez, diz imprensa líbia

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DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

Ao menos dez pessoas morreram e dezenas ficaram feridas nesta quinta-feira durante a ação das tropas do governo líbio para dispersar a rebelião na cidade de Zawiyah, a oeste de Trípoli, segundo balanço provisório divulgado por um jornal local. A cidade foi palco de confrontos que, segundo o ditador do país, Muammar Gaddafi, afirmou à emissora de TV estatal, não passam de "farsa".

O novo discurso do ditador líbio ocorre no mesmo dia em que unidades do Exército e mercenários leais a ele revidaram contra manifestantes antirregime, atacando uma mesquita onde muitos haviam procurado refúgio e um pequeno aeroporto regional.

Os ataques objetivam acabar com a rebelião, que já chegou perto ao bastião de Gaddafi na capital, Trípoli. Os opositores já conseguiram tomar o controle de quase toda a metade leste do território líbio e algumas cidades do oeste, mas a repressão cobra suas vítimas: ao menos 640 pessoas morreram na Líbia desde 14 de fevereiro, segundo a Federação Internacional para os Direitos Humanos (FIDH).

Goran Tomasevic/Reuters
Homem segura rifle enquanto celebra no topo de um tanque do Exército blindado na cidade líbia de Shahat
Homem segura rifle enquanto celebra no topo de um tanque do Exército blindado na cidade líbia de Shahat

O número representa mais que o dobro do balanço oficial do governo líbio de 300 mortos. A FIDH menciona 275 mortos em Trípoli e 230 na cidade de Benghazi, epicentro dos protestos.

Em Zawiyah, 50 quilômetros a oeste de Trípoli, uma unidade do Exército atacou uma mesquita onde manifestantes vinham acampando dentro e do lado de foram por diversos dias, pedindo a renúncia de Gaddafi. Os soldados abriram fogo com armas automáticas e atingiram o minarete do prédio com mísseis antiaéreos.

Segundo uma testemunha, houve mortes, mas era impossível dizer o número exato. Ele disse que, um dia antes, um enviado de Gaddafi havia ido à cidade e alertado os manifestantes: "Ou vocês saem ou irão ver um massacre". Zawiyah é uma importante cidade localizada nas proximidades de refinarias de petróleo.

"O que está acontecendo é horrível, aqueles que nos atacaram não eram mercenários, são filhos do nosso país", disse a testemunha, completando que, após o ataque, milhares dirigiram-se à principal praça da cidade gritando "saia, saia", em referência à Gaddafi.

"As pessoas vieram para enviar uma mensagem clara: não estamos com medo da morte ou de suas balas. Esse regime irá se arrepender disso. A história não irá perdoá-los."

No entanto, durante seu segundo discurso em menos de uma semana, Gaddafi afirmou que os relatos sobre Zawiyah são uma farsa. "Homens sãos não entram em tal farsa", disse o ditador. "Vocês em Zawiyah esconderam Bin Laden", afirmou. "Eles [os homens de Bin Laden] lhes deram drogas."

O ditador líbio disse que a revolta popular na Líbia pelo fim de seu regime de quase 42 anos não é liderada pelo povo, e sim pela rede terrorista Al Qaeda cujo líder, Osama bin Laden, está enganando os jovens que saem às ruas para "destruir" e "sabotar".

"Bin Laden [...] é o inimigo que está manipulando o povo", afirmou Gaddafi por telefone. "Não sejam persuadidos por Bin Laden."

Como no discurso realizado na última terça-feira, o ditador líbio pediu para que os "irmãos e mães" peçam a seus irmãos e filhos que voltem para casa, porque 'a normalidade deve voltar ao país".

Segundo ele, os manifestantes agem sob o efeito de drogas e álcool.

Gaddafi afirmou que a Líbia não é como o Egito e a Tunísia --que, após dias de protestos, conseguiram derrubar seus ditadores. "Aqui o poder está em suas mãos, é um sistema diferente", afirmou. "Se você quiser mudar o governo, a escolha é sua."

O ditador defendeu novamente que os manifestantes devem ser punidos e levadas a julgamento. "Isso é inaceitável, é inacreditável."

Goran Tomasevic/Reuters
Líbio mostra cratera causada pelo que seria um míssel jogado pela Força Aérea em aeroporto de Al Abrak
Líbio mostra cratera causada pelo que seria um míssel jogado pela Força Aérea em aeroporto de Al Abrak

No discurso, Gaddafi pediu para que a população líbia vá às ruas do país e tomem as armas dos manifestantes, que agora controlam uma grande parte do país. "A Constituição é muito clara: tomem as armas deles."

"Eu só tenho autoridade moral", afirmou. Gaddafi tradicionalmente tenta se apresentar como líder de uma revolução que é liderada pelo povo, ao invés de um tradicional mandatário.

MISRATA

Outro ataque desta quinta-feira ocorreu em um pequeno aeroporto próximo à Misrata, a terceira maior cidade líbia, onde opositores assumiram o controle na quarta-feira. Nesta quinta, mercenários atacaram moradores que estavam protegendo o aeroporto, abrindo fogo com granadas e morteiros, segundo uma pessoa que assistiu ao ataque.

"Eles deixaram pilhas de restos humanos e um pântano de sangue", afirmou. "Os hospitais estão lotados com os mortos e feridos", completou, sem dar número exato de vítimas.

Antes do ataque terminar, antes do meio-dia, outro morador de Misrata afirmou que a rádio local --agora nas mãos da oposição-- pediu à população que marchasse até o aeroporto em apoio aos manifestantes.

As duas testemunhas afirmaram que os rebeldes continuam controlando a cidade, localizada 200 quilômetros a leste de Trípoli. Eles --assim como outras testemunhas na Líbia-- falaram sob condição de anonimato por temor de represálias.

A repressão de Gaddafi, até agora, tem ajudado o ditador a manter o controle em Trípoli, uma cidade que tem um terço dos 6 milhões de habitantes da Líbia. mas a revolta dos manifestantes, apoiados por unidades militares que desertaram e se juntaram a eles, tem dividido o país e ameaçado jogá-lo em uma guerra civil.

AFP
TV mostra carros queimados em Trípoli; Gaddafi diz que rebelião no país é comandada pela Al Qaeda
TV mostra carros queimados em Trípoli; Gaddafi diz que rebelião no país é comandada pela Al Qaeda
 

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